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“Não forcei ninguém a se vacinar”, diz Justin Trudeau, mas declarações anteriores o desmentem

Justin Trudeau, Canadá
Justin Trudeau, primeiro-ministro do Canadá, com esposa Sophie em visita ao México, janeiro de 2023. Trudeau nega ter forçado vacinação contra Covid-19, mas ameaçou "consequências" a quem recusasse vacina sem motivo médico e apoiou empresas com vacinação obrigatória. (Foto: EFE/Isaac Esquivel)

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O primeiro-ministro canadense Justin Trudeau disse nesta segunda (24), em um evento na Universidade de Ottawa, que não forçou ninguém a se vacinar contra Covid-19, mas que, em vez disso, escolheu durante a pandemia incentivos e proteções que estimulassem os canadenses a se vacinarem voluntariamente. Ele estava na companhia do presidente alemão Frank-Walter Stenmeier, em visita de três dias ao Canadá. Ambos falaram aos universitários sobre democracia e responderam a perguntas.

Após reconhecer que as vacinas contra Covid têm efeitos colaterais em potencial, e que algumas pessoas adoeceram após as doses, ele afirmou que muitas mais morreram por não terem se vacinado. “Indivíduos têm permissão para fazer as próprias escolhas”, acrescentou Trudeau. “Pode haver muitos motivos para uma pessoa ficar hesitante a se vacinar. Mas eu faço uma distinção, sempre fiz, entre uma pessoa decidir por razões pessoais não se vacinar e uma pessoa usar desinformação deliberadamente para enganar e amedrontar outras pessoas a fazer uma escolha que ameaça as suas vidas e as vidas de outros cidadãos”.

Mas a distinção parece feita de última hora, já que, em agosto de 2021, quando em campanha para uma eleição antecipada que ele chamou dois anos antes do fim de seu mandato, o político disse que haveria “consequências” para os indivíduos que optassem por não se vacinar sem “motivo médico legítimo”. Logo, ao contrário do que faz parecer agora, Trudeau não aceitava que motivos pessoais fossem suficientes para recusar a vacina. Na mesma época, seu governo lançou um programa de vacinação obrigatória para os funcionários públicos do Canadá.

Naquela campanha de reeleição, Justin Trudeau, nas palavras da emissora estatal CBC, “empurrou a vacinação obrigatória para a frente do debate eleitoral”. Em setembro de 2021, ele disse que ajudaria empresas que fossem alvo de funcionários descontentes com a vacinação e máscaras obrigatórias. “Dissemos simplesmente que estaremos lá para defender essas empresas conforme elas fazem a coisa certa”, declarou à época. Ele propôs usar o Departamento de Justiça do governo para proteger essas empresas contra process judiciais.

“Trudeau ressaltou que esta eleição é uma escolha entre um governo que exigirá vacinação obrigatória por pessoas a partir dos 12 anos de idade que viajem em aviões, trens e navios de cruzeiro e um governo chefiado pelo líder conservador Erin O’Toole que seguiria um regime voluntário”, explicou a CBC.

O caso dos caminhoneiros

No fim de janeiro de 2022, após uma semana circulando pelo território canadense, um grupo de caminhões chegou à capital Ottawa. Era o início do “Comboio da Liberdade”, um protesto contra a vacinação obrigatória e outras medidas autoritárias durante a pandemia. Milhares de pessoas participaram, mais de 120 mil doaram dinheiro para os manifestantes no site GoFundMe. “Queremos ser livres, queremos ter escolha mais uma vez, e queremos esperança — coisas que o governo tirou de nós”, disse o caminhoneiro Harold Jonker à BBC quando o comboio chegou à cidade.

Justin Trudeau reagiu de forma crescente em uso de autoridade ao protesto. Primeiro, disse que eram apenas “uma pequena minoria marginal”, se recusando a conversar com os líderes do protesto. Ele os acusou de assediar os moradores de Ottawa e de empunhar “símbolos de ódio”, além de perturbar a economia e a democracia. Em fevereiro, o primeiro-ministro invocou pela primeira vez a Lei de Emergências, criada em 1988, para acabar com o protesto.

A lei concedeu poderes excepcionais ao governo federal que foram usados para desbaratar a manifestação. “Trata-se de manter os canadenses seguros, proteger os empregos das pessoas e restaurar a fé em nossas instituições”, justificou-se o premiê em coletiva de imprensa à época.

A versão anterior dessa lei, de nome Lei de Medidas de Guerra, havia sido invocada apenas pelo pai de Justin, o premiê Pierre Trudeau, nos anos 1970 contra separatistas de Quebec que sequestraram um ministro de uma província e um diplomata britânico.

Além de serem alvo da ira do primeiro-ministro atual, os manifestantes também tiveram as doações bloqueadas pelo GoFundMe, tiveram decisões judiciais impostas sobre eles e até contas bancárias bloqueadas.

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