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“O Jugo”: a história de pobreza e progresso por trás de uma obra-prima

.Obra de Eero Järnefelt mostra a dura realidade da agricultura pré-industrial numa Finlândia bem diferente do país próspero que conhecemos hoje. (Foto: Reprodução/ Wikipedia)

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“Se você tem forças, trabalhe duro. Se não tem, então morra”.
- Arvid Järnefelt (1861-1932)

Qual o quadro mais assustador da Revolução Industrial? Há três fortes concorrentes ao título. “A Balsa da Medusa” (1819), de Théodore Géricault, “O Vagão da Terceira Classe” (1864), de Honore Daumier, “Candidatos à Admissão na Enfermaria” (1908), de Luke Fildes ou “O Grito” (1893), de Edvard Munch.

Além desses, há somente um quadro da Revolução Industrial que realmente me assombra e me deixa incomodado. Muitas das pinturas realistas da Revolução Industrial expressam uma imagem do progresso, com homens e mulheres trabalhando em máquinas na criação de uma civilização em expansão.

“O Jugo”, contudo, é uma obra completamente diferente. É profundamente emocionante, quase aterrorizante, com personagens tão verdadeiros e cheios de emoção que parece quase uma fotografia.

Eero Järnefelt (1863-1937) nasceu numa família rica, próspera e cheia de dons artísticos. Ele se mudou para Savo, uma região no leste da Finlândia, no verão de 1893. Lá, ele desenhou e fotografou agricultores na fazenda Rannan Puurula. Em “O Jugo” (1893), sua obra mais famosa, vemos o processo de queima das ervas-daninhas, método manual e cansativo de limpar o terreno.

O trabalho era árduo e, sem o uso de equipamentos mecanizados, era feito quase que exclusivamente pelos mais pobres, que tinham dificuldade para produzir alimento o bastante sob a ameaça sempre presente da fome. Na falta de equipamentos mecanizados, fertilizantes derivados do petróleo e pesticidas, a agricultura pré-industrial era incapaz de gerar até mesmo um minguado excedente. O resultado era a miséria aparentemente irremediável e a sofrida falta de comida.

Järnefelt retrata Johanna Kokkonen, com 14 anos. Seus olhos azuis e o rosto coberto de fuligem lembram que a vida pré-industrial não se solidarizava com o trabalhador, independentemente de sexo ou idade. Järnefelt pintou Johanna com o rosto coberto de preto e uma barriga ligeiramente inchada, sinal de deficiência de proteína — ainda que não se saiba direito se isso foi uma licença poética.

Desde a infância, todos os membros da fazenda pré-industrial tinham de trabalhar duro para enfrentar a entropia e deter a fome. Johanna, personagem no centro da obra, exibe uma expressão de exaustão profunda e de medo resignado. Vemos nos olhos dela que ela sabe que, se os campos não forem limpos a plantação não vingará e sua família não terá comida o bastante para enfrentar os meses de inverno.

Järnefelt não explica todos os personagens presentes na obra, mas podemos depreender do contexto que se trata de uma família, possivelmente o pai em primeiro plano, o irmão no fundo à esquerda, e a irmã e mãe centralizadas, com talvez o avô no fundo, à direita. A queima e a limpeza das ervas-daninhas eram um trabalho do qual nenhuma pessoa estava isenta.

Entre as chamas e a fumaça, o artista abre uma janela para a paisagem mais ampla. Mas a natureza não deixa o espectador à vontade. A floresta foi privada da beleza pelo contexto assustador da pintura. Essa visão só amplifica a sensação incômoda de isolamento e a escala do cenário no qual trabalha a família.

A agricultura de subsistência, sobretudo em regiões remotas, era uma vida precária, na qual o comércio era limitado e na qual a sobrevivência da família era produto do trabalho manual incansável. O irmão de Eero Järnefelt, Arvid Järnefelt, entendeu o tamanho da miséria da agricultura pré-industrial ao escrever: “Se você tem forças, trabalhe duro. Se não tem, então morra”. Sem excedente de alimentos ou recursos, os pobres sem-terra viviam sem rede de segurança e estavam sempre a uma safra fracassada de distância da fome e da pobreza extrema.

Essa foi a única obra importante do tipo que Eero Järnefelt pintou na vida. Ele jamais criaria ou exibiria uma obra com uma mensagem social tão poderosa e de alguma forma incômoda. Järnefelt conhecia bem a pobreza dos camponeses sem-terra, mas a controvérsia em torno da pintura o levou a, posteriormente, trocar o título da obra para “A Queima das Ervas-daninhas”.

Na época em que o quadro foi pintado, em 1893, a expectativa de vida na Finlândia era de apenas 43 anos e o PIB per capita era de apenas US$2.170. Nos 126 anos desde que Järnefelt pintou Johanna Kokkonen, a expectativa de vida na Finlândia aumentou para 82 anos e o PIB per capita para mais de US$42.000. Este é o impacto da ciência, tecnologia, industrialização e comércio no padrão de vida não só da Finlândia, mas do mundo todo.

Tony Morley é escritor, pesquisador, pensador e proponente do projeto #HumanProgress.

© 2021 FEE. Publicado com permissão. Original em inglês 

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