Suruba gay, fotos comprometedoras e disputa pela vice-presidência do Brasil. O roteiro bizarro veio à tona quando surgiu a história de que o presidente Jair Bolsonaro não escolheu o deputado federal Luiz Philippe de Orleans e Bragança (PSL-RJ) como vice pois existiria um dossiê com informações nada favoráveis ao “príncipe”. A história completa você acompanha aqui, mas não é disso que trata este texto.
Após a história vir a público, o deputado foi ironizado por várias personalidades da esquerda brasileira. A piada era a de que o Brasil não tem príncipe. O deputado Luiz Philippe de Orleans e Bragança (PSL-RJ) é descendente da família imperial brasileira, que foi apeada do poder com a proclamação da República, em 1889. De fato, apesar de ele ter o título de príncipe, na prática não é príncipe de nada, já que o Brasil não é uma monarquia.
Uma das piadistas de plantão foi a candidata a vice-presidente na chapa de Fernando Haddad, Manuela D’Ávila, filiada ao Partido Comunista do Brasil. Ela escreveu em seu twitter:
Estre trecho merece destaque: “Se você apoia príncipes… não curta o feriado!”
Pois não existe partido no Brasil que dê mais apoio a príncipes e que dê apoio à monarquia que o Partido Comunista do Brasil. Ao longo dos últimos anos, sempre que surgiu uma oportunidade, os comunistas brasileiros demonstraram um apreço enorme pela monarquia comunista da Coreia do Norte.
Apesar do país se chamar oficialmente República Popular Democrática da Coreia, nada tem de Popular (pelo menos um quarto de sua população é mantida prisioneira em campos de trabalho forçado), Democrática (risos) e República. Na prática, é uma sui generis monarquia comunista, onde o poder é transmitido de pai para filho desde que Kim il-Sung deixou a coroa para Kim Jong-il, que por sua vez passou para o atual ditador, Kim Jong-un, filho de um e neto do outro.
A monarquia norte-coreana se baseia num intenso culto à personalidade. Kim il-Sung ganhou o status de “Líder Eterno” após sua morte, em 1994. Kim Jong-il, que assumiu em seu lugar, virou o “Querido Líder”. O atual líder supremo (não é ironia, é assim mesmo que ele é chamado), Kim Jong-un, é chamado de “o Marechal”, uma forma de valorizar seu poder como chefe das Forças Armadas.
Quando Kim Jong-il morreu, em 2011, o PCdoB saudou o cadáver do reizinho comuna afirmando em um comunicado que ele defendeu “com dignidade as conquistas do socialismo em sua pátria”. O comunicado é uma pérola. “Temos a confiança de que o povo coreano e o Partido do Trabalho da Coreia irão superar este momento de dor e seguirão unidos para continuar a defender a independência da nação coreana frente às ameaças e ataques covardes do imperialismo.”
Mesmo quando, já sob o reinado de Kim Jong-un, a Coreia do Norte ameaçou lançar uma guerra nuclear, não faltou a palavra amiga do PCdoB. O partido publicou uma carta declarando “apoio irrestrito e absoluto” à monarquia norte-coreana “contra a coerção e as arbitrariedades do terrorismo dos EUA”. Por este trecho é possível notar o quão desregulada está a bússola moral do Partido Comunista do Brasil.
Nada como demonstrar apoio a um regime que “pega os fugitivos e enfia fios de arame através das bochechas e do nariz desses ‘traidores da nação’, que ousaram tentar abandonar a mãe-pátria. Logo que chegam a seu destino, eles são executados, e suas famílias são enviadas a campos de trabalhos forçados”, como conta o historiador francês Pierre Rigoulot no capítulo ‘Crimes, terror e segredo na Coreia do Norte’, do ‘Livro Negro do Comunismo’, de Stephane Courtois. É o mesmo regime que colocou uma bomba em um avião comercial repleto de civis em 1987, matando todos os 115 passageiros.
Não há dúvidas de que uma das coisas mais saudáveis em uma democracia é usar o humor para debochar de figuras que estão no poder. Zombar do “príncipe” brasileiro tem seu valor, mas é inócuo. Principalmente se o seu partido anda de mãos dadas com a monarquia mais mortífera do planeta.
No livro ‘Fuga do Campo 14’, Shin Dong-hyuk, sobrevivente dos campos de trabalho forçado da Coreia do Norte, conta os horrores da monarquia defendida pelos comunistas brasileiros. Lá, ele viu a mãe e o irmão serem assassinados na sua frente.
“Quando os guardas arrastaram sua mãe para a forca, Shin viu que ela parecia inchada. Eles a obrigaram a subir num caixote de madeira, amordaçaram-na, amarraram-lhe os braços atrás das costas e apertaram-lhe um laço em volta do pescoço. Não cobriram seus olhos inchados.
Quando os guardas empurraram o caixote, ela se sacudiu de um lado para outro, desesperadamente.
O irmão de Shin parecia macilento e frágil quando os guardas o amarraram ao poste de madeira. Eles dispararam três vezes os seus fuzis. Balas arrebentaram a corda que atava a testa do prisioneiro ao poste. Foi uma morte sangrenta, com miolos espalhados, um espetáculo que nauseou e amedrontou Shin."
Nem a Manuela D’Ávila vai conseguir fazer piada com isso. Ou vai?
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