Para garotas adolescentes vulneráveis no Japão, uma cultura de “encontros” com homens mais velhos
Encontros no ensino médio? Nada demais em muitos lugares do mundo – mas no Japão significa algo bem diferente.
Aqui, “encontros no ensino médio” juntam garotas em uniformes com homens nos seus 40 e 50 anos e mais. E há dinheiro trocando de mãos.
Às vezes isso envolve uma caminhada ao redor da quadra ou uma bebida em um bar. Mais frequentemente, envolve sexo – prostituição infantil com outro nome.
“É fácil falar com essas garotas”, disse um homem na casa dos 30 anos sentado em uma escrivaninha escolar no AKB High School, um café em Akihabara, uma região de Tóquio conhecida por suas subculturas. Uma garota de 17 anos em uniforme escolar trouxe cerveja bateu papo com o homem e um colega seu, ambos os quais se recusaram a dar seu nomes.
“Na verdade nós achamos bares regulares desinteressantes ultimamente”, ele disse. “Fiquei cansado de bares regulares com mulheres velhas.”
Eles admitiram que os uniformes são grande parte da atração. “Elas ficam tão bonitinhas”, disse seu amigo, na casa dos 40. “Os uniformes as deixam 150% mais bonitinhas do que realmente são.”
Negócio obscuro
Esse é o obscuro negócio de “encontros no ensino médio” do Japão, ou “JK”. (“Joshi kosei” significa “garota do ensino médio” em japonês, e as iniciais em inglês JK são universalmente usadas aqui para se referir à prática.)
Embora alguns cafés como esse sejam relativamente inocentes — aqueles que empregam garotas do ensino médio precisam fechar às 22h, o que significa que os homens não se atrasam demais para chegar em casa e estar com suas esposas — há uma grande parte desse mundo que não é.
Há vários níveis de encontros no ensino médio, começando com cafés em que trabalham garotas menores de idade e peep shows em que garotas do ensino médio sentam atrás de um vidro espelhado em seus uniformes escolares, posando de acordo com os pedidos dos clientes.
Também há “guiar um tour”, em que garotas dão uma caminhada com homens, uma caminhada que frequentemente termina com algum tipo de serviço sexual, e o direto “encontro remunerado” – ser paga por sexo.
Tráfico sexual
Kazue Muta, uma professora de sociologia e estudos de gênero na Universidade de Osaka, disse que o elemento do tabu torna garotas em uniformes escolares sexualmente atraentes para homens. “O Japão é uma sociedade patriarcal, e tem essa mentalidade de que as jovens e com aparência inocente são mais valiosas e mais sedutoras”, ela disse.
Em seu mais recente relatório sobre práticas internacionais de direitos humanos, o Departamento de Estado dos Estados Unidos expressou preocupações a respeito da exploração sexual infantil no Japão, dizendo que “encontros remunerados” em particular facilitam o tráfico sexual de crianças.
Alguns esforços têm sido feitos nos últimos anos para cercear o negócio, mas eles deram pouco resultado – em parte porque poucas pessoas o consideram um problema.
Yuki Aoyama, um fotógrafo conhecido por suas fotos “complexo de colegial”, disse que, da maneira como vê, é só um negócio.
“Há homens que querem passar tempo com garotas do ensino médio, e há garotas que querem ganhar dinheiro”, disse.
Patrulha
Uma das pessoas que está tentando fazer algo a respeito é Jun Tachibana, da ONG Bond Project, que tenta tirar as garotas das ruas e impedi-las de cair no negócio de JK.
Tachibana e dois colegas estavam patrulhando as ruas à noite recentemente na movimentada região ao redor de Shibuya, com suas ruas cheias de neon repletas de restaurantes baratos e lojas de fast fashion, procurando por garotas que poderiam estar com problemas.
“Oi”, disse Tachibana, abordando uma garota agachada com os ombros curvados e carregando duas sacolas em um movimentado ponto de encontro perto da saída da estação de trem de Shibuya. Ela tinha a aparência de uma garota que não queria voltar para casa naquela noite.
Tachibana a reconheceu como uma garota de 17 anos que eles tinham encontrado nessa região antes. “Por que você não vai para casa? Eu te deixo na estação”, ela disse, oferecendo companhia à garota até a plataforma. Mas a garota se recusou.
“Bem, ao menos fique em pé para não parecer tão vulnerável”, disse Tachibana.
“Essas garotas estão em situações difíceis — podem vir de uma família pobre ou ser sexualmente abusadas em casa — e acham difícil viver suas vidas”, disse Tachibana.
“Algumas dizem que são tão solitárias que querem morrer e desaparecer. Frequentemente essas garotas não têm onde ficar, então acabam entrando no negócio de JK.”
Essa noite, Tachibana teve alguma sorte. Ela voltou para o ponto de encontro mais tarde e persuadiu a garota a ir para casa. “Meu trabalho está feito por hoje”, disse. “Tive sucesso com uma garota.”
Alta demanda
Mas tirar as crianças das ruas uma por uma não vai fazer muita diferença enquanto ainda há tanta demanda – particularmente por aquelas ainda na escola.
“Se há duas garotas de 16 anos, e uma vai à escola e a outra não, os consumidores sempre preferirão aquela que vai à escola”, disse um gerente do negócio de JK que pediu para ser chamado de Taka, uma versão abreviada de seu nome de batismo.
Um dos negócios envolve peep shows em que garotas entre 15 e 17 anos se sentam em seus uniformes fazendo origamis, suas pernas arranjadas de modo a deixar sua roupa íntima visível. Homens pagam 60 dólares para assistir a uma garota de sua escolha por 30 minutos.
“Muitos homens japoneses veem algo de erótico em um uniforme escolar”, disse Taka. “Eles ficam desapontados se descobrem que ela já não vai mais à escola.”
Garotas envolvidas no negócio de JK insistem em afirmar que elas escolheram trabalhar nisso, e Taka diz que não é exploração porque as garotas querem entrar no negócio. “Quando recrutamos garotas com menos de 18 anos, somos inundados com aplicações.”
Mio, uma garota de 17 anos em seu segundo no ensino médio, em Tóquio, entrou no negócio ano passado, tendo relações sexuais com um homem em um karaokê por 30 dólares.
Mesma idade do pai
“Quando estou em casa à noite, fico solitária e quero sentir que alguém precisa de mim. É nessas horas que faço”, disse Mio, que pediu para ser identificada apenas por seu nome de trabalho.
Agora ela posta em um aplicativo de mensagens no fim de semana — quando não está na aula de dança ou no ensaio de sua banda — e encontra uma audiência ansiosa, às vezes estudantes universitários, às vezes homens com 50 anos, a mesma idade de seu pai.
Uma vez, um homem a enforcou durante o sexo. Outro, ela disse, “não parou quando eu disse não”. Mas, em geral, homens a tratam bem, ela disse.
“Sinto que me aceitam e precisam de mim, e não me sinto assim em outros momentos”, Mio disse durante o almoço, vestindo o resto cheio de frescor e o suéter grande que qualquer outra adolescente vestiria. Mas ela descreveu um lar nos quais os pais se odeiam e ela os odeia. “Gostaria de poder parar. Posso ser capaz de parar se não me sentir mais solitária.”
Expulsas da escola
Defensores das garotas dizem que essa prática não é nada mais do que prostituição infantil.
“Algumas garotas me dizem que é tão fácil quanto trabalhar em um karaokê ou um restaurante de fast-food, mas isso não é verdade”, disse Yumeno Nito, uma mulher de 27 anos que comanda o Colabo, um grupo de suporte que ajuda garotas exploradas.
“Elas são convencidas a acreditar que é o mesmo tipo de trabalho, por adultos que as tratam gentilmente no começo para atraírem-nas para o negócio.”
O grupo de Nito já ajudou garotas que foram estupradas ou agredidas e garotas com dificuldades mentais ou de aprendizado que são convencidas a fazer coisas degradantes porque acham que isso as fará se sentir valorizadas. Depressão e instabilidade mental abundam.
Mesmo quando japoneses comuns consideram a prática desviante, colocam a culpa nas garotas, disse Muta, a socióloga. Garotas de ensino médio que ficam grávidas são regularmente expulsas da escola.
“Eles acham que isso não pode ser consertado porque existem essas meninas más”, ela disse. “Muitas pessoas veem isso como se fosse um problema com as garotas, não com os homens.”
Dessa forma, quando as autoridades discutem maneiras de cercear a prática, tendem a vir com ideias tais como impor um toque de recolher às garotas, em vez de penalizar os homens por terem relações sexuais com garotas em idade escolar, disse Muta.
Anúncios
Regulações foram levemente enrijecidas nos últimos anos para atacar a exploração. Garotas foram proibidas de trabalhar formalmente em lojas de “garotas do ensino médio” em 2014, mas muitas ainda trabalham. Há até uma palavra para elas nos anúncios: “menor”, como em “menor de 18 anos”.
Legislação não vai resolver o problema, disse Tachibana, do Bond Project.
“Essas garotas ainda são crianças, e o que estão enfrentando é exploração sexual”, disse. “Mas impor regulações mais estritas vai apenas empurrar essas atividades para a clandestinidade e poderia até mesmo torná-las mais perigosas para as garotas.”
Ao invés disso, é importante entender como essas garotas acabam nesse negócio.
A sociedade japonesa tem entendido já muito tempo que essa é uma situação em que as garotas deveriam assumir responsabilidade por suas ações, mas Nito diz que essa atitude ignora as histórias pessoas das garotas e o fato de que muitas caíram para fora das estruturas sociais tradicionais.
“Elas frequentemente não recebem a ajuda necessária porque são consideradas prostitutas ou garotas que estão se comportando mal”, disse. “A não ser que isso mude, garotas continuarão a ser atraídas para o negócio de JK.”