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Iraquianos fogem da Cidade Velha de Mosul durante ofensiva das forças iraquianas | AHMAD AL-RUBAYEAFP
Iraquianos fogem da Cidade Velha de Mosul durante ofensiva das forças iraquianas| Foto: AHMAD AL-RUBAYEAFP

As notícias sobre os últimos ataques violentos conduzidos pelo chamado Estado Islâmico (ISIS), ou inspirados por ele, dão a impressão de que o tipo de jihad (luta) global do ISIS está sempre expandindo e se mantém dinâmico.

Em junho deste ano, mês sagrado muçulmano do Ramadã - quando o ISIS tradicionalmente executa seus maiores ataques, já passou da metade e demonstrou a continuação do alcance global dos jihadistas. 

Mas outras duas cronologias contam uma história bem diferente: dois anos de um declínio inevitável nas ambições do ISIS de um estado territorial autodeclarado. Hoje, combatentes do ISIS estão se agarrando ao último apoio em Mosul, a segunda maior cidade do Iraque, onde os jihadistas declararam um califado islâmico em junho de 2014. E na última semana as forças turco-sírias, apoiadas pelos EUA, lançaram uma ofensiva contra a capital autodeclarada do califado em Ragga, no norte da Síria. 

Então qual a principal tendência do ISIS, que está procurando transformar sua promessa fracassada de liderança de uma utopia islâmica na principal motivação de ataques ao redor do mundo, com armas às vezes tão simples quanto facas de cozinha? 

Analistas alertam que a diminuição do território não se traduz em uma derrota para o ISIS, muito menos uma vitória sobre ele. 

“O ISIS é ao mesmo tempo sólido, líquido e gasoso e pode se mover entre essas formas sempre que precisa”, diz Shiraz Maher, diretor do Centro Internacional de Estudos de Radicalização e Violência Política (ICSR) da King’s College de Londres. 

“A noção de que o ISIS está chegando ao fim, que isso é o começo do fim, é completamente incorreta.” 

Onde o ISIS está crescendo? 

Em uma aposta para garantir a sua própria relevância, mesmo enquanto o seu estado físico se desintegra, o ISIS lançou ataques longe de casa. Em Manchester, na Inglaterra, um homem-bomba matou 22 pessoas em um show no dia 22 de maio. Em 3 de junho, em Londres, três homens mataram oito pessoas em uma operação rápida com uma van e facas. 

No Afeganistão, uma pequena ameaça do ISIS ao governo central foi desacreditada por muito tempo como uma ação marginal, comparada ao Talibã. Mas o crescimento da sua presença foi sentido em 31 de maio, quando um caminhão-bomba se alastrou pelo centro de Cabul, matando mais de 150 pessoas. 

Nas Filipinas, uma longa história de oposição muçulmana ao governo se transformou em uma potente célula do ISIS. Por três semanas, soldados filipinos lutaram contra combatentes do ISIS que mantinham entre 500 e 1000 civis reféns na cidade de Marawi. Grupos das Tropas Especiais dos EUA estão confirmados oficialmente para auxiliar na batalha. 

A batalha nas Filipinas demonstram um desafio que os oponentes do ISIS enfrentam ao redor do mundo, analistas avaliam: mesmo com a eliminação dos jihadistas, não é o suficiente. 

Ataques aéreos e lei marcial “não chegarão até a raiz da radicalização: governo pobre, um sistema legal disfuncional e pobreza endêmica”, escreve Sidney Jones, diretor do Instituto de Análise de Políticas de Conflito em Jakarta, Indonésia, no The New York Times. “É muito comum que táticas agressivas deem origem a mais combatentes – e combatentes com um desejo de vingança.” 

Onde o ISIS está falhando? 

Estão quase extintos os vídeos rebuscados de propaganda do ISIS, que mostram um paraíso islâmico, repletos com a “justiça” de decapitações cerimoniais e a queima de celas de inimigos “infiéis”. Esses vídeos, que uma vez energizaram recrutas islâmicos a voarem do mundo todo para a Síria e o Iraque, agora diminuíram com o foco do ISIS na guerra – e em um futuro diferente. 

Uma análise recente do ICSR mostrou que os retratos da vida utópica do Estado Islâmico em meados de 2015 corresponderam a 53% da propaganda publicada, enquanto materiais relacionados a guerra corresponderam a 39%. Até fevereiro deste ano – quando forças armadas iraquianas começaram a lutar pelo oeste de Mosul – um total de 80% foi dedicado a guerra, enquanto apenas 14% teve como tema a utopia. 

“Apesar da infâmia terrorista internacional, o Estado Islâmico está sofrendo em casa”, apontou Charlie Winter, do ICSR, na análise de março. “Com o esgotamento da sua influência territorial, liderança e mão de obra ao longo de 2016 o começo de 2017, o Estado Islâmico foi forçado a recalibrar os parâmetros estratégicos da sua narrativa de propaganda.” 

O ISIS tem preparado os seus seguidores para uma erosão territorial, lançando como uma flutuação normal com séculos de história. 

A última edição da revista online do ISIS, Rumiyah (Roma), disse que as perdas apenas levariam o ISIS a “reacender as chamas da guerra” e prometeu “recapturar cada centímetro de território” e expandir. 

Significativamente, mesmo com o ISIS perdendo território em Mosul, a organização lançou um ataque suicida na cidade iraquiana de Karbala, local de um santuário sagrado xiita, matando 30 pessoas em 9 de junho. 

Onde estão as últimas conquistas do ISIS? 

Há muito tempo está na lista do ISIS um ataque contra o Irã para vingar os esforços anti-ISIS do país, no Iraque e na Síria. Em 7 de junho, combatentes do ISIS mataram 17 pessoas com ataques contra dois símbolos da República Islâmica: o parlamento em Teerã e o mausoléu do líder da revolução do Irã de 1979, Ayatollah Ruhollah Khomeini. 

Os seis combatentes eram cidadãos iranianos armados com rifles de assalto, granadas e coletes suicidas, que, de acordo com oficiais, lutaram com o ISIS no Iraque e na Síria. A ligação direta com o ISIS era clara: O grupo assumiu a responsabilidade com o desdobramento da matança, divulgou novidades e até postou um vídeo filmado pelos combatentes enquanto o impasse prosseguiu. 

A presença do ISIS não foi uma surpresa para o Irã, cujos oficiais alegaram, em 2015, ter capturado células do ISIS e frustraram planos de bombardeios semanalmente. Oficiais dizem ter desmontado 45 “células terroristas” nos 12 meses até março de 2017, e outras 25 foram desmontadas nos 2 meses seguintes. 

“Terroristas atrapalhados com rojões não impactarão a força de vontade da nação iraniana”, diz um tweet da conta oficial do líder supremo do Irã, Ayatollah Ali Khamenei. 

Na segunda-feira, o Irã alegou ter matado o líder da célula do ISIS por trás do ataque em uma ofensiva fronteiriça, e quatro outros suspeitos no dia anterior, dentro do Irã. 

Quais são os maiores desafios do ISIS? 

A extensão e a escala do aumento dos ataques do ISIS em outros países permite que a franquia jihadista se mantenha relevante, mesmo sem o seu estado único. 

Mas mesmo com um encolhimento do ISIS no Iraque e na Síria, o caos que o alimentava e que utilizava para suporte local – principalmente nas regiões do Iraque – provavelmente continuará. Analistas alertam que as diferenças sectárias, étnicas e tribais devem reacender no mundo pós-califado. 

“Há problemas sociais com raízes profundas, que continuarão a dar longevidade a grupos como o ISIS”, diz Maher, do ICSR, autor de “Salafi-Jihadism: A História de uma Ideia.” 

A propaganda do ISIS sobre as forças iraquianas recapturando Mosul, por exemplo, tirou proveito dos medos locais de milícias xiitas e sua brutalidade. 

“As pessoas estão muito preocupadas, e o ISIS tem explorado muito isso e capitalizado em cima disso”, diz Maher. “É bom para o ISIS quando tem instabilidade social e tensão nesses países. E nesse momento o Iraque está a milhões de quilômetros de ser uma sociedade coesa e estável.”

Traduzido por: Andressa Muniz
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