Uma espécie de “clichê instantâneo” vem marcando as declarações de políticos, acadêmicos e influenciadores de esquerda da América Latina desde o ataque do grupo extremista islâmico Hamas a Israel, no sábado (7). Seja em entrevistas, comunicados ou tuítes, o discurso dos ditos progressistas contém praticamente os mesmos elementos – tristeza pela morte de civis, defesa da paz na região, omissão do nome do grupo terrorista e lembrete do sofrimento do povo palestino.
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva, por exemplo, até usou o termo “terrorismo” em sua primeira nota sobre o conflito, mas não mencionou quem o cometeu. Seu amigo sandinista Daniel Ortega, ditador da Nicarágua, afirmou ser “sempre solidário com a causa palestina”.
Outro tirano latino, e também “chegado” de Lula, Nicolás Maduro, foi pelo mesmo caminho: “A escalada da violência é o resultado da incapacidade do povo palestino de encontrar um espaço na legalidade internacional multilateral para fazer valer os seus direitos históricos”, disse.
Uma parcela dos esquerdistas, no entanto, não se conteve e escancarou de vez seu repúdio à mera existência de um Estado israelense – e, por tabela, aos países que apoiam o povo judeu no Oriente Médio (começando pelos “demônios imperialistas” dos Estados Unidos).
Evo Morales, ex-presidente da Bolívia, agora tentando voltar ao poder, afirmou: "Não é possível que um governo da revolução democrática e cultural defenda a política invasora e expansionista de Israel. (...) Quando um povo defende a sua soberania, é chamado de terrorista. Mas quando os EUA financiam guerras, invasões armadas, golpes de Estado e assassinatos, fala de democracia”.
Celso Amorim, ex-chanceler e atual assessor especial para assuntos internacionais da Presidência da República, disse ao jornal Folha de S. Paulo que o ataque do Hamas “veio depois de anos e anos de tratamento discriminatório e de violências [por parte de Israel]”. E não custa lembrar: Amorim já assinou o prefácio de um livro sobre o lado “diplomático” do grupo terrorista.
Para Luciana Genro – filha do “petista raiz” Tarso Genro, ex-candidata à presidência da República e, no momento, deputada estadual pelo PSOL no Rio Grande do Sul –, Gaza é “a maior prisão a céu aberto do mundo” e “ilegal é o apartheid, o colonialismo e a limpeza étnica promovidos pelo regime israelense, que conta com o governo mais reacionário de sua história”.
Mas nenhum político do continente deu uma declaração tão radical, a ponto de beirar o nonsense, quanto o presidente da Colômbia, Gustavo Petro, que chamou os israelenses de “neonazistas”. “Se tivesse vivido na Alemanha em 1933, teria lutado ao lado dos judeus. E se tivesse vivido na Palestina em 1948, teria lutado ao lado dos palestinos. Agora os neonazistas querem a destruição do povo palestino, da liberdade e da cultura”, disse o ex-guerilheiro do grupo M-19.
Coincidência ou não, após a fala de Petro, vândalos encapuzados tocaram o horror na embaixada de Israel em Bogotá (queimaram a bandeira do país, desenharam a suástica em pilastras e cantaram, aos brados, músicas pró-Palestina). O embaixador israelense chegou a pedir ao governo colombiano uma postura de condenação ao ataque do Hamas, porém não foi atendido.
Influenciadores e acadêmicos acusam Israel de genocídio e racismo
No “andar de baixo”, contudo, é que a postura anti-Israel se revela ainda com mais força. Basta uma passeada rápida pelas redes sociais para encontrar todo tipo de barbaridade publicada por formadores de opinião e professores universitários esquerdistas.
Criador do portal de notícias Opera Mundi, um dos preferidos da turma “vermelha”, o jornalista Breno Altman tuitou: “O Estado terrorista de Israel declarou nova guerra colonial aos palestinos, atacando a Faixa de Gaza. A ação sionista merece repulsa e indignação. Toda solidariedade ao povo palestino e ao Hamas! O colonialismo israelense é inimigo dos povos”.
Também jornalista, André Fran (apresentador de programas nos canais GloboNews, Multishow e Futura) afirmou, na mesma rede social: “Esse ataque do Hamas deu ao governo mais extremista, cruel, racista e genocida da história de Israel o pretexto perfeito para fazer o que sabe melhor: massacrar palestinos inocentes. Preparem-se para cenas de terror nos próximos dias”.
Segundo Bruno Huberman, doutor em Relações Internacionais e professor da PUC-SP, “tanto o sionismo quanto o nazifascismo e o regime dos afrikaners se baseiam na defesa da supremacia branca”. Em entrevista ao já citado Opera Mundi, o pesquisador ainda disse que os EUA e Israel estão fomentando uma guerra civil na Palestina, entre os grupos Hamas e Fatah.
Para o historiador e influencer Jones Manoel, figura de proa da juventude neocomunista brasileira, quem considera Israel uma democracia é “racista”. “É um absurdo ético, político e sociológico chamar de democracia um regime político colonial e com apartheid. Israel, hoje, é o que de mais próximo existe no mundo com o apartheid na África do Sul, durante o século XX”, afirmou, em um vídeo postado no domingo (8).
Mais afiada, e empolgada, a antropóloga Francirosy Campos Barbosa, docente associada da Universidade de São Paulo, postou dezenas de mensagens contrárias ao Estado de Israel durante o fim de semana. De acordo com ela, adepta do islamismo, “cada povo luta com as armas que tem” e “isso tem um único culpado, o sionismo, que explora, mata, humilha os palestinos há décadas”.
Um dado curioso: Francirosy integra um grupo de trabalho, criado pelo governo federal, para combater o discurso de ódio e desestimular o extremismo no país. Lançado em fevereiro pelo ministro dos Direitos Humanos e da Cidadania, Silvio Almeida, o projeto é comandado pela ex-candidata comunista à presidência da República Manuela d’Ávila e conta com outros 23 representantes da sociedade civil (entre eles o youtuber Felipe Neto).
Por sinal, até a conclusão deste texto, Almeida ainda não havia dado sequer um pio sobre o ataque do Hamas.
Líderes latinos denunciaram “perseguição aos palestinos” na ONU
No último mês de setembro, durante a 78ª sessão da Assembleia Geral das Nações Unidas, em Nova York, os presidentes de quatro países da América do Sul, além do ditador de Cuba, fizeram discursos voltados para a defesa da Palestina. Em alguns desses pronunciamentos, o tom anti-Israel falou mais alto.
O chileno Gustavo Boric, conhecido por seu apoio ferrenho aos palestinos, incentivou todas as nações do mundo a “não permanecer em silêncio enquanto vê a ocupação ilegal da Palestina e sua impossibilidade de estabelecer um Estado”. Já o cubano Miguel Díaz-Canel criticou “as medidas arbitrárias e unilaterais impostas ao povo palestino, em detrimento da lei internacional”.
“Quanto à ocupação da Palestina por Israel, não podemos continuar a permitir o sofrimento do povo palestino. A crise em curso exige uma Organização das Nações Unidas que seja forte, coerente com os princípios, comprometida com a paz e que mantenha seu caráter intergovernamental, sem subordinar-se, contudo, a qualquer poder hegemônico, seja econômico, político ou militar”, afirmou o boliviano Luis Alberto Arce Catacora.
Lula, que durante o evento se encontrou com o presidente da autoridade palestina, Mahmoud Abbas, usou um tom de falsa neutralidade. “É perturbador ver que persistem antigas disputas não resolvidas e que surgem ou ganham vigor novas ameaças”, disse.
E o colombiano Gustavo Petro, mais uma vez, optou pela via mais extremista: “Aqueles que invadiram nossos países várias vezes são os mesmos que falam hoje em combater invasões. Se esquecem que, por petróleo, invadiram o Iraque, a Síria e a Líbia. Ignoram que as razões que alegam para defender a Ucrânia são as mesmas razões com as quais deveriam defender a Palestina”.
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