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Comportamento

Número de LGBTs está explodindo entre mais jovens. Menos “armário” ou contágio social?

Grupo pede aprovação de lei para transexuais durante Parada Gay em Buenos Aires, Argentina, em 6 de novembro de 2021.
Grupo pede aprovação de lei para transexuais durante Parada Gay em Buenos Aires, Argentina, em 6 de novembro de 2021. (Foto: BigStock)

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Uma nova pesquisa revelou que o número de adultos americanos que se identificam como lésbicas, gays, bissexuais e transexuais dobrou em apenas dez anos, de 3,5% em 2012 para 7,1% em 2021. A amostra envolveu mais de 12 mil pessoas. O número não é uniforme entre as gerações: enquanto apenas 0,8% dos nascidos antes de 1946 se dizem LGBT, este número nos nascidos entre 1997 e 2003 é 21% — ou seja, mais de um a cada cinco jovens americanos dos 19 aos 25 anos se dizem não heterossexuais.

Entre esses jovens (chamados de geração Z), o número é também o dobro da fração de LGBTs entre os nascidos entre 1981 e 1996 (geração dos millenials), quase cinco vezes a dos nascidos entre 1965 e 1980 (geração X) e oito vezes maior que a fração de LGBTs entre os boomers (nascidos entre 1946 e 1964). Não responderam à pergunta 3,5% entre os mais jovens e o dobro nas gerações anteriores.

A taxa maior de recusa a responder entre os mais velhos poderia indicar um tabu maior entre eles a respeito de orientações sexuais não ortodoxas, como é de se esperar. Os jovens são mais propensos a sair do proverbial armário. Mas isso não serve para explicar os exorbitantes 21% de supostos LGBTs entre eles. A Gallup faz a pesquisa desde 2012 e relata que, entre as gerações mais velhas, o número de não-heterossexuais se manteve mais estável em cada categoria. Como o estigma contra o grupo foi presumivelmente reduzido, este número deveria ter crescido entre os mais velhos também. De fato, entre os millenials, cresceu a uma taxa mais modesta, de 7,8% em 2017 para 10,5% em 2022. Mas o crescimento na geração Z é dramático: 10,5% em 2017 para 20,8% em 2022.

Quais as explicações para esse índice tão alto?

Falsa bissexualidade

A maior parte dos americanos adultos LGBTs, quase 60%, é de bissexuais. O número chega a 4% de todos os adultos do país. Há motivos para duvidar desse número.

Há diferentes formas de aferir a orientação sexual de uma pessoa. Enquanto pesquisas mais antigas usavam uma definição comportamental, as mais modernas preferem uma definição psicológica, como contam Khytam Dawood e colaboradores em um manual de genética do comportamento de 2009. “A orientação sexual psicológica é considerada uma característica mais estável e fundamental”, dizem os cientistas. “Uma definição psicológica da orientação sexual tende a produzir números menores de prevalência comparada a uma definição comportamental”. A definição comportamental enfatiza se houve experiência homossexual alguma vez na vida ou em um período mais estrito, enquanto a psicológica busca encontrar sinais de um desejo persistente e resistente à mudança.

Uma das formas de aferir esse desejo é a pletismografia, uma metodologia que mede a turgidez peniana em homens e a lubrificação vaginal em mulheres em resposta a estímulos visuais. Há décadas a pletismografia tem derrubado preconcepções e criado problemas para estatísticas baseadas em autoidentificação. Nas décadas de 1960 e 1970, um dos criadores da pletismografia, Kurt Freund, passou de tentar criar a “cura gay” para defender a descriminalização da homossexualidade na Tchecoslováquia depois de notar que entre homens a preferência sexual parece impossível de ser mudada, o que ele viu como um indicativo de que era algo biológico.

Muitos homens gays se diziam bissexuais como uma forma de amenizar o estigma sobre uma preferência predominante pelo mesmo sexo. Foi o que confirmou uma pesquisa com pletismógrafo de 2005: três quartos dos ditos bissexuais entre 33 homens tinham padrões de excitação idênticos aos dos gays.

Mas a pletismografia também pode levar a resultados enganosos. Em 2015, manchetes em muitos jornais alegaram que mulheres heterossexuais não existem. Esse sensacionalismo foi baseado em um estudo pletismográfico que revelou a excitação fisiológica genital de 152 mulheres não diferia entre estímulos visuais do sexo oposto ou do mesmo sexo. Porém, quando foi usada a dilatação da pupila como indicativo de excitação, as mulheres heterossexuais mostraram o padrão esperado de excitação pelo sexo oposto mais que pelo mesmo sexo, e as lésbicas mostraram maior excitação com estímulos visuais do mesmo sexo.

A orientação sexual na definição psicológica, portanto, pode ter nos sinais fisiológicos marcadores mais ou menos fidedignos a depender do órgão e do sexo do organismo. A pletismografia, apesar de ser aplicada há décadas, geralmente é usada em amostras pequenas de pessoas, dificultando uma comparação com pesquisas de autoidentificação como a da Gallup. Ainda não existem testes baratos e aplicáveis que envolvam o cérebro, potencialmente mais objetivos.

Uma definição meramente comportamental da bissexualidade está fadada a inflar o número de bissexuais pois, entre outros motivos, há pessoas que terão experiências homossexuais porque têm uma alta abertura a novas experiências em seu padrão de personalidade do que por de fato preferirem os dois sexos com intensidade comparável o suficiente para justificar uma autoafirmação como bissexuais.

A maior parte dos supostos bissexuais na pesquisa da Gallup é de mulheres: são o triplo da quantidade de homens bissexuais. A própria Gallup dá uma dica de que essa bissexualidade é questionável: a maioria dos supostos bissexuais se casa ou mora com alguém do sexo oposto, o que potencialmente indica uma preferência heterossexual.

Quando se criam políticas de favorecimento a uma raça, como as cotas, crescem as pessoas que alegam pertencer ao grupo favorecido. Em 'Ação Afirmativa ao Redor do Mundo' (Ed. É Realizações), Thomas Sowell conta, por exemplo, que o número de aborígenes na Austrália cresceu 42% em apenas cinco anos, “coincidindo” com a criação de tratamento preferencial do governo para o grupo. Presumivelmente, o mesmo fenômeno ocorre com identificação com o grupo LGBT quando o estigma contra ele está diminuindo e, em certos bolsões culturais, se transforma em admiração.

Falsa transexualidade

Outro grupo que cresceu foi o dos transexuais, ou, no linguajar mais influenciado por ativismo e teorias deterministas culturais, “transgêneros”. Há dois tipos principais de transexuais “clássicos”, como explicado antes na Gazeta do Povo. Tipicamente são pessoas muito raras, e, até o começo dos anos 2010, a maioria era do sexo masculino. Sentem um profundo desconforto com o próprio sexo, chamado “disforia”, e se esforçam para se assemelhar cada vez mais ao sexo oposto com tratamentos hormonais e cirurgias, o que é chamado de “transição”. Um dos casos clássicos conhecidos no Brasil é o de Roberta Close.

Há agora um suposto terceiro tipo em que o padrão se inverteu: a maioria é do sexo feminino. São garotas da geração Z que entram em contato com a ideia da transexualidade nas redes sociais, interpretam seu sofrimento erroneamente como disforia, e começam a pedir pela remoção das mamas e administração de testosterona, acreditando ser essa a solução que precisavam. O fenômeno recebeu o nome disforia de início rápido e ainda é controverso como conceito na academia, onde há um tabu a respeito e alguns casos de censura por conta da influência do progressismo identitário. Já resultou em tragédias como a de Yaeli Martinez.

A maior obra documentando o fenômeno é o livro de 2020 'Irreversible Damage' (“Dano Irreversível”, em tradução livre), da jornalista Abigail Shrier, que entrevistou centenas de pessoas e dezenas de famílias. Shrier mostra um panorama psicológico dos jovens da geração Z: são superprotegidos, viciados em redes sociais, saem menos para ver os amigos que crianças poucos anos atrás, têm os menores níveis de independência em décadas (aprendem menos a dirigir, por exemplo), tomam menos riscos e são sexualmente mais inativos. Muitos dos que buscam terapeutas com a alegação de que são transexuais não conhecem o próprio corpo. A maior parte é do sexo feminino. Uma diferença em relação a um tipo “clássico” de transexual, por exemplo, é que não mostram um comportamento atípico para seu sexo na infância.

O livro traz exemplos de meninas que sempre foram femininas que começam a se dizer trans exatamente no momento em que adquiriram acesso à internet ou começam a participar de grupos LGBT na escola. Já há casos de arrependidas de terem removido as mamas e terem tomado testosterona, que são procedimentos irreversíveis. Sabe-se que garotas adolescentes sempre foram propensas ao contágio social de problemas psicológicos: antes desta onda trans houve ondas de bulimia, anorexia, potencialmente remontando à neurastenia do século XIX e até a comportamentos mal interpretados por comunidades nos julgamentos de bruxas em Salem. Raramente validar o que que pensam sobre o próprio corpo, como no caso da anorexia, foi a solução mais adequada.

A disforia de início rápido, se é realmente uma disforia comparável à “clássica”, é um indicativo de um problema maior. Muitos jovens fazem pressão para serem aceitos como trans mesmo se não sentirem qualquer coisa comparável à disforia. Confundem traços de identidade, idiossincrasias e excentricidades próprias com disforia. É o caso de grande parte dos que se identificam como “não binários”. Sem o critério da disforia, o "T" de LGBT converte-se em rótulo vazio, praticamente acessório da moda para jovens se sentirem mais especiais.

Incentivando a confusão em nome da inclusão

A disforia de início rápido, como uma condição socialmente contagiosa, está recebendo certo incentivo da literatura infantil dita inclusiva. Tipicamente, nos livros infantis que supostamente só buscam defender o respeito pelo diferente, há um uso das palavras “menino” e “menina” somente no sentido de “gênero”, como algo que é maleável à cultura e às escolhas das pessoas, quase nunca no sentido de sexo. É um ataque velado à biologia, e um convite a mais jovens se “autoidentificarem” com outro “gênero”.

Um livro chamado “Introducing Teddy” (“Apresentando Teddy”, em tradução livre), adotado como material didático da pré-escola na cidade de Seattle, EUA, tem como protagonista um ursinho que quer ser ursinha. O pedagogo que orienta em vídeo os professores a usar o livro em sala de aula define gênero como “O sentimento de uma pessoa sobre ser um menino, uma menina, nenhum dos dois, ambos, ou outra coisa”.

Como a biologia não admite que seja possível que um organismo seja algo além de menino ou menina por causa da anisogamia (modo de reprodução com dois gametas diferentes, ovócito e espermatozoide) na nossa espécie, ou nenhum dos dois, a noção de “menino” e “menina” está sendo efetivamente mudada para longe do sexo, e as crianças da pré-escola estão sendo incentivadas a ignorar o próprio corpo ao aferir o que são. Essa é uma receita para confusão de identidade e contágio social da “disforia de início rápido” mais tarde.

Mesmo no caso do hermafroditismo, que é raro, a completa ambiguidade da genitália é ainda mais rara e a maioria das pessoas com essa condição preferem se apresentar como homens ou mulheres. No mínimo, o debate do gênero está nas fronteiras da academia e no problema complexo de conciliar as ciências humanas com ciências mais duras como a biologia. O que o conceito de um só lado deste debate está fazendo em aulas do jardim de infância?

Matt Walsh, apresentador conservador do Daily Wire, provocou os ativistas trans publicando um livro infantil de título “Johnny The Walrus” (algo como “Joãozinho, A Morsa”). No livro, o protagonista usa colheres de pau para simular as presas de uma morsa. A mãe diz que Joãozinho pode brincar de morsa, mas que não é realmente uma, não importa se outras pessoas sugerem que ele realmente é uma. Walsh poderia ser chamado de ignorante ao tratar como uma brincadeira ou moda uma condição que é conhecida há séculos pela humanidade, na qual a transição é um dos tratamentos médicos possíveis para alguns casos. Mas a paródia de Walsh está ficando indistinguível de materiais infantis sérios.

No livro infantil “From the stars in the sky to the fish in the sea” (“Das estrelas no céu aos peixes no mar”, em tradução livre), de Kai Cheng Thom, “um bebê nasceu quando a Lua e o Sol estavam no céu ao mesmo tempo, então o bebê não conseguia decidir o que seria. Menino ou menina? Pássaro ou peixe? Árvore ou estrela?” Quando o personagem cresce e vai para a escola, estranha que “os outros estudantes eram só meninos ou meninas: não tinham penas, escamas, folhas, pelos, barbatanas”. O livro infantil foi recomendado pela Human Rights Campaign, maior grupo de lobby LGBT dos Estados Unidos.

Há muitos indicativos de que está havendo na sociedade americana, e talvez no ocidente em geral, uma supercorreção dos preconceitos do passado contra minorias sexuais, ao ponto de muitas pessoas quererem fazer parte dessas minorias quando isso não é natural e espontâneo para elas. Radicalismos ideológicos associados aos LGBTs estão até mesmo tornando essas minorias mais impopulares frente à população em geral.

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