Gustavo Petro: para o presidente da Colômbia, os israelenses são “neonazistas” que querem querem “a destruição do povo palestino, da liberdade e da cultura”.| Foto: EFE/ Mauricio Dueñas Castañeda
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Uma espécie de “clichê instantâneo” vem marcando as declarações de políticos, acadêmicos e influenciadores de esquerda da América Latina desde o ataque do grupo extremista islâmico Hamas a Israel, no sábado (7). Seja em entrevistas, comunicados ou tuítes, o discurso dos ditos progressistas contém praticamente os mesmos elementos – tristeza pela morte de civis, defesa da paz na região, omissão do nome do grupo terrorista e lembrete do sofrimento do povo palestino.

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O presidente Luiz Inácio Lula da Silva, por exemplo, até usou o termo “terrorismo” em sua primeira nota sobre o conflito, mas não mencionou quem o cometeu. Seu amigo sandinista Daniel Ortega, ditador da Nicarágua, afirmou ser “sempre solidário com a causa palestina”.

Outro tirano latino, e também “chegado” de Lula, Nicolás Maduro, foi pelo mesmo caminho: “A escalada da violência é o resultado da incapacidade do povo palestino de encontrar um espaço na legalidade internacional multilateral para fazer valer os seus direitos históricos”, disse.

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Uma parcela dos esquerdistas, no entanto, não se conteve e escancarou de vez seu repúdio à mera existência de um Estado israelense – e, por tabela, aos países que apoiam o povo judeu no Oriente Médio (começando pelos “demônios imperialistas” dos Estados Unidos).

Evo Morales, ex-presidente da Bolívia, agora tentando voltar ao poder, afirmou: "Não é possível que um governo da revolução democrática e cultural defenda a política invasora e expansionista de Israel. (...) Quando um povo defende a sua soberania, é chamado de terrorista. Mas quando os EUA financiam guerras, invasões armadas, golpes de Estado e assassinatos, fala de democracia”.

Celso Amorim, ex-chanceler e atual assessor especial para assuntos internacionais da Presidência da República, disse ao jornal Folha de S. Paulo que o ataque do Hamas “veio depois de anos e anos de tratamento discriminatório e de violências [por parte de Israel]”. E não custa lembrar: Amorim já assinou o prefácio de um livro sobre o lado “diplomático” do grupo terrorista.

Para Luciana Genro – filha do “petista raiz” Tarso Genro, ex-candidata à presidência da República e, no momento, deputada estadual pelo PSOL no Rio Grande do Sul –, Gaza é “a maior prisão a céu aberto do mundo” e “ilegal é o apartheid, o colonialismo e a limpeza étnica promovidos pelo regime israelense, que conta com o governo mais reacionário de sua história”.

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Mas nenhum político do continente deu uma declaração tão radical, a ponto de beirar o nonsense, quanto o presidente da Colômbia, Gustavo Petro, que chamou os israelenses de “neonazistas”. “Se tivesse vivido na Alemanha em 1933, teria lutado ao lado dos judeus.  E se tivesse vivido na Palestina em 1948, teria lutado ao lado dos palestinos. Agora os neonazistas querem a destruição do povo palestino, da liberdade e da cultura”, disse o ex-guerilheiro do grupo M-19.

Coincidência ou não, após a fala de Petro, vândalos encapuzados tocaram o horror na embaixada de Israel em Bogotá (queimaram a bandeira do país, desenharam a suástica em pilastras e cantaram, aos brados, músicas pró-Palestina). O embaixador israelense chegou a pedir ao governo colombiano uma postura de condenação ao ataque do Hamas, porém não foi atendido.

Influenciadores e acadêmicos acusam Israel de genocídio e racismo 

No “andar de baixo”, contudo, é que a postura anti-Israel se revela ainda com mais força. Basta uma passeada rápida pelas redes sociais para encontrar todo tipo de barbaridade publicada por formadores de opinião e professores universitários esquerdistas.

Criador do portal de notícias Opera Mundi, um dos preferidos da turma “vermelha”, o jornalista Breno Altman tuitou: “O Estado terrorista de Israel declarou nova guerra colonial aos palestinos, atacando a Faixa de Gaza. A ação sionista merece repulsa e indignação. Toda solidariedade ao povo palestino e ao Hamas! O colonialismo israelense é inimigo dos povos”.

Também jornalista, André Fran (apresentador de programas nos canais GloboNews, Multishow e Futura) afirmou, na mesma rede social: “Esse ataque do Hamas deu ao governo mais extremista, cruel, racista e genocida da história de Israel o pretexto perfeito para fazer o que sabe melhor: massacrar palestinos inocentes. Preparem-se para cenas de terror nos próximos dias”.

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Segundo Bruno Huberman, doutor em Relações Internacionais e professor da PUC-SP, “tanto o sionismo quanto o nazifascismo e o regime dos afrikaners se baseiam na defesa da supremacia branca”. Em entrevista ao já citado Opera Mundi, o pesquisador ainda disse que os EUA e Israel estão fomentando uma guerra civil na Palestina, entre os grupos Hamas e Fatah.

Para o historiador e influencer Jones Manoel, figura de proa da juventude neocomunista brasileira, quem considera Israel uma democracia é “racista”. “É um absurdo ético, político e sociológico chamar de democracia um regime político colonial e com apartheid. Israel, hoje, é o que de mais próximo existe no mundo com o apartheid na África do Sul, durante o século XX”, afirmou, em um vídeo postado no domingo (8).

Mais afiada, e empolgada, a antropóloga Francirosy Campos Barbosa, docente associada da Universidade de São Paulo, postou dezenas de mensagens contrárias ao Estado de Israel durante o fim de semana. De acordo com ela, adepta do islamismo, “cada povo luta com as armas que tem” e “isso tem um único culpado, o sionismo, que explora, mata, humilha os palestinos há décadas”.

Um dado curioso: Francirosy integra um grupo de trabalho, criado pelo governo federal, para combater o discurso de ódio e desestimular o extremismo no país. Lançado em fevereiro pelo ministro dos Direitos Humanos e da Cidadania, Silvio Almeida, o projeto é comandado pela ex-candidata comunista à presidência da República Manuela d’Ávila e conta com outros 23 representantes da sociedade civil (entre eles o youtuber Felipe Neto).

Por sinal, até a conclusão deste texto, Almeida ainda não havia dado sequer um pio sobre o ataque do Hamas.

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Líderes latinos denunciaram “perseguição aos palestinos” na ONU 

No último mês de setembro, durante a 78ª sessão da Assembleia Geral das Nações Unidas, em Nova York, os presidentes de quatro países da América do Sul, além do ditador de Cuba, fizeram discursos voltados para a defesa da Palestina. Em alguns desses pronunciamentos, o tom anti-Israel falou mais alto.

O chileno Gustavo Boric, conhecido por seu apoio ferrenho aos palestinos, incentivou todas as nações do mundo a “não permanecer em silêncio enquanto vê a ocupação ilegal da Palestina e sua impossibilidade de estabelecer um Estado”. Já o cubano Miguel Díaz-Canel criticou “as medidas arbitrárias e unilaterais impostas ao povo palestino, em detrimento da lei internacional”.

“Quanto à ocupação da Palestina por Israel, não podemos continuar a permitir o sofrimento do povo palestino. A crise em curso exige uma Organização das Nações Unidas que seja forte, coerente com os princípios, comprometida com a paz e que mantenha seu caráter intergovernamental, sem subordinar-se, contudo, a qualquer poder hegemônico, seja econômico, político ou militar”, afirmou o boliviano Luis Alberto Arce Catacora.

Lula, que durante o evento se encontrou com o presidente da autoridade palestina, Mahmoud Abbas, usou um tom de falsa neutralidade. “É perturbador ver que persistem antigas disputas não resolvidas e que surgem ou ganham vigor novas ameaças”, disse.

E o colombiano Gustavo Petro, mais uma vez, optou pela via mais extremista: “Aqueles que invadiram nossos países várias vezes são os mesmos que falam hoje em combater invasões. Se esquecem que, por petróleo, invadiram o Iraque, a Síria e a Líbia. Ignoram que as razões que alegam para defender a Ucrânia são as mesmas razões com as quais deveriam defender a Palestina”.

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