O que é realmente o Fórum de Davos? Quem é Klaus Schwab? O que significa o Great Reset [Grande Reinicialização] e que papel ele teve em relação à Covid-19?
Essas e outras perguntas, feitas pelo editor da Bussola Riccardo Cascioli, foram respondidas pelo economista Maurizio Milano em videoconferência no dia 3 de maio, intitulada “Il pifferaio di Davos”. Um encontro cujo título ecoa o livro recém-lançado por Milano, Il pifferaio di Davos (D'Ettoris), que se baseia na análise de documentos públicos, livros escritos pelo próprio Klaus Schwab, informações e vídeos presentes no site oficial do Fórum Econômico Mundial (em inglês, World Economic Forum - WEF): portanto, não um livro baseado em “teorias da conspiração”, mas em declarações precisas e facilmente verificáveis.
O que é o Fórum de Davos?
Aprofundar o tema do Fórum de Davos, cujas origens remontam a 1971, é de grande importância, “porque afetam nossa vida cotidiana”, como enfatizou Cascioli.
São temas que afetam muitas áreas, mas com um fio condutor comum, que Milano resume da seguinte forma: “Os vários pontos do programa de Davos estão, na verdade, ligados ao que eles chamam de iniciativa Great Reset”. Mais especificamente, é a “Grande Reinicialização do capitalismo”, ou seja, a ideia de superar o modelo de pequenas e médias empresas, a nível nacional, para substituí-lo por uma nova governança supranacional em nível político e econômico.
Em outras palavras, o WEF visa a uma coalizão entre o público e o privado, “portanto, entre os grandes grupos industriais e financeiros em nível multinacional, o poder político, os bancos centrais, as grandes instituições financeiras que, entre outras coisas, fazem parte do board (conselho administrativo) em Davos”. No livro, acrescenta Milano, “coloquei nomes e sobrenomes, portanto tudo é verificável”.
Desde seu início, quando se chamava Simpósio Europeu de Administração, o Fórum de Davos defendeu as ideias de um ambientalismo catastrófico e, basicamente, anti-humano.
“Em uma das primeiras reuniões, em 1973, do que era então o fórum europeu, eles convidaram Aurelio Peccei, do Clube de Roma”. Isso foi apenas um ano após o lançamento do relatório The Limits to Development (Os limites do desenvolvimento), cuja ideia básica era reduzir a população mundial, de acordo com o pressuposto de “somos muitos” e “sustentabilidade”, a custo de uma série de consequências negativas, devido à suposta insuficiência de recursos. Mas todas as previsões sinistras deste relatório – incluindo o fim iminente dos combustíveis fósseis – “não se tornaram realidade”, como lembra Milano. “Pelo contrário, a população aumentou, mas a riqueza aumentou ainda mais rápido, tanto que centenas de milhares de pessoas saíram da pobreza, graças justamente à liberdade econômica, ao intercâmbio e ao comércio”.
Klaus Schwab e seus mentores
Com relação ao papel de Schwab, ele deve ser enquadrado corretamente, sem cair no erro de acreditar que haja “um velho enorme puxando as cordas, porque na realidade os indivíduos mudam, mas certas dinâmicas continuam quase com sua mecânica própria”. É por isso que, acrescenta Milano, “mais do que organizador, eu o chamo de frontman”, no sentido de que Schwab é o mais visível em Davos, mas certamente a influência de figuras como Bill Gates, George Soros e, antes disso, Henry Kissinger, que morreu há apenas alguns meses, é maior. Afinal de contas, diz o autor de Il pifferaio di Davos, Schwab “era um professor universitário normal e não se entende como ele deu esse salto”, se não com a presença de pessoas influentes por trás dele, que lhe permitiram “criar gradualmente uma rede internacional”, com a intenção de “conectar todas as pessoas poderosas em nível político, econômico e financeiro”, com vistas a uma governança global.
Na prática, o WEF visa a uma governança fortemente elitista “onde os melhores – e aqui é claro o viés tecnocrático – liderarão a partir do centro e de cima em direção ao ‘novo normal’, centralizando recursos e decisões. Para fazer isso, eles se concentram na narrativa”.
Covid, “grande oportunidade”
A gestão da Covid acelerou o projeto de Davos, tanto que Schwab escreveu um livro sobre o assunto, intitulado Covid-19, The Great Reset (julho de 2020), no qual “ele chamou a epidemia de uma grande oportunidade, uma oportunidade a ser aproveitada, a ser aproveitada depressa, precisamente para provocar essa transformação abrangente de como vivemos, comemos e nos movemos: em suma, não exatamente um projeto democrático”.
Essa transformação exige lançar mão da linguagem, da comunicação, construindo – com a cumplicidade da grande mídia – narrativas capazes de condicionar as massas, a ponto de fazê-las perder o senso de realidade e levá-las a aceitar grandes sacrifícios, como a redução de liberdades fundamentais, lockdowns, chantagens sobre vacinação, em vista de um bem apresentado de tempo em tempo como maior (saúde, meio ambiente etc.). Vimos isso justamente com a Covid.
A Grande Narrativa
E esse sistema de pensamento está bem presente em outro livro de Schwab, The Great Narrative (2022), em que o fundador da WEF, explica Milano, “diz uma frase de arrepiar: ‘As narrativas guiam nosso comportamento’”. Schwab sabe muito bem que a realidade é tenaz, mas também sabe que, ao difundir continuamente a mesma mensagem, apelando para sentimentos e emoções, muda-se a percepção da realidade e altera-se o comportamento das pessoas, que se convencem a aceitar “sacrifícios inimagináveis”, iludindo-se de que, fazendo assim, “tudo ficará bem”.
Schwab e seus associados, acrescenta Milano, “chamam isso de narrativa, mas o termo mais correto é propaganda em redes unificadas em nível mundial”.
Veja também o que está acontecendo com o catastrofismo climático, em torno do qual existe o chamado “consenso” científico, pelo menos no nível de percepção, porque todos aqueles que pensam de forma diferente – entre muitos, o ganhador do Prêmio Nobel de Física, John Clauser – “são afastados” e condenados ao ostracismo. Isso é claramente feito por meio da mídia, com o uso de rótulos e termos bem pensados (conspiracionistas, negacionistas, no-vax, fake news etc.) para desacreditar a priori até mesmo os argumentos mais sólidos.
Carro e casa, dois alvos da grande reinicialização
A segunda parte de Il pifferaio di Davos esclarece o que o Great Reset significa em muitos campos concretos, doze para ser exato, incluindo carros e moradias. Com relação aos carros, explica Milano, “parece que a ideologia está um pouco em xeque”, porque estamos percebendo que é impossível fazer com que todas as pessoas mudem para um carro totalmente elétrico, “simplesmente não há materiais para construir isso, os preços disparariam. A implementação dessa agenda significaria, de fato, em primeiro lugar, tirar o segundo carro das famílias que o têm: e, nas cidades, significaria tirar também o primeiro”. Essa ideia de fazer com que o carro particular desapareça também emerge das declarações dos prefeitos do C-40, o grupo que reúne algumas das principais cidades metropolitanas do mundo.
Com relação às moradias, afirma Milano, “é também uma bela de uma porcaria, porque a obrigação de realizar requalificações energéticas em grande escala é certamente inviável, porque não teríamos nem os trabalhadores, nem os canteiros de obras, nem os meios financeiros para reformar milhões e milhões de casas ao mesmo tempo”. E subjacente a isso está a ideia, ventilada também por um estudo do Banco da Itália relatado pela Nuova Bussola em 1º de maio, de impedir que as casas sejam alugadas se não atingirem um determinado nível de eficiência energética.
“Esses imóveis perderiam valor”, explica o economista, “e, portanto, atingiríamos diretamente as famílias com mais dificuldades. E talvez eles sejam adquiridos no futuro por fundos de investimento que os comprarão a preço de banana”. Um projeto que Milano chama de “socialismo financeiro”, que visa atacar a propriedade privada, começando precisamente por um bem tão fundamental como a moradia.
Ermes Dovico é jornalista, bacharel em Ciências da Comunicação na Università degli studi di Palermo.
©2024 La Nuova Bussola Quotidiana. Publicado com permissão. Original em italiano: “Il pifferaio di Davos, ovvero: gli obiettivi del Great Reset”.