Fumaça se levanta dos destroços da Cidade Velha de Mosul, cidade iraquiana que estava sob o domínio do Estado Islâmico| Foto: FADEL SENNA/AFP

Com Mosul recapturada do Estado Islâmico e com parte da cidade antiga de Raqqa já nas mãos de grupos apoiados pelos EUA, o Estado Islâmico está prestes a ser riscado do mapa de zonas de guerra. Como o Voldemort do início da série Harry Potter, ele não terá uma presença física – mas viverá de outras maneiras: na mente de guerreiros estrangeiros voltando para seus países, na presença online que construiu ao longo dos anos e nas almas das populações sunitas afetadas pelo terror que o grupo provocou.

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É importante avaliar esses três perigos e começar a lidar com eles mesmo antes de uma derrota militar completa do Estado Islâmico. 

Os guerreiros estrangeiros, de acordo relatos, têm abandonado o califado fracassado – isso, é claro, entre os que não foram mortos, um número muito difícil de estimar. Mas milhares deles ainda estão na Síria e no Iraque, e muitos vão tentar voltar para casa. 

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Em 2013, Thomas Hegghammer, uma autoridade em soldados estrangeiros da Universidade de Oslo, calculou que dos 401 terroristas que participaram de ataques no Ocidente entre 1990 e 2010, 107 viajaram para países estrangeiros para lutar pelas causas islâmicas. Hegghammer estima que no máximo um a cada nove desses soldados voltaram para atacar o Ocidente. Daniel Byman, da Universidade Georgetown, alega que esse número deve ser de um a cada 20. Isso ainda é um número grande de ataques, considerando o quão atrativo para estrangeiros o Estado Islâmico é. 

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Mas, de acordo com Byman, a ameaça do repatriado é superestimada. Os ex-guerreiros estrangeiros tomam uma série de desvios na estrada para o terror, mesmo os que sobrevivem aos conflitos nos quais foram lutar. Alguns vão para outras guerras do Oriente Médio. Além disso, eles agora têm a oportunidade de se mudar para o Afeganistão e outros lugares onde a organização ainda possui células ativas. Outros são interceptados pelos serviços de inteligência e submetidos a uma vigilância tão intensa que não podem ser eficazes como terroristas. Alguns ainda acham difícil, e talvez degradante, aplicar as habilidades que eles ganharam lutando em uma guerra civil no planejamento de ataques clandestinos a civis. 

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E há ainda um fator psicológico para não continuarem na jihad. Byman escreve: "No começo, a motivação primária de muitos dos lutadores estrangeiros era proteger a população síria contra um regime de brutalidade, não de um inimigo estrangeiro ou do Ocidente. Muitos foram para a luta para ganhar direitos entre amigos ou para procurar uma aventura. Nos olhos deles, a Síria era uma forma honrada e admirável para fazer isso". 

Mas levar a luta para os vizinhos pacíficos é algo muito mais duvidoso para poder se gabar depois. 

Além disso, muitos vão voltar decepcionados. A propaganda do Estado Islâmico promovia o território do califado como um paraíso jihadista, baseado na camaradagem muçulmana e em objetivos nobres. Mas, na realidade, muitos dos estrangeiros não conseguiram se misturar com os nativos, receberam tarefas mínimas e ficaram horrorizados com a brutalidade do conflito civil do Oriente Médio. Especialmente depois de uma derrota militar, eles não vão voltar como garotos-propaganda da causa. Depende das sociedades ocidentais fazer contato com eles para pedir ajuda para conter o avanço da propaganda terrorista. A experiência da Dinamarca com a reabilitação de lutadores estrangeiros pode ser útil. 

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A rede de propaganda do Estado Islâmico ainda vai estar ativa depois de sua derrota militar, mesmo que a falta de apoio financeiro do grupo já tenha atingido suas operações midiáticas. Ultimamente, fazer campanhas online para recrutar pessoas é barato, e derrubar essas propagandas é um jogo de pega-pega. Os propagandistas vão ter problemas com a mensagem também. 

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O sonho de um estado real era uma ferramenta efetiva de propaganda por algum tempo, assim como o buzz das primeiras vitórias. Mas isso já está no passado, e a propaganda está usando a ideia de vingança. Mas não tem a magnitude de uma batalha apocalíptica contra as cruzadas perto da cidade de Dabiq, uma propaganda comum dos últimos anos – até que a cidade foi capturada pelos rebeldes sírios em outubro. 

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Logo o Estado Islâmico será apenas mais um grupo terrorista competindo pela atenção de recrutas em potencial. É difícil vender a derrota, como a Al Qaeda descobriu nos anos em que seus líderes foram mortos e suas bases destruídas. O crescimento do Estado Islâmico teria sido impossível sem a erosão da maior marca terrorista. 

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O dilema dos árabes sunitas nas áreas do Iraque e da Síria que estão sendo liberadas é mais difícil de lidar do que com os lutadores ou a propaganda remanescente. O Estado Islâmico não teria permanecido tanto tempo nessas áreas sem o apoio local. 

Mosul estava destruída no ponto em que foi tomada, e Raqqa vai seguir esse caminho. Reconstruí-las – assim como outras áreas do grupo – parece distante, dados os recursos do governo do Iraque e dos rebeldes sírios. Chegar a um acordo político é mais realista, mas leva tempo. As áreas ocupadas pelo Estado Islâmico devem ficar bem piores com a saída do grupo. 

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Um relatório de 2013 da Rand Corporation que tentou sintetizar as experiências modernas de lidar com insurreições mostrou que apenas uma estratégia (de um total de 24) era um fracasso flagrante: "destruí-los". É um cenário possível nesse momento, e os moradores locais temem que isso venha do governo do Iraque. O que funciona é um policiamento confiável aliado a um esforço de reconstrução – uma combinação difícil de se obter. 

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Um relatório de julho do Centro de Combate ao Terrorismo de West Point mostra que o Estado Islâmico permanece ativo nas cidades libertadas, conduzindo ataques terroristas e mantendo uma presença clandestina. Deve existir uma alternativa melhor para os moradores locais do que uma nova insurreição, e esse é o maior desafio de Mosul e, logo, de Raqqa.