Arthur Vinícius de Barros Silva Freitas completaria 15 anos neste sábado (09). Ele era um dos dez atletas que morreram no incêndio que atingiu, logo na madrugada desta sexta (08), quando eles estavam dormindo, o alojamento das categorias de base do Flamengo. Ainda não foi divulgada muita coisa sobre Arthur. Com certeza ele tinha muito talento. Já havia sido convocado para a Seleção Brasileira Sub-15 e somente o fato de estar no Flamengo, um dos principais clubes de futebol do mundo, já indica que ele havia se destacado no concorrido vestibular da bola.
Na matéria desta Gazeta do Povo que mostra as dez vítimas do incêndio, Arthur, que era zagueiro, aparece marrento, braços cruzados, um sorriso feliz de quem tem a vida pela frente. Você, leitor, já teve 14 anos. Lembra como a vida trazia promessas? Paixões, sonhos, amores. Como era bom calçar as chuteiras, entrar em um campo – para a maioria de nós apenas de brincadeira, não profissionalmente - jogar com os amigos? No caminho de volta pra casa, relembrar os melhores momentos, dar risada, contar com orgulho tudo para os pais?
Arthur, do sorriso sincero, agora está morto. Morto porque o mesmo clube que pagou mais de 60 milhões de reais pelo uruguaio Arrascaeta resolveu economizar e negligenciar seus mais promissores talentos. A instalação que os matou não tinha licença da prefeitura e estava irregular perante o Corpo de Bombeiros.
Arrascaeta só foi contratado pelo Flamengo porque outro Vinícius, o Júnior, que também passou noites no mesmo CT que seus colegas, foi vendido por 45 milhões de euros (190 milhões de reais) em 2017 para o Real Madri. Vinícius Júnior escapou, está com o futuro garantido. Arthur Vinícius será enterrado nos próximos dias.
O Flamengo, talvez o time financeiramente mais poderoso do Brasil, matou dez dos seus principais talentos porque não se preocupa com meninos pobres. Quem se importa com que lugar eles dormem? Em que condições?
Não é exclusividade do Flamengo tratar seus talentos mais jovens como bens dispensáveis, amontoando-os em qualquer lugar. Seu principal rival, o Vasco, deixou morrer o jovem Wendel Venâncio da Silva, de apenas 14 anos, a mesma idade de Arthur, em suas instalações, em 2012, durante um treino. Wendel passou mal durante um teste, e não havia nenhum profissional para atendê-lo, afinal de contas, na visão de quem manda no futebol, Wendel e os outros eram mais um, nada mais. “De acordo com os promotores do Ministério Público do Rio de Janeiro, as instalações do CT (alojamentos e refeitórios) estavam em condições insalubres, “abaixo até mesmo dos abrigos para menores infratores”. Mesmo assim, o Vasco não foi condenado pela morte de Wendel.
O histórico indica que, assim como aconteceu com os responsáveis pela tragédia de Mariana e pela morte de Wendel, o homicídio de Arthur e seus noves colegas ficará impune. O Flamengo lamentou o “incidente”, seu presidente se penitenciou em público, mas assim que a tragédia for substituída por outra – o Brasil é pródigo em produzi-las – haverá uma nova onda de indignação que jogará a história dos garotos no esquecimento. É assim que a roda gira.
É impossível remediar a perda de dez vidas que tinham uma história a construir, fosse como profissionais, como novos Zicos, como novos Júlio César, como novos Vinícius Júnior. O mínimo que o Flamengo pode fazer é fazer de tudo para evitar que algo minimamente parecido volte a ocorrer.
Nesta infame sexta-feira, dia 8 de fevereiro, morreram aqueles que poderiam ser campeões brasileiros, mundiais, ou simplesmente pais de família, trabalhadores comuns. Que Arthur Vinícius, Athila Paixão, Bernarso Pisetta, Christian Esmério, Gedson Santos, Jorge Eduardo Pereira Santos, Pablo Henrique da Silva Matos, Rykelmo de Souza Viana, Samuel Thomas Rosa e Vitor Isaías nunca sejam esquecidos.
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