“Opções”, campanha mais recente do Conselho Nacional de Autorregulamentação Publicitária (Conar), feita pela agência AlmapBBDO, será julgada pelo próprio Conar depois de receber denúncias de espectadores. Para os reclamantes, as peças tratam como “opinião pessoal” elementos que podem ser associados à discriminação e preconceito.
"Queixas de uma dezena de consumidores motivaram a abertura da representação. Eles reclamaram que as peças publicitárias desmerecem movimentos por mais respeito à diversidade social", escreveu o órgão na publicação que anuncia a decisão. O Conselho está em busca de um relator para a representação, provavelmente um nome que não tenha relação com o mercado publicitário.
Há dois vídeos que fazem parte dessa campanha. Ambos dividem a tela em duas partes mostrando elementos “opostos”, como duas mulheres com corpos diferentes e casais homossexuais e heterossexuais. Ao final, a mensagem: “Já pensou se todo comercial tivesse que ter opções para agradar todo mundo? Por isso que existe o Conar. Para separar o que é gosto pessoal do que é ofensivo e ilegal”.
Para algumas pessoas, todavia, a escolha do que poderia ser considerado “gosto pessoal” nessa propaganda em si ultrapassou o limite do ofensivo em algumas das relações de oposição escolhidas.
Em seu Facebook, o pesquisador da Escola de Comunicações e Artes da USP (ECA-USP) Ricardo Sales resumiu as queixas. “É sintomático que os novos filmes do Conar, o órgão de autorregulação publicitária, tratem de forma debochada as questões que envolvem diversidade e representatividade", escreveu.
"Um dos comerciais compara a cobrança por mais pessoas negras em filmes com gostar ou não de lambada (!). O outro, coloca diferentes tipos de família de cada lado da tela e resume: seria como gostar de goiaba branca ou vermelha. Não é "gosto pessoal", Conar. Que vergonha!”, reclamou Ricardo, que também é sócio da agência Mais Diversidade.
Conar julgado pelo Conar
Essa não é a primeira vez que o Conar se vê julgador de campanhas próprias. Houve pelo menos dois casos relativamente recentes, cujas resoluções podem ser encontradas no site do Conselho.
Em 2002, a campanha “Lembra da época em que os balanços das empresas eram confiáveis e a propaganda não era?” foi questionada pela concomitância entre uma campanha que fazia chacota de contabilistas e um “noticiário particularmente intenso sobre fraudes comprovadas em balanços de grandes empresas dos Estados Unidos”. A denúncia dizia que houve agressão à classe de trabalhadores, mas a decisão foi por arquivamento.
Já em 2014, uma campanha do órgão chamada “Confie no Conar” foi alvo de 106 reclamações que, resumidamente, “apontaram para denegrimento tanto da figura do palhaço quanto de quem reclama de peças publicitárias ao Conar, em especial grupos de defesa de minorias”, conforme o texto referente ao processo. Também houve arquivamento pelo relator do processo.
A assessoria de imprensa do Conar lembrou que, em casos como esse, a relatoria é realizada por membros da sociedade civil, sem relação com o mercado publicitário
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