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Todos os pais sabem que não se deve ceder aos caprichos das criancinhas. E Neil Young — que minha colega Alexandra DeSanctis Marr descreveu como “alguém que não me lembro de ter ouvido até ele anunciar que não queria estar na mesma plataforma de Joe Rogan — é uma criancinha. Ele entende a realidade como uma criancinha e, também como uma criancinha, espera que suas exigências resultem em ações imediatas. Se você ceder a uma birra, pode esperar por outra. Young tem 76 anos e não faz parte do debate público há 30. Agora ele está se divertindo. Pessoas que não têm idade para terem declarado voto em George McGovern [candidato à Presidência dos EUA em 1972] estão prestando atenção ao que ele tem a dizer.
Agora Young começou a dizer para as pessoas não usarem os bancos. “Pare de apoiar os bancos que contribuem para a destruição em massa do planeta Terra por combustíveis fósseis”, diz o roqueiro em seu website, incentivando as pessoas a tirarem seu dinheiro do JP Morgan Chase, Citigroup, Bank of America e Wells Fargo, quatro dos maiores bancos dos Estados Unidos. “Junte-se a mim e tire seu dinheiro das mãos dos que causam danos, do contrário sem querer você será um deles”, diz Young.
Mas por que parar por aí? Claro que praticamente todos os bancos, de acordo com Young, estão envolvidos de uma forma ou de outra com os combustíveis fósseis, assim como todas as empresas de combustíveis fósseis ou que usam combustíveis fósseis, o que quer dizer praticamente todas as empresas do mundo. Young bem que poderia dar uma olhada, por exemplo, nas empresas que fabricam discos de vinil ou CDs: ambos feitos de petróleo. Assim como muitos que promovem boicotes, a consequência lógica para Young seria boicotar a si mesmo.
Ainda que a ideia de Young de que as pessoas deveriam guardar o dinheiro sob o colchão seja ridícula, ela não é mais ridícula do que a briga dele com o Spotify. Por isso o Spotify deveria ter simplesmente negado as exigências dos que querem transformar a plataforma num espaço ideologicamente seguro. A empresa deveria ter adotado o poder do “não”.
Quando plataformas de alcance vasto e que pretendiam atender a um amplo espectro de demandas como o Spotify começam a dizer que não seriam “inclusivas” ou “diversas” ou “seguras” se continuassem abrigando tudo o que alguém considerar questionável, elas se submetem a um veto que, na prática, dá força à multidão e incentiva mais exigências. O Spotify deveria ter ignorado Young quando teve a oportunidade. A mais recente demanda dele é uma bobagem tão grande que espero que não ganhe muita publicidade nem surta qualquer efeito. Quanto mais ridículo Young parecer, pior será a imagem do Spotify por ceder às birras dele.
Kyle Smith é membro do National Review Institute e crítico na National Review.