Será que um simples artigo de opinião pode ser irritante o suficiente para provocar uma piora na situação dos neurônios do leitor?| Foto: Pixabay

Será que a ciência, que nos trouxe tantas bênçãos, também poderá nos ajudar a resolver disputas sobre a liberdade de expressão nas universidades? 

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A professora de psicologia Lisa Feldman Barrett, da Northeastern University, acha que sim. Ela argumentou no “New York Times” que a ciência “pode oferecer orientação empírica quanto aos tipos de discurso controverso que devem ou não ser aceitáveis nos campi e na sociedade civil”. Ela não comprova sua alegação, e esse fato cria perigos que ela aparentemente ignora. 

Barrett escreve que a ciência já provou que discursos “abusivos” prejudicam o corpo do ouvinte, especialmente seu cérebro, e devem portanto ser considerados uma forma de violência. Mas ela também demonstrou que o discurso “meramente ofensivo” não exerce esse efeito. Portanto, as universidades deveriam deixar Charles Murray se manifestar, já que ele oferece “uma hipótese erudita a ser debatida”, mas não é “um provocador e disseminador de ódio, como Milo Yiannopoulos”. 

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Não estou muito familiarizado com o trabalho deste último, mas parece correto, com certeza, que um discurso de Murray (colega meu no think tank American Enterprise Institute) teria chances muito maiores de gerar uma discussão inteligente. 

As universidades e as organizações universitárias deveriam levar esse fato em conta quando decidem quem convidar para dar palestras. Se é apenas isso que Lisa Barrett quer deixar claro, ela não precisa evocar a ciência. Deve bastar uma reflexão sobre a missão das universidades. 

Os dados científicos que ela cita não ajudam realmente com a defesa de seus argumentos. A avaliação que ela faz de Murray e Yiannopoulos pode ser correta, mas não é evidentemente científica. É difícil entender de que modo ela conseguiria superar esse problema. 

Imagino que as universidades poderiam promover ensaios nos quais amostras randomizadas de estudantes de graduação fossem expostas a potenciais palestrantes, sendo depois realizadas comparações da estrutura fina de seus cérebros antes e depois das palestras. Mesmo assim, talvez fosse preciso levar em conta que os cérebros de alguns estudantes de graduação são mais suscetíveis a danos que os de outros. 

Mas a coisa não se limita a isso. As afirmações factuais que Barrett faz enfraquecem sua conclusão. Ela destaca que é o “estresse crônico” que afeta o cérebro e o sistema nervoso: “Se você passa muito tempo em um ambiente inóspito, preocupando-se com sua segurança, esse é o tipo de estresse que desencadeia doenças e modifica o cérebro.” Isso parece um argumento a favor, e não contra, de que seja tolerado uma palestra isolada de Milos Yiannopoulos. 

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Barrett tampouco leva em conta o fato de que as razões que ela apresenta para que se mantenha discursos abusivos longe das universidades são mais abrangentes que seu objetivo. Se qualquer coisa que provoca “períodos extensos de estresse de baixo nível” é violência, então um professor com fama de ser exigente na hora de dar notas pode ser visto como responsável por problemas. A mesma coisa se aplicaria a engenheiros de trânsito, planejadores de casamentos e os gerentes de banco que concedem financiamentos imobiliários. 

Por falar nisso, será que um simples artigo de opinião pode ser irritante o suficiente para provocar uma piora na situação dos neurônios do leitor? Se sim, esse artigo também poderia ser descrito como “literalmente violência”? Talvez seja hora de um cidadão qualquer dar ordem de prisão ao autor.

*Ponnuru é colunista do Bloomberg View

Tradução de Clara Allain