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O avanço do chamado nome “social” nas escolas italianas prossegue inexoravelmente. O nome social, lembremos, consiste no reconhecimento formal do sexo “escolhido” quando ele não coincide com o biológico. Em suma, é uma concessão à ideologia de gênero que permite, àqueles que desejam fazer uso, a designação do nome e do gênero “escolhidos”, em todos os documentos internos de valor não oficial, a começar pelo registro eletrônico, mesmo que sejam diferentes daqueles que constam na carteira de identidade.
O aluno — uma vez que as novas normas tenham sido aprovadas pelo conselho escolar — também será chamado por este mesmo nome no endereço de e-mail e nas diversas listas da escola. Algumas escolas, para completar a obra, também optaram por equipar-se com banheiros de “gênero neutro”.
Até o momento, de acordo com dados publicados por associações do setor, mais de 300 instituições italianas já adotaram a prática. Alguns dizem em tom de desapontamento “apenas 300”, mas, na realidade, parece extremamente grave que tantas escolas — e, portanto, professores e diretores de escolas — tenham assentido ou até mesmo concordado alegremente com tal norma.
Essa é uma condescendência que, aparentemente, está sendo promovida e alimentada pelo próprio Ministério da Educação italiano, como aponta a associação Pro Vita & Famiglia em um comunicado: “É grave que um curso nacional de treinamento para professores e funcionários de escolas públicas estaduais — programado para ocorrer em Bolonha no dia 22 de fevereiro e apresentado na plataforma Sofia do Ministério da Educação, organizado pelo órgão CESP — fale em termos positivos da identidade de gênero, nome social, não-binarismo e até mesmo “reescrever a masculinidade”.
O que torna tudo ainda mais sério e ideologicamente orientado é que entre os palestrantes há rubricas LGBT e transfeministas como “MIT-Movimento Identità Trans” e “Non Una Di Meno”, que lembramos ser um grupo que propaga nome social nas escolas, projetos de gênero em salas de aula e transição de gênero para crianças”. Talvez valha a pena lembrar que o chefe do Ministério Giuseppe Valditara (Lega) é um ministro pertencente a um grupo político que, quando estava na oposição e também na campanha eleitoral, apoiou posições bastante diferentes…
Tudo isso é feito em nome da “inclusão”, palavra mágica habilmente cunhada pela corrente dominante e, hoje, usada como ingrediente para todos os pratos sociais, tanto que até mesmo dentro da Igreja costuma-se dizer que a Igreja deve ser “inclusiva”. O valor atribuído a esse termo é tal que qualquer pessoa que o desafie é considerada, de tempos em tempos, homofóbica, sexista, racista, egoísta, fascista, obtusa, negacionista, segregacionista, incrédula etc. Em suma, qualquer pessoa que se oponha à inclusão, com tudo o que ela implica, é considerada uma pessoa altamente perversa.
Hoje, parece quase inútil lembrar que o nome social viola diversas normas (entre as quais o artigo 97 da Constituição italiana), sobrepondo-se e contrariando, com uma medida administrativa interna, o que está previsto em leis e decretos. E parece dramaticamente em vão repetir que o mundo científico é hoje consensual em afirmar que a disforia de gênero na infância e adolescência é quase sempre transitória e que há um significativo aumento mundial de posições críticas em relação a decisões que envolvem (um possível aspecto trágico da condescendência com o nome social) cirurgias irreversíveis e terapias hormonais em jovens.
A Dra. Annelou de Vries, por exemplo, criadora, juntamente com a Dra. Peggy Cohen-Kettenis, do “protocolo holandês” (um protocolo de relevância internacional que influenciou as abordagens terapêuticas em outros países), afirma explicitamente que a disforia de gênero é muitas vezes transitória e pode estar relacionada a outros problemas psicológicos: “O principal objetivo é que a criança e, se necessário, a família funcionem melhor. Se esses problemas tiverem contribuído para causar ou consolidar alguma disforia de gênero, a disforia provavelmente desaparecerá com a resolução desses outros problemas”.
Até mesmo autoridades de saúde e associações médicas de países considerados de vanguarda quando se trata de disforia de gênero, como Estados Unidos, Finlândia, Reino Unido, França e Noruega, estão agora de acordo que a incongruência de gênero em crianças é um fenômeno transitório que tende a desaparecer espontaneamente na adolescência ou no início da vida adulta. Isso também foi atestado lucidamente pela escritora Susanna Tamaro em um testemunho/artigo publicado dias atrás no Corriere della sera. Tamaro se pergunta o que teria acontecido com ela aos oito ou nove anos de idade se tivesse sido colocada “sob as asas dos falcões do gênero”: “Acredito firmemente que a história julgará as mudanças de sexo impostas a crianças e jovens como um crime (...). Eu não teria me transformado em um homem, mas em um ser que precisaria de cuidados por toda a vida (...). Eu teria de engolir hormônios até o fim dos meus dias porque todo o enorme aparato bioquímico do meu corpo continuaria a gritar apenas uma coisa: sou uma fêmea!”.
O aumento espantoso desses casos – usado pelos defensores do gênero como argumento para justificar certas medidas – é, na verdade, um fenômeno ampla e deliberadamente induzido, alimentado pelos centros ocultos de poder que aspiram a governar o mundo por meio de seus inúmeros canais de condicionamento pessoal e social, que servem para a dissolução definitiva da família e, em última análise, da identidade pessoal, a fim de tornar os indivíduos facilmente manobráveis. Mas, indo além, representa uma manifestação marcante da rebelião original do homem contra sua própria condição de criatura e a pretensão de autodeterminação: “Sereis como Deus” (Gn 3,5). É a negação da realidade como ela é, e os jovens são vítimas involuntárias desse demoníaco sistema.
Ceder a esse fenômeno, ou até mesmo alimentá-lo, representa uma séria e enésima traição à missão formativa e educacional por parte das escolas e daqueles envolvidos na delicada tarefa de apoiar o desenvolvimento humano, cultural e espiritual das novas gerações.
Marco Lepore, nascido em Forlì em 1960, casado e pai de quatro filhos, formado em história contemporânea com diploma de especialização em ciências religiosas com foco pedagógico-didático, foi vice-diretor por muitos anos em uma importante escola de ensino médio em sua cidade. Colabora com vários jornais on-line, incluindo, em particular, o Nuova Bussola Quotidiana.