Neste mês, o jornal New York Times trouxe aos leitores uma reportagem sobre a questão mais urgente de nosso tempo: como as "políticas urbanas preconceituosas" estão impactando as aves.
Publicado em meio às guerras em andamento na Faixa de Gaza e na Ucrânia, o texto explica "por que as [aves] toutinegras se dirigem aos bairros mais ricos".
A história começa com um estudo de 2020 da revista Science, "Consequências ecológicas e evolutivas do racismo sistêmico em ambientes urbanos".
O estudo, liderado por Christopher J. Schell, ecologista da Universidade da Califórnia, em Berkeley, "sintetizou o que alguns ecologistas urbanos ao redor do país começaram a demonstrar: que padrões de preconceito e desigualdade afetam como outras espécies experimentam a vida nas cidades".
Schell disse ao Times que buscou mostrar que a heterogeneidade urbana é "impulsionada por desigualdades sistêmicas", incluindo "opressão, segregação residencial, gentrificação e deslocamento, leis de zoneamento injustas, sem-teto, e assim por diante".
"Como agimos influencia o restante do mundo natural, assim como o mundo social."
A reportagem traz a explicação óbvia para as diferentes populações de aves: as variações nas cidades "incluem o número de parques e árvores de rua em diferentes bairros, se uma rodovia ou linha férrea atravessou uma comunidade ou se uma refinaria de petróleo lançou toxinas no ar".
O novo tópico é resultado de ecologistas urbanos incorporando a justiça ambiental ao estudo da conservação da biodiversidade.
A Agência de Proteção Ambiental dos EUA define justiça ambiental como "o tratamento justo e a participação significativa de todas as pessoas, independentemente de raça, cor, origem nacional ou renda, no que diz respeito ao desenvolvimento, implementação e aplicação de leis, regulamentos e políticas ambientais".
No início deste ano, o presidente dos EUA, Joe Biden, assinou uma ordem executiva orientando todas as agências federais a tornar sua "missão" trabalhar rumo à "justiça ambiental para todos". A ordem criou um Escritório de Justiça Ambiental na Casa Branca.
A ordem visa "proteger melhor as comunidades sobrecarregadas pela poluição e danos ambientais". Alega que "o racismo é um impulsionador fundamental da injustiça ambiental", de acordo com a Casa Branca.
"Muitas vezes, os interesses de outras espécies e de humanos marginalizados se alinham", disse Madhusudan Katti, ecologista da Universidade Estadual da Carolina do Norte, ao New York Times. "É uma perspectiva muito colonial pensar em humanos e vida selvagem como separados. Precisamos começar a pensar em humanos e vida selvagem juntos na paisagem e mitigar coisas que ajudarão ambos."
O artigo discute a suposta conexão entre o redlining [N.t. trata-se da negação de serviços a potenciais clientes residentes em bairros com ampla porcentagem de minorias e pessoas de baixa renda, classificados como "perigosos" ao investimento] e a diversidade de aves.
Eric M. Wood, ornitólogo e ecologista urbano da Universidade Estadual da Califórnia, em Los Angeles, e do Museu de História Natural do Condado de Los Angeles, descobriu que os bairros "predominantemente brancos" em Los Angeles que eram "arborizados" frequentemente abrigavam uma "maior abundância de pássaros que geralmente vivem em florestas, como toutinegras, corruíras e azulões.
Wood comparou Beverly Hills a Boyle Heights, um bairro em grande parte hispânico que "aparece como uma grande mancha vermelha no mapa HOLC [sigla em inglês para Corporação de Empréstimos para Proprietários de Imóveis] e tem muito menos árvores e espaços verdes."
"Há muitas dessas aves que requerem insetos para sua sobrevivência, e elas vão para um lugar como Beverly Hills, porque há árvores e flores", disse ele.
Assim, o Times dedicou um artigo inteiro para lembrar aos leitores que as aves tendem a viver em bairros que têm mais árvores. E por que a diversidade da população local de aves importa para os moradores desses bairros sem árvores, que presumivelmente têm problemas mais urgentes? Não, não de forma específica; as aves são apenas mais uma lente através da qual as desigualdades sociais podem ser vistas:
"Essas paisagens diferentes claramente importam para as aves. Mas é importante para as pessoas saber se elas compartilham seus bairros com um corvo comum em vez de uma toutinegra de costas amarelas? 'O ponto é que há tantas diferenças' entre comunidades como Beverly Hills e Boyle Heights, disse o Dr. Wood. As aves eram 'um indicador dessas condições mais amplas que são efetivamente ruins para as pessoas'."
Uma solução proposta para o suposto problema é abordar a "desigualdade na observação da vida selvagem". Em outras palavras, os moradores desses bairros de baixa renda devem abraçar os interesses das pessoas ricas que mantêm a observação de aves e a diversidade, equidade e inclusão nas notícias. Incomodado com a má administração de seu bairro? Saia e observe pássaros!
Isso mesmo: esta não é a primeira vez que a diversidade, equidade e inclusão chegam ao mundo da observação de aves. Em 2020, pouco depois de um confronto entre um observador de pássaros negro e uma mulher branca no Central Park se tornar notícia internacional, a Associated Press publicou um artigo empolgado sobre o flagelo do racismo sistêmico na comunidade de observadores de aves. A CNN entrou na discussão com um artigo intitulado "As vida real de um observador de pássaros negro".
Mais recentemente, a Sociedade Ornitológica Americana (AOS, na sigla em inglês) anunciou que eliminará nomes de aves relacionados a humanos, depois que alguns ativistas reclamaram que algumas aves eram nomeadas em homenagem a indivíduos ligados ao racismo e à escravidão.
"Poderíamos decidir agora que as palavras que usamos importam e que as aves deveriam carregar sua própria história, não a nossa", defendeu um artigo de opinião no Washington Post em agosto de 2020.
© 2023 National Review. Publicado com permissão. Original em inglês: The New York Times Reminds Readers That Birds Suffer from Racism, Too
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