Um dos livros mais importantes do século 20, que 59 anos depois de ser lançado continua entre os mais vendidos, é “Em Busca de Sentido”, de Viktor Frankl.
Marx enxergava a principal motivação do homem como sendo econômica; para Freud, era sexual. Mas Frankl acreditava –corretamente, na minha opinião—que a maior força motivadora do homem é o sentido.
É possível ser pobre e casto e ainda assim ser feliz. Mas não é possível não enxergar sentido na vida e ser feliz, por mais que sejamos ricos ou sexualmente realizados.
Para a imensa maioria dos seres humanos, a principal fonte de sentido na vida tem sido a religião. No Ocidente, o cristianismo e, em grau menor, o judaísmo, deram a quase todas as pessoas a Bíblia, um texto divino ou divinamente inspirado para orientar suas vidas; uma comunidade religiosa; respostas às indagações fundamentais da vida, e, sobretudo, sentido: um Deus benevolente rege o universo; a morte não assinala o fim de tudo, e os seres humanos foram criados com uma finalidade em vista.
Além disso, o cristianismo proporcionou aos cristãos um projeto: o de difundir a Boa Notícia e aproximar a humanidade de Cristo. E o judaísmo deu um projeto aos judeus: viver segundo as leis de ética e moral de Deus e serem “uma luz para as nações”.
Encontrar sentido
Tudo isso desapareceu para a maioria dos ocidentais. A Bíblia é vista como mito, um mito tolo, na melhor das hipóteses, ou perverso, na pior. Não existe Deus, certamente não o Deus da Bíblia, que dá a moral e nos julga; não existe vida após a morte; os seres humanos são uma coincidência sem sentido, que não tem uma finalidade intrínseca maior que qualquer outra coisa no universo. Em outras palavras: isto daqui, o aqui e o agora, é só o que existe.
Assim, se a necessidade de sentido na vida é a maior de todas as necessidades humanas, e se aquilo que conferia sentido à vida deixou de fazê-lo, o que devem fazer milhões de ocidentais?
A resposta é óbvia: encontrar sentido em outro lugar. Mas onde? A Igreja não o dará. O casamento e a família, tampouco: cada vez mais, indivíduos seculares no Ocidente evitam o casamento, enquanto mais pessoas ainda deixam de ter filhos. Para a surpresa de muitos, descobrimos que casamento e filhos são valores religiosos, não instintos humanos.
Hoje, no Ocidente, o amor e o casamento (além dos filhos) andam de mãos dadas para os fiéis católicos, os judeus ortodoxos, os mórmons religiosos e os protestantes evangélicos – não para os seculares. Conheço muitas famílias religiosas com mais de quatro filhos; não conheço uma única família formada por pais seculares com mais de quatro filhos, e é provável que você tampouco conheça.
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A resposta ao grande vazio de sentido deixado pela morte da religião bíblica no Ocidente é a religião secular. Os primeiros dois grandes substitutos seculares foram o comunismo e o nazismo. O primeiro ofereceu sentido a centenas de milhões de pessoas; o segundo fez o mesmo para a maioria dos alemães e austríacos.
As duas ideologias ofereceram sentido especialmente à classe intelectual. Nenhum setor da sociedade acreditou mais no comunismo e no nazismo que os intelectuais. Como todas as pessoas, os intelectuais seculares precisam de um sentido na vida, e, quando essa necessidade se somou ao amor dos intelectuais pelas ideias (especialmente as ideias novas – a ideia do “novo” é quase erótica na atração que exerce sobre os intelectuais seculares), comunismo e nazismo se tornaram ideologias potentes.
Com a queda do comunismo e a tomada de consciência da extensão dos massacres (cerca de 100 milhões de não combatentes dizimados) e escravização em massa (virtualmente todas pessoas nos países comunistas são escravizadas, essencialmente, com a exceção dos líderes do Partido Comunista) cometidos por ele, o comunismo adquiriu má fama, ou foi o que aconteceu pelo menos com a palavra “comunismo”.
Então o que podiam fazer os intelectuais seculares depois de o comunismo ter se tornado “o deus que fracassou”?
A resposta foi criar outra religião secular de esquerda. O esquerdismo é isso: uma alternativa secular para conferir sentido à vida, algo criado para tomar o lugar do cristianismo. As expressões religiosas de esquerda incluem marxismo, comunismo, socialismo, feminismo e ambientalismo.
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Apesar dos princípios dos cristãos e judeus que alegam ser religiosos, mas têm posições esquerdistas, os princípios que norteiam o esquerdismo são antíteses dos princípios seguidos pelo judaísmo e o cristianismo.
Judaísmo e cristianismo defendem que o ser humano não é fundamentalmente bom. O esquerdismo afirma que ele é basicamente bom. Assim, judaísmo e cristianismo acreditam que o mal nasce da natureza humana, enquanto o esquerdismo postula que o mal vem do capitalismo, da religião, do Estado-nação (ou seja, o nacionalismo), das grandes empresas, do patriarcado e de virtualmente todos os outros valores tradicionais.
Para o judaísmo e o cristianismo, a utopia na Terra é impossível – isso é algo que só virá quando Deus assim o quiser, como era messiânica ou na vida após a morte. Para o esquerdismo, essa utopia deve ser criada aqui na Terra, e o quanto antes, melhor. É por isso que os esquerdistas acham a América tão desprezível. Eles não a comparam com outros países, mas com um ideal utópico – uma sociedade sem desigualdade, sem racismo, sem diferenças entre os sexos (na realidade, sem sexos) e sem cobiça, em que tudo que é importante é obtido gratuitamente.
O judaísmo e o cristianismo consideram que Deus e a Bíblia nos ensinam a ter uma vida boa e nos dizem que o coração é o último lugar onde devemos procurar uma orientação moral. Os esquerdistas desprezam qualquer pessoa que se deixa guiar pela Bíblia e seu Deus; eles substituem a instrução divina pelo coração e os sentimentos.
Pode ser que exista um choque de civilizações entre o Ocidente e o islã, mas o maior choque de civilizações se dá entre o Ocidente e a esquerda.
Dennis Prager é colunista do “The Daily Signal”, radialista e criador da PragerU.
Tradução por Clara Allain
©2018 The Daily Signal. Publicado com permissão. Original em inglês