A Nike está novamente no centro de uma controvérsia envolvendo um de seus produtos e seu garoto-propaganda, o ex-jogador de futebol americano Colin Kaepernick. O produto em questão é um tênis “patriótico” que exibe nos calcanhares a primeira versão da bandeira norte-americana. O lançamento do tênis, chamado Air Max 1 USA, foi cancelado depois de o ex-atleta se manifestar dizendo que a bandeira era ofensiva.
A bandeira em questão é a chamada “Betsy Ross”. Ela teria sido confeccionada por Elizabeth Griscom Ross logo depois da Revolução Americana – uma versão contestada pelos historiadores contemporâneos. Ross pode não ter desenhado a bandeira, mas foi a responsável por trocar as antigas estrelas de seis pontas por estrelas de cinco pontas.
A bandeira, com as tradicionais listras vermelhas e brancas e as estrelas dispostas num círculo, simbolizando as 13 colônias norte-americanas originais, foi substituída em 1795 por uma bandeira com 15 estrelas – a famosa Star Spangled Banner, que também dá nome ao hino norte-americano. A partir daí, a bandeira dos Estados Unidos passou por várias mudanças para incorporar os territórios que viraram estados, até chegar à sua configuração atual, com 50 estrelas.
O problema todo é que as 13 colônias norte-americanas originais eram escravagistas. E Kaepernick, que ficou famoso por se recusar a se levantar durante a execução do hino nacional norte-americano quando jogava futebol americano pelo San Francisco 49ers e que age como consultor informal para assuntos socialmente sensíveis da Nike, considerou isso uma ofensa. Ainda de acordo com Kaepernick, a bandeira histórica estaria sendo usada por supremacistas brancos.
A Betsy Ross, contudo, foi usada na cerimônia de posse do segundo mandato do ex-presidente Barack Obama, sem que isso causasse qualquer controvérsia.
Histórico de provocações
A Nike tem uma longa história, quase uma tradição mesmo, de se envolver em controvérsias sociais. Ao melhor estilo United Collors of Benetton dos anos 1990, a empresa, ainda em 1985, no auge da epidemia de AIDS nos Estados Unidos, a empresa fez um comercial com um maratonista soropositivo. A reação, como era de se prever mesmo naquela época pré-redes sociais, foi explosiva. Mas não desencorajaram os diretores de marketing da empresa a tocarem em temas sensíveis.
Pelo contrário. Dez anos mais tarde, a empresa fez um comercial que foi mal-recebido entre as feministas. Intitulado Se você me deixar praticar esportes, o anúncio dava a entender, de acordo com as críticas da época, que o esporte era uma cura para todos os males das mulheres. E o comercial realmente dizia que mulheres que praticavam esportes tinham até mais chances de fugir de relacionamentos abusivos.
Em 2017, a Nike lançou uma campanha voltada para muçulmanos a fim de promover sua linha de hijabs esportivos.
Enquanto no Ocidente ela se mostra socialmente sensível, do outro lado do mundo a empresa teme ferir a suscetibilidade do regime comunista chinês. No fim de junho de 2019, a Nike retirou das prateleiras um tênis feito em colaboração com a marca Undercover, cujo principal designer, Jun Takahashi, publicou um tuíte de apoio aos manifestantes de Hong Kong que protestam contra a interferência da China comunista. Não que Takahashi tenha publicado ofensas. Seu tuíte era simples e inofensivo: “Não à extradição. Força, Hong Kong!”.
De acordo com Kevin D. Williamson, correspondente da National Review, a Nike age menos por ideologia e mais por cálculo financeiro. Pesquisas recentes apontam que a marca encontra mais aceitação entre os mais jovens. E os mais jovens (representados pela Geração X e Millenials) tendem a apoiar gestos rebeldes como o de Kaepernick.
Reações
O presidente Donald Trump não se manifestou diretamente sobre o assunto, mas seu filho, Donald Trump Jr., escreveu um tuíte no qual dizia: “Se a Betsy Ross, a bandeira da Revolução Americana, é ofensiva demais para a Nike usar na celebração do 4 de Julho [dia da Independência dos EUA] talvez a Nike devesse usar isso... Parece mais de acordo com a visão deles”.
“Isso” se refere à imagem de um tênis vermelho e amarelo, no qual o símbolo da Nike faz as vezes de foice no conhecido ícone comunista da foice-e-martelo.
Reação mais importante veio do governador do Arizona, Doug Ducey, que disse que vai retirar os incentivos fiscais previamente acordados para a construção de uma fábrica da Nike no estado. Em pronunciamento ao periódico Daily Caller, Ducey disse que a economia do Arizona está indo bem e não precisa da Nike. “Não precisamos incentivar empresas que conscientemente denigrem a história do nosso país”, disse.
O senador republicano Ted Cruz, também pelo Twitter, se disse fã da marca de artigos esportivos, mas afirmou que, diante do posicionamento antipatriótico da Nike, deixará de comprar os produtos da empresa.
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