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Opinião

Não se deixe enganar: crianças não nascem transgêneros

Crianças não devem ser estimuladas a fazer a “transição” para o sexo oposto, segundo a Associação Norte-Americana de Psicologia (Imagem: Pixabay)
Crianças não devem ser estimuladas a fazer a “transição” para o sexo oposto, segundo a Associação Norte-Americana de Psicologia (Imagem: Pixabay) (Foto: )

Pessoas que buscam uma identidade transsexual não nasceram assim e crianças não devem ser estimuladas a fazer a “transição” para o sexo oposto. Quem diz é uma obra de referência recomendada pela Associação Norte-Americana de Psicologia (APA, na sigla em inglês).

Ainda assim, todos os dias ouço algum pai me dizer que o terapeuta de seu filho, depois de uma ou duas consultas, recomendou enfaticamente que o pai permitisse que o filho mudasse de nome, passasse a usar outros pronomes, vivesse como se fosse do sexo oposto e se submetesse a intervenções médicas irreversíveis.

Laura Haynes, psicóloga na Califórnia, recentemente analisou um manual de sexualidade e psicologia da APA, dando destaque a suas descobertas sobre crianças transgêneros. Entre essas descobertas, lê-se na página 744 do volume 1:

  • “A disforia de gênero em crianças persiste até a adolescência ou a idade adulta em no máximo um a cada quatro casos”, sendo que a maioria desses meninos mais tarde se identifica como gay, não como transgêneros, e até metade das meninas se identificam como lésbicas, não como transgêneros.
  • “A transição social precoce (isto é, mudança de papel sexual, como matricular um menino como sendo menina na escola) deve ser abordada com cuidado a fim de não eliminar precocemente esse estágio do desenvolvimento da identidade de gênero”.
  • “A transição social precoce pode ser necessária para alguns; mas se descobriu que o estresse associado a uma possível mudança de ideia é significativo”.

Ainda assim, somos enganados por afirmações distorcidas em contrário por parte de defensores da mudança de sexo, que insistem em dizer que a ciência é conclusiva a respeito do assunto. Eles dizem que pessoas que se identificam com o sexo oposto jamais mudarão de ideia, que a identidade transexual é permanente e que o quanto antes a criança, adolescente ou adulto se afirmar como alguém do gênero oposto e fizer a transição melhor isso será para ele ou ela.

A verdade, contudo, é que tanto a APA quanto as provas históricas questionam essas afirmações. O prefácio do Manual de Sexualidade e Psicologia da APA, publicado em 2014, diz que ele é endossado e aprovado pela associação, que descreve a si mesma como “a maior organização científica e profissional a representar a psicologia nos Estados Unidos e a maior associação de psicólogos do mundo”.

Eu passei por uma operação de mudança de sexo em abril de 1983. Não podia imaginar, na época, que hoje estaria aqui falando do assunto nem que as provas contrárias à ideia de que “nasci assim” começariam a ser questionadas ainda em 1979, quatro anos antes de eu ser mutilado.

Em 1979, o endocrinologista Charles L. Ihlenfeld fez soar um alarme sobre o uso de hormônios e procedimentos cirúrgicos em transgêneros em palestras para um grupo de médicos. Ihlenfeld havia administrado terapia hormonal durante seis anos para uma amostra de 500 adultos que se identificavam como trans.

Ihlenfeld, que é gay, disse aos médicos que “80% das pessoas que querem mudar de sexo não deveriam fazê-lo”. O desejo de mudar de sexo, disse ele, “provavelmente surge a partir de fatores psicológicos – provavelmente de experiências vividas nos primeiros dezoito meses de vida”.

As críticas feitas por Ihlenfeld há quarenta anos se antecipam às provas exibidas no Manual da APA que, na página 743 do primeiro volume, diz que a identificação com o sexo oposto “provavelmente é o resultado de uma interação complexa entre fatores biológicos e ambientais”.

“Pesquisas sobre a influência familiar na dinâmica descobriram certa base na ansiedade da separação entre meninos em desconformidade com o próprio gênero e psicopatologias entre as mães”, acrescenta o texto.

Ihlenfeld e a APA, separados por gerações, chegaram a uma conclusão semelhante: o desejo de mudar de sexo provavelmente surge por causa de experiências na infância e por fatores psicológicos.

Quanto à validade e eficiência do uso de hormônios sexuais e de cirurgias de mudança de sexo para tratar a disforia de gênero, não há provas conclusivas.

No Reino Unido, a Aggressive Research Intelligence Facility da Universidade de Birmingham conduziu uma análise, em 2004, de cem estudos médicos internacionais sobre transexuais depois de operados. A análise “não encontrou prova conclusiva de que operações de mudança de sexo podem melhorar a vida dos transexuais”.

Além disso, as provas demonstraram que um transsexual, depois de se submeter à cirurgia de mudança de sexo, “permanece gravemente perturbado ao ponto de cometer suicídio”.

O professor Carl Heneghan, da Universidade de Oxford, é uma das novas vozes a questionar o uso de hormônios em crianças e adolescentes. Heneghan é editor-chefe do respeitado periódico médico britânico BMJ Evidence-Based Medicine.

Em 25 de fevereiro deste ano, Heneghan e um colega pesquisador relataram problemas graves relacionados à forma como as provas são coletadas e analisadas. Eles concluíram:

Os tratamentos para crianças e adolescentes menores de 18 anos com disforia de gênero ainda são experimentais. Ainda há muitas perguntas sem respostas, como a melhor idade para dar início ao tratamento, a possibilidade de reversão, os efeitos colaterais, os efeitos de longo prazo na saúde mental, a qualidade de vida, a densidade óssea, a osteoporose na velhice e problemas cognitivos.

Assim, as descobertas negativas se acumulam e, por outro lado, soam alarmes quanto à falta de provas no que diz respeito à eficiência e segurança dos tratamentos. Ainda assim, a administração desnecessária de hormônios e a reconfiguração corporal por meio de cirurgias de mudança de sexo continuam sendo realizadas sem temor por uma comunidade médica surda.

Sinto que estou ao lado da estrada, gritando para avisar os motoristas: “A ponte caiu! A ponte caiu!” Pois eu sei bem – eu caí no precipício e ainda sofro por causa disso, trinta e cinco anos mais tarde.

O Manual de Sexualidade e Psicologia da APA, mais uma vez, diz que transgêneros não nascem assim, que a identificação com o sexo oposto pode mudar e que a maioria das crianças desiste de querer trocar de sexo se não se submete à transição social.

Estranhamente, as comunidades médica e psicoterapeuta não se atêm às próprias provas e parecem ignorar o caráter experimental dos procedimentos que estão conduzindo em vidas reais, sobretudo em crianças.

Os defensores da mudança de sexo dizem que “a afirmação é a única solução”. Eles usam uma doutrina distorcida para fazer pressão pela aprovação de leis que punem psicólogos e pais que dizem o contrário e que tiram os direitos dos pacientes de escolher seus próprios objetivos terapêuticos.

Organizações como a The Trevor Project estão fazendo pressão em todos os cinquenta estados para proibir qualquer terapia que sugira que o interesse pela mudança de sexo pode mudar com a idade.

Enquanto isso, relatos como esses de famílias e vidas destruídas pela mudança de sexo surgem em meu e-mail todos os dias. Compilei trinta histórias dentre as que recebi, juntamente com pesquisas recentes sobre o assunto, no meu livro “Trans Life Survivors” (“Sobreviventes da vida trans”, em tradução livre).

Devemos acordar e usar as provas exibidas pelo Manual da APA para contra-argumentar aqueles que dizem que pessoas trans nascem assim. Ao mesmo tempo, temos de lutar pelo direito dos pacientes de escolherem seus objetivos terapêuticos e contra leis que dizem que a autoafirmação é a única terapia permitida.

Tradução de Paulo Polzonoff Jr.

©2019 The Daily Signal. Publicado com permissão. Original em inglês.

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