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Patrick T. Brown, um climatologista que chefia uma equipe de estudos de clima e energia no Breakthrough Institute, uma entidade não-governamental californiana de pesquisa em meio ambiente, confessou que usou o alarmismo climático para poder publicar na revista Nature um artigo técnico a respeito de queimadas.
Em artigo de opinião publicado na publicação de centro The Free Press no início do mês (5), Brown explica que, assim como a imprensa exagera a importância causal do aquecimento global sobre as queimadas, ele fez o mesmo em sua publicação técnica de 30 de agosto na prestigiosa revista científica porque sabia que as chances de sucesso em passar pelo crivo aumentariam se “se encaixasse numa história simples que beneficia à pessoa que a conta”.
“Enquanto as mudanças climáticas são um fator importante afetando as queimadas em muitas partes do mundo”, detalha o cientista, “não é nem de longe o único fator que merece nosso foco”. O ajuste da pesquisa não foi uma fraude, mas uma omissão: “eu sabia que não deveria tentar quantificar aspectos importantes além das mudanças climáticas na minha pesquisa porque isso diluiria a história que revistas como a Nature e sua rival Science querem contar”.
Brown acredita que é de importância crucial para os cientistas publicar em revistas de prestígio como essas, pois elas atuam como catraca para adentrar carreiras nas universidades. Os editores dessas revistas “deixaram muito claro, tanto pelo que publicam quanto pelo que rejeitam, que querem artigos climáticos que apoiem certas narrativas pré-aprovadas”, mesmo que elas tenham o custo de prejudicar o conhecimento completo. Para ele, a climatologia tem deixado de agir como ciência para virar uma Cassandra, figura mitológica que fazia previsões catastróficas.
Há incentivos perversos atuando nessa direção, como o carreirismo acadêmico. Há hoje seis vezes mais doutores nos Estados Unidos do que há meio século. O clima de competição acirrada no mercado acadêmico favorece os propagandistas acima dos que fazem pesquisa mais lenta e de maior qualidade. Há também o efeito da politização: a tribo política que abraçou o alarmismo climático é a dominante nas universidades, e essas revistas, como mostrou a Gazeta do Povo, têm cedido a modas ideológicas com frequência.
O artigo técnico de Brown, que conta com sete outros autores, trata do “comportamento extremo” das queimadas. Entre os fatores adicionais ao aquecimento global, foram deixados de lado propositalmente o manejo florestal — a remoção ou queimada controlada de excesso de árvores para reduzir lenha para queimadas generalizadas — e a quantidade de queimadas iniciadas por seres humanos, que é de 80% nos Estados Unidos.
Esse tipo de apresentação estreita do fenômeno “é a norma em artigos científicos de destaque”. O climatologista comenta outro artigo técnico para exemplificar essa afirmação, também da Nature. Na publicação, os dois maiores impactos do aquecimento global na sociedade mensurados são as mortes por causa do calor extremo e o prejuízo à agricultura. O que os autores não mencionam é que as mortes por calor têm caído e são inferiores ao número de mortes por frio e que a produção agrícola vem crescendo apesar das mudanças climáticas.
Patrick Brown não está sozinho. Judith Curry, climatologista com décadas de experiência e mais de 25 mil citações no Google Acadêmico, deixou a academia e denunciou a politização da própria área em um depoimento ao Congresso americano em 2015.
Repercussão
A editora da revista Nature, Magdalena Skipper, reagiu ao artigo de denúncia de Brown em nota. “Em se tratando de ciência, a Nature não tem uma narrativa preferida. Agora estamos considerando com cuidado as implicações das ações declaradas por ele”. Ela apontou para outros artigos da revista que contradizem “uma narrativa simples sobre as mudanças climáticas”. Um dos artigos trata de como o planejamento urbano afeta o dano trazido pelas queimadas.
Daniel Swain, climatologista da Universidade da Califórnia em Los Angeles que estuda queimadas, reagiu no X (antigo Twitter) dizendo que, no lugar de Brown, simplesmente teria se recusado a publicar uma análise se sentisse pressão da revista para “se encaixar em uma narrativa”.
Ao Washington Post, Brown disse que “não vejo muitos artigos na Nature que tratem do acúmulo [natural] de lenha e como ele contribui para as queimadas no ocidente”. Esses artigos não existem, “não por causa de sua legitimidade, mas por causa da ênfase nas mudanças climáticas”, opinou. Ele declarou, contudo, que se sente mal se seu artigo de opinião causou constrangimento a seus coautores.
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