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Opinião

Nem a esquerda nem a direita têm a solução para a doença dos EUA

A saída pelo nacionalismo, proposta tanto por Trump quanto por Warren, significa a submissão dos norte-americanos ao poder centralizador de Washington. (Foto: Pixabay)

Os Estados Unidos estão doentes. Quase todo mundo percebe isso e não precisamos de dois outros tiroteios em massa para convencermos alguém de qualquer coisa. A maioria dos norte-americanos acha que o país está no rumo errado, apesar da pujante economia. Você pode culpar Donald Trump, mas os norte-americanos andam insatisfeitos com os rumos do país já faz umas duas décadas.

Incrivelmente, levando em conta o nível de animosidade partidária no país, os dois lados veem o problema da mesma forma: o país está assolado pelo individualismo, alienação, ódios de vários tipos, desigualdade e falta de solidariedade social. Mais estranho ainda é que tanto a direita quanto a esquerda têm soluções bastante parecidas para esses problemas.

E ambas estão erradas.

Por parte da direita, cada vez mais os intelectuais veem o nacionalismo como a cura para todos os males que nos afligem. Christopher DeMuth, do Hudson Institute, argumenta que o nacionalismo é uma ideia que voltou à tona porque nos lembra “de como dependemos uns dos outros”. Ele associa isso aos “Grandes Despertares” religiosos do passado. A escritor católico Sohrab Ahmari quer um despertar que ofereça “ordem”, “coesão social” e políticas voltadas para o “Bem Maior” – no sentido filosófico clássico (summum bonum).

Por parte da esquerda, ouça com atenção os proselitistas do novo despertar socialista. Você perceberá que isso tem menos a ver com economia e mais com um desejo por uma alternativa mais cooperativa e igualitária ao capitalismo egoísta, impulsionada não pelo nacionalismo, mas pelo governo – que é “a única coisa a que pertencemos”, de acordo com um vídeo da Convenção Democrata de 2012.

O vocabulário que eles usam é diferente, mas o confronto subjacente ao status quo é incrivelmente semelhante. O nacionalismo é uma obscenidade para a esquerda e o socialismo é anátema para a direita, mas um espírito nacionalista e centralizador contamina os dois lados.

O “nacionalismo econômico” de Trump tem em si ecos do “patriotismo econômico” da senadora Elizabeth Warren, que fala com uma paixão quase trumpista quando se manifesta sobre como o “sistema está corrompido”. Vários aspirantes a sucessores de Trump dentro do Partido Republicano, tendo o senador Josh Hawley à frente, parecem despertos para evocar uma nova diretriz industrial fomentada pelo “Estado-papai” e voltada para os direitistas.

Como conservador com inclinações liberais clássicas, considero essa nova convergência entre esquerda e direita como algo desanimador e preocupante. Mas isso não quer dizer que eles não têm razão ao dizerem que há algo de muito errado com o país. Basta que você olhe as estatísticas crescentes no número de suicídios, mortes por opiáceos, queda na expectativa de vida e, claro, a sequência de tiroteios em massa para perceber a condição desesperadora dos Estados Unidos. Uma pesquisa recente descobriu que mais de 20% dos millenials dizem não ter amigos – um sinal claro da crise de solidão que provavelmente tem tanto a ver com os tiroteios em massa quanto a ideia de uma supremacia branca ou os videogames.

O que não entendo é dizerem que a solução para esses males está em Washington ou nos movimentos nacionalista à esquerda ou direita.

Diálogo nacional

Um dos motivos que explicam porque as redes sociais são tão tóxicas é o fato de elas serem uma força nacionalista. Elas fazem com que sintamos que estranhos a milhares de quilômetros de distância são vizinhos – e ficamos furiosos quando vizinhos estão vivendo da forma “errada”. Os canais noticiosos a cabo fazem a mesma coisa, só que com uma produção melhor, usando histórias anedóticas e incluindo-as num “diálogo nacional”. O problema é que esse diálogo nacional na verdade não existe.

Precisamos de comunidades, e a ideia de uma comunidade nacional é um mito. O diálogo é feito cara a cara e de pessoa para pessoa, assim como uma comunidade.

A nacionalização da cultura estimula o governo centralizado, e o governo centralizado priva as comunidades da dependência mútua. Ele transforma o exuberante ecossistema entre indivíduo e Estado em algo obsoleto, embora seja nesse habitat que os seres humanos realmente vivem e encontram sentido para suas vidas.

Os movimentos nacionalistas buscam preencher o vazio criado pelo declínio ou desaparecimento não apenas dos pontos de trabalho na indústria, mas também das comunidades saudáveis que cresciam ao redor das fábricas.

O governo tem um papel a exercer no que diz respeito aos desafios da globalização e automação, mas esses movimentos não podem preencher o vazio em nossas almas. E os sinais de que os dois lados estão loucos para testar essa ideia só aumentam a aposta para o outro lado. É assim que o nacionalismo estimular a polarização radical. Quando cada uma das tribos tenta impor um “Bem Maior” único a todos os norte-americanos, a crença paranoica de que “tudo o que mais amamos” está em risco nas urnas se dissemina.

E, para alguns, às vezes as urnas dão lugar às balas.

Jonah Goldberg ocupa a cadeira Asness de Liberdade Aplicada no American Enterprise Institute.

© 2019 National Review. Publicado com permissão. Original em inglês

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