Uma das baterias do Domo de Ferro, sistema de defesa israelense| Foto: Amit Agronov / Israeli Defense Forces / Wiki Commons
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O alcance dos ataques do Hamas contra Israel, iniciados no dia 7 de outubro, levantou questões em todo o mundo a respeito da eficiência dos sistemas de segurança do país, em especial, do Iron Dome, o Domo de Ferro. Reconhecido mundialmente como uma barreira antiaérea quase inexpugnável, a destruição causada pelos foguetes e morteiros disparados pelos terroristas, apesar do sistema, geraram surpresa e indignação em todo o mundo.

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O major Eduardo Costa, que é oficial de artilharia do Exército Brasileiro, com especialização em artilharia antiaérea, afirma que, mesmo diante da destruição causada, o sistema não falhou. O que houve foi uma sobrecarga devido ao número massivo de foguetes e morteiros lançados pelo Hamas.

“Todo e qualquer equipamento tem uma capacidade. O Domo de Ferro é como um goleiro em um jogo de futebol: ele tem uma capacidade de defesa e se você colocar dez cobradores de pênaltis simultaneamente alguém vai fazer um gol. Nenhum sistema de defesa tem uma capacidade infinita e foi isso que aconteceu no caso do Domo nesse ataque do Hamas”, disse.

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O major afirma que o sistema funcionou dentro de sua capacidade e que, não fosse ele, os danos teriam sido ainda maiores. “O Hamas mudou sua tática. Antes, eles faziam ataques pequenos e pontuais, agora fizeram um grande ataque que, no longo prazo, é insustentável. Eles devem ter guardado armamentos por anos para fazer isso, mas não é viável mantê-lo”, explicou.

Além do poder destrutivo, outro objetivo do grupo terrorista seria justamente a perda de credibilidade na tecnologia. “O Domo é muito efetivo, mas um ataque como esse abala sua credibilidade e isso pressiona o governo e a defesa do país, pois faz com que as pessoas se sintam inseguras”.

O que é o Domo de Ferro 

O Iron Dome é um sistema de defesa antiaérea móvel, implantado em várias partes do país para combater ataques de foguetes, morteiros, projéteis de artilharia e veículos aéreos não tripulados (UAVs) de curto alcance.

O sistema tem a capacidade de identificar e destruir esses projéteis antes de atingirem o território israelense, com raio de ação de 150 quilômetros quadrados. Atualmente, é reconhecido como um dos sistemas mais eficazes do mundo – segundo as Forças de Defesa de Israel (IDF) a eficiência do Domo é de 90%.

Cada bateria antiaérea é composta por três componentes: uma unidade de radar de detecção e rastreamento; um centro de controle e um lançador que comporta e dispara os mísseis Tamir. Cada lançador contém 20 mísseis que, após disparados, recebem detalhamento e atualizações contínuas do centro de controle e do radar para abater os foguetes inimigos.

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Assim, quando um morteiro é disparado em direção a Israel, o radar identifica sua trajetória de entrada. As informações são enviadas e avaliadas pelo sistema de controle de armas, responsável por realizar os cálculos rápidos e complexos para detectar toda sua trajetória, velocidade e alvo esperado.

Caso o foguete esteja direcionado para uma área povoada ou um estabelecimento estratégico, o lançador dispara automaticamente o míssil Tamir e o foguete é destruído no ar para neutralizar a ameaça, de preferência, em sua trajetória ascendente – evitando que os estilhaços causem danos no território alvo.

Cada bateria tem entre três e quatro lançadores, sendo que Israel possui cerca de dez baterias ao todo – uma capacidade de interceptar até 800 foguetes e morteiros simultâneos. O valor de cada bateria é estimado em US$ 50 milhões [R$ 254 milhões, na cotação atual].

Infográficos Gazeta do Povo[Clique para ampliar]

Produção israelense 

Em 2006, o grupo terrorista Hezbollah disparou milhares de foguetes para atacar a região norte de Israel, o que causou a morte de diversas pessoas. Foi quando o país resolveu desenvolver seu próprio sistema de defesa aérea adaptado às necessidades locais.

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O Domo de Ferro é produzido por três empresas israelenses: a Elta [Companhia de Radar de Israel] que produz os radares; a mPrest Systems [empresa privada] que fabrica a centro de controle e o software de gerenciamento; e a Rafael Advanced Defense Systems [companhia de defesa israelense] que produz o lançador.

As primeiras baterias do Iron Dome foram instaladas em 2011. Já em 2012, durante um conflito com o próprio Hamas, na fronteira sul, o sistema abateu 85% dos 400 foguetes disparados da Faixa de Gaza em direção a áreas civis e estratégicas. Em ataques posteriores, sua efetividade alcançou os 90%.

Sensação falsa de segurança 

“A partir do sucesso obtido pelo Domo, a forma como a mídia, o governo e todos passaram a chamar o sistema dava a impressão de que era inviolável e de que a população estava em total segurança, o que não é verdade”, disse Marco Túlio Freitas, especialista em Iron Dome e doutorando do Programa de Pós-graduação em Ciências Militares da Escola de Comando e Estado-Maior do Exército (ECEME).

Freitas afirma que o sucesso do Domo e a crescente divulgação pela imprensa e o próprio governo de que ele seria um escudo indestrutível para Israel fez com que a população se sentisse segura, a ponto de não mais se esconder nos bunkers quando alguns sinais sonoros [disparados quando foguetes e morteiros que podem atingir o território são identificados] soavam.

Algumas regiões próximas das baterias do Domo de Ferro chegaram a ver o declínio no valor dos aluguéis, já que as residências passaram a ter menos itens de segurança. “Houve uma redução na contratação de seguros residenciais desde que o sistema entrou em operação, o que demonstra a sensação de confiança e a calmaria que o Domo trouxe para a população”, diz.

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Concentração das baterias na fronteira norte 

No entanto, grande parte dessas baterias estão instaladas no norte do país, para defesa da fronteira com o Líbano contra as ofensivas do Hezbollah. Na fronteira sul, onde ocorreu o ataque do Hamas, há bem menos baterias. “A parte sul da fronteira é mais porosa, a presença do Domo de Ferro não é tão intensa nessa região”, disse Freitas.

Outro ponto importante é que elas estão voltadas para a defesa de cidades maiores e locais críticos, como hospitais, instalações energéticas e de combustível, mas nem sempre para os assentamentos e pequenas cidades, onde houve a entrada dos terroristas.

Além disso, em vários trechos da fronteira com a Faixa de Gaza, foi construída uma cerca que limita a passagem de palestinos e que também possui dispositivos sensíveis de segurança.

Freitas explica que toda a barreira é feita com alarmes ultrassensíveis, que soam a qualquer tentativa de invasão – o site The Free Press For the People [imprensa livre para as pessoas, em livre tradução] afirma que a cerca é capaz de emitir alertas caso se apoie uma escada nela.

Crescente pressão e estratégia do Hamas para driblar as barreiras 

Se, por um lado, o Domo de Ferro e as cercas trouxeram o sentimento de segurança para Israel, por outro, elevou as investidas dos terroristas do Hamas para encontrar uma forma de burlar essa barreira.

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De acordo com Freitas, a partir de 2014 ficou perceptível que há um atraso após o lançamento da segunda saraivada de mísseis realizada pelas baterias do Domo. “Por razões de segurança, Israel não fala sobre isso. Mas há um atraso após o lançamento dos mísseis. Eles disparam uma, duas e há uma brecha de tempo para seguir com a defesa”, afirma.

O conhecimento dessa brecha no sistema também pode ter sido aproveitado pelo Hamas, cuja estratégia foi o disparo de milhares de foguetes de forma simultânea – de acordo com o departamento de defesa de Israel, mais de 4,5 mil foguetes foram lançados contra o seu território durante o ataque.

A intensidade de foguetes e morteiros lançados justamente na localidade onde a cobertura do Domo é mais porosa causou sobrecarga e fez com que ataque sobrepujasse o sistema. Da mesma forma, por via terrestre, diversas incursões simultâneas foram feitas contra a cerca, fazendo com que essas forças de defesa também fossem excedidas pelos terroristas do Hamas.

Familiarizado com a fronteira norte com o Líbano, onde Israel construiu um muro de concreto, o major Costa afirma que as patrulhas reagem com prontidão diante de qualquer aproximação. “Eles têm drones, câmeras, sensores e o terreno também é minado. Eu não sei como funciona na fronteira sul, mas ao norte a resposta é bastante rápida”, explicou.

Ataques cibernéticos e infiltrações 

Em uma reportagem explicando a ofensiva do Hamas, o site The Free Press for the People elencou possíveis ataques cibernéticos que teriam “apagado” o poder de sensoriamento tanto do Dome quanto da cerca de Israel.

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Ainda que haja especulações sobre uma possível invasão ao sistema ou um ataque cibernético, Freitas afirma que esse não é o caso. O pesquisador explicou que as baterias não estão conectadas entre si, o que impossibilita um ataque em rede.

“Não é possível entrar no sistema do Iron Dome, quem fala isso, não sabe como é. Além de ter uma proteção cibernética muito grande, eles têm uma contenção de circuito – eles não são tão interligados quanto se pensa”.

Ainda segundo o site Free Press, outros fatores, como uma atitude mais tranquila em relação à Faixa de Gaza e um feriado judaico foram aproveitados para a organização e otimização do ataque.

Em 2005, Israel retirou seus assentamentos da faixa de Gaza e entregou os territórios à Autoridade Palestina, sob a égide de “Terra pela Paz”. A paz, contudo, nunca veio.

Em 2007, o Hamas assumiu o controle da região, após um conflito com a própria Autoridade Palestina. Desde então, tem impetrado grandes e pequenas ofensivas contra Israel de forma constante.

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Mesmo assim, no último ano, Israel concedeu mais de 15 mil vistos de trabalho para a população de Gaza – um salário mensal em solo israelense pode equivaler a quase um ano de rendimentos nos assentamentos palestinos. E essa política de paz pode ter trazido infiltrações que facilitaram os ataques.

Outro ponto destacado pelo site foi a data da ofensiva, realizada no feriado judaico do Sukkot, com duração de sete dias, quando soldados foram dispensados para estar com suas famílias e parte das tropas realocadas para o West Bank, a região da Cisjordânia, a fim de reforçar a defesa na área.

Somados os fatores – o menor número de baterias do Domo ao sul, sua capacidade de defesa, o lapso de tempo para o disparo de várias levas de mísseis e a redução no número de soldados na Faixa de Gaza –, há uma indicação de como a ofensiva de baixa tecnologia organizada pelo Hamas foi capaz de sobrepujar o até então inviolável sistema de defesa israelense.

“Toda tecnologia não é uma solução em si, ela é algo feito para um problema. Houve uma falha grave de sensoriamento, em diversos aspectos e diversos sentidos, que deve ser considerada”, afirma o professor Sandro Teixeira, doutor em Ciências Militares pela ECEME.

“Você pode burlar toda essa vigilância tecnológica, por exemplo, simplesmente usando um mensageiro verbal, ordens verbais, ordens escritas e você já consegue escapar dessa vigilância, se você se comportar como uma pessoa do passado.”

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