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Míssil guiado é lançado do destroyer americano USS Porter, que fica no Mar Mediterrâneo, em resposta ao ataque do governo sírio com armas químicas a uma província rebelde. | Ford Williams/AFP
Míssil guiado é lançado do destroyer americano USS Porter, que fica no Mar Mediterrâneo, em resposta ao ataque do governo sírio com armas químicas a uma província rebelde.| Foto: Ford Williams/AFP

A decisão tomada pelo presidente Donald Trump de atacar a Síria transmitiu uma mensagem poderosa para o mundo inteiro – que pode ter interpretações muito diferentes em Moscou, em Pyongyang e em Beijing.

Para a Rússia, pode ser que finalmente seja hora de enterrar as expectativas da campanha de 2016 de que Trump tentará manter laços mais fortes com o presidente Vladimir Putin, aliado do presidente sírio Bashar al-Assad.

Para a Coreia do Norte, é um aviso de que os EUA está disposto a tomar atitudes unilaterais.

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E, para a China, cujo líder Xi Jiping estava jantando com Trump pouco antes de os mísseis serem disparados, o ataque foi um sinal poderoso da imprevisibilidade do novo presidente dos Estados Unidos.

O ataque com mísseis norte-americanos, lançado em resposta ao ataque com armas químicas na Síria que matou mais de 70 pessoas no dia 4 de abril, também mostrou que o presidente está disposto a mudar dramaticamente as suas políticas em resposta a novos desenvolvimentos dos eventos mundiais. Em 2013, Trump criticou seu antecessor, Barack Obama, por ter considerado a possibilidade de ações militares contra a Síria após um ataque com gás sarin ter matado mais de 1000 pessoas perto de Damasco. À época, ele teria dito no Twitter, “NÃO ataque a Síria, conserte os E.U.A.”.

Isso nos põe de volta nos eixos para restaurar a credibilidade americana

Andrew Tabler pesquisador do Washington Institute for Near East Policy

“Isso nos põe de volta nos eixos para restaurar a credibilidade americana”, disse em entrevista Andrew Tabler, pesquisador do Washington Institute for Near East Policy. “É por isso que há mais coisas em jogo aqui do que só a Síria. Tem a questão da não-proliferação. Tem muitas questões em jogo”.

Uma delas também é dar um aviso para Putin de que os EUA não irá mais tolerar essa proximidade com Assad. A Rússia enviou tropas e armas à Síria para ajudar na batalha de Assad contra os rebeldes que querem derrubá-lo. Esse é um sinal da falta de confiança entre os EUA e a Rússia. O Secretário de Estado, Rex Tillerson, disse que os EUA não consultaram Moscou antes de atacar. Em vez disso, foi utilizado um canal de “desconflitualização” militar já estabelecido para informar a Rússia de que o ataque seria realizado em breve.

“Não houve discussões ou contatos prévios, tampouco houve qualquer coisa do tipo desde o ataque, com Moscou”, disse Tillerson aos repórteres na noite de quinta-feira na Flórida.

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Tillerson, que deverá se reunir com Putin em Moscou na semana que vem, não deixou qualquer dúvida sobre a perspectiva da administração norte-americana quanto à relação do presidente russo com Assad. O secretário disse que a Rússia tinha alguma responsabilidade pelo uso de armas químicas na Síria, descrevendo Moscou como sendo, ou “cúmplice”, ou “incompetente”.

A Rússia, na sexta-feira, criticou o ataque norte-americano num tom igualmente severo. Putin “enxerga os ataques como uma agressão contra uma nação soberana”, diz seu porta-voz Dmitry Peskov, segundo a Interfax, apontando que o líder russo acredita que eles foram realizados “em violação do direito internacional e também sob um pretexto inventado”.

Muitos estrategistas chineses acreditam, de fato, que é possível que os EUA iniciem um ataque preventivo contra as instalações nucleares da Coreia do Norte

Zhang Baohui diretor do Centro de Estudos Ásia-Pacífico, na Universidade de Lignan, em Hong Kong

Junto da mensagem explícita à Rússia há ainda um aviso implícito para o líder da Coreia do Norte, Kim Jong-un, de que os EUA estão de olho no desenvolvimento de mísseis nucleares conduzido pelo seu regime. Ela reforça o comentário feito por Trump no Financial Times, numa entrevista publicada no dia 2 de abril, de que a sua administração poderia agir por conta própria para impedir a Coreia do Norte de desenvolver armas nucleares, se a China não tiver uma maior iniciativa nisso.

Após duas décadas sem conseguirem restringir o programa armamentista de Pyongyang, os EUA estão preocupados que o regime de Kim esteja tentando construir um míssil capaz de levar uma arma nuclear até a América do Norte. Kim lançou dúzias de projéteis já e conduziu três testes nucleares desde que chegou ao poder, após a morte do seu pai em 2011. Em janeiro, ele alegou estar nas etapas finais dos preparativos para testar um míssil balístico intercontinental.

A China vem apoiando a Coreia do Norte desde a guerra na península na década de 1950, em parte para evitar a presença de um aliado dos EUA nas suas fronteiras. Apesar de os líderes de Beijing terem colocado em vigor algumas sanções à Coreia do Norte após uma série de testes de mísseis nucleares e balísticos, a China representa mais de 90% de todo o seu comércio.

A China pensa que é possível que haja uma guerra na península da Coreia, mas é algo que o país quer evitar a todos os custos

Zhang Baohui

O ataque de Trump à Síria é um modo nada sutil de dizer a Beijing que o país deverá adotar uma nova abordagem ao regime de Kim.

“Muitos estrategistas chineses acreditam, de fato, que é possível que os EUA iniciem um ataque preventivo contra as instalações nucleares da Coreia do Norte”, disse Zhang Baohui, diretor do Centro de Estudos Ásia-Pacífico, na Universidade de Lignan, em Hong Kong. “Por isso, há uma possibilidade de que o ataque motive Xi a ter uma maior iniciativa para ajudar os EUA nessa questão. A China pensa que é possível que haja uma guerra na península da Coreia, mas é algo que o país quer evitar a todos os custos”.

A visita de Xi a Trump na Flórida deveria ser uma oportunidade para os dois líderes fortalecerem laços e colaborarem em questões difíceis, especialmente comerciais. Em vez disso, sua primeira reunião acabou sendo interrompida e eclipsada pelo ataque na Síria.

Os mísseis foram lançados minutos após Xi terminar de jantar com Trump no seu resort em Mar-a-Lago. Os dois líderes tinham diante de si uma agenda de sexta-feira cheia de discussões já planejadas.

Eu acho que, longe dos palanques oficiais, os chineses deverão estar expressando alguma raiva pelos Estados Unidos

Dennis Wilder ex-diretor de assuntos asiáticos para o Conselho de Segurança Nacional do ex-presidente George W. Bush

Mas não foi só o momento em que o ataque ocorreu que colocou Xi numa situação desconfortável. “Os chineses ficarão muito infelizes com esse desenvolvimento, porque o fato de os EUA terem realizado uma ação militar unilateral contra um país enquanto o presidente chinês estava jantando lá dá a aparência de que a China, em algum grau, aprova essa decisão”, disse Dennis Wilder, ex-diretor de assuntos asiáticos para o Conselho de Segurança Nacional do ex-presidente George W. Bush.

Os chineses são muito contrários à ideia de se derrubar Assad e não querem parecer cúmplices nisso, diz ele.

“Publicamente, eu acredito que Xi tentará ignorar isso o máximo possível. Ele continuará agindo como se nada tivesse acontecido, para manter a imagem pública que ele quer manter”, diz Wilder. “Eu acho que, longe dos palanques oficiais, os chineses deverão estar expressando alguma raiva pelos Estados Unidos”.

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Este artigo contou com contribuição de Jennifer Jacobs, Nick Wadhams, Peter Martin, Daniel Ten Kate e David Tweed, da Bloomberg.

Tradução de Adriano Scandolara

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