Ouça este conteúdo
A palavra “socialismo” assusta alguns dos democratas de hoje, mesmo que personagens importantes defendam o termo.
A deputada democrata Abigail Spanberger, que a duras penas conquistou um lugar na Câmara em 2018 e a duras penas o manteve em 2020, ganhou as manchetes depois que um comentário dela por telefone foi vazado para a imprensa.
Spanberger pedia a seus companheiros democratas: “Precisamos abandonar de vez as palavras “socialista” ou “socialismo”. Os norte-americanos pró-vida têm opiniões variadas sobre o tamanho e escopo dos programas do governo. Mas como o socialismo trata o direito à vida? Mal.
Na doutrina marxista, o socialismo é visto como uma etapa intermediária entre o capitalismo e o comunismo. As medidas socialistas reúnem os bens básicos – alimentação, moradia, saúde – e os distribui igualmente entre as pessoas, de acordo com a ideia de “para cada um de acordo com sua habilidade e necessidade”.
As medidas socialistas, portanto, são centrípetas – elas empurram os bens para o centro e destroem as instituições intermediárias como os governos locais, as empresas, igrejas e a família. O socialismo controla toda a criação e distribuição de riqueza. Para tanto, ele precisa controlar todas as políticas, inevitavelmente dando origem a um estado de partido único.
Como diz Mark Levin, “a genialidade diabólica do socialismo-marxismo é que ele cria um mapa emocional e intelectual para que os autocratas convençam milhões de pessoas a apoiarem a própria escravização pelo governo”.
Pegue a Revolução Bolchevique de 1917. Os bolcheviques tomaram o poder e incluíram a legalização do aborto em seu programa voltado para as mulheres.
A analista de saúde Michele Rivkin-Fish descreve os objetivos das política de saúde pública soviéticas dessa forma: “Depois de chegarem ao poder, em 1917, os bolcheviques atacaram a medicina abolindo os consultórios privados, criando um sistema gratuito e universal de saúde e tentando resolver os problemas sociais atrelados à saúde”.
O universalismo centralizado acabou com o ideal de Hipócrates de um médico agindo como servo e guardião da saúde do paciente. Em vez disso, o médico se transformou num servo do Estado.
A visão soviética do Estado como proprietário dos meios de produção transborda para as questões gestacionais. A lei era protonatalista – isto é, apoiava o aumento na taxa de natalidade – mas permissiva em relação ao aborto. O uso de contraceptivos era desestimulado e o resultado, previsível: no fim dos anos 1980, a taxa de abortos na União Soviética chegava a 70% de todas as gestações.
Sem o conceito de direito à vida e tendo em mente o conceito de servidão ao Estado (isto é, o Partido Comunista), ocorreu uma destruição em massa da vida humana.
Na China maoísta, a propriedade dos meios de reprodução pelo Estado ficou evidente com a “política do filho único”, criada em 1980. Essa medida deu origem a abortos forçados realizados por autoridades de planejamento familiar que controlavam o país comunista.
Como documentou a ativista pelos direitos das mulheres Reggie Littlejohn, o aborto forçado continua acontecendo sob a nova política de “no máximo, dois filhos” imposta pelas autoridades chinesas, sobretudo em grupos minoritários desprezados pelas lideranças comunistas, sobretudo os uigures. De 1956 a 2015, estima-se que ocorreram 381 milhões de abortos na China.
Qual a posição dos Estados Unidos nisso tudo? Ainda não somos um país socialista. Em relação à saúde, somos semissocialistas.
O gasto público com a saúde é ligeiramente menor do que o gasto privado, mas o governo cria determinações e regulamentações que controlam boa parte dos gastos no setor privado. As propostas socialistas de um sistema universal e público de saúde, contudo, financiariam o aborto para qualquer pessoa.
No Congresso norte-americano, a mais recente versão da lei apresentada pelo senador Bernie Sanders teve 15 coautores; a versão da Câmara, apresentada pela deputada Pramila Jayapal, teve 119. É provável que esse número aumente em 2021.
O presidente Joe Biden indicou que não apoia um sistema universal de saúde, mas não por causa do aborto. Ele não faz objeção ao modelo socialista ditatorial da China e, em 2011, disse a uma plateia de chineses que “entendo totalmente sua política de um filho por família”.
Um estudo realizado pelo Charlotte Lozier Institute em 2014 descobriu que, dos 199 países ao redor do mundo, apenas sete têm leis que permitem o aborto eletivo depois de 20 semanas de gestação. Nesse grupo infeliz estão a Coreia do Norte, o Vietnã, a China, o Canadá — e os Estados Unidos.
O que esses países têm em comum? Em nenhum deles as pessoas votaram para que medidas extremas virassem leis. O caminho sempre foi a militância ou os tribunais.
A primazia socialista do coletivo sobre o indivíduo, sua insistência na valorização do Estado e na desvalorização da fé e da família, sua submissão ao Estado como provedor de todos os bens e sua destruição da medicina, tudo isso mina o direito à vida.
O socialismo, o estatismo e o aborto andam de mãos dadas. Os conservadores têm todos os motivos, ao contrário de Spanberger, para garantirem que a “palavra que começa com ‘s’” continue sendo ouvida.
Charles A. Donovan é presidente do Charlotte Lozier Institute.