Ao ler o manifesto do Partido Trabalhista, liderado por Jeremy Corbyn, percebi o quão perto o Reino Unido está da catástrofe – uma catástrofe que tornaria todo o episódio de Brexit algo de menor importância. Salvo um acidente, é improvável que o Partido Trabalhista vença as eleições do dia 12 de dezembro. Se isso acontecer, ele dará início a um governo quase totalitário – o que não surpreende, uma vez que o vice de Corbyn, John McDonnell, é admirador de Karl Marx, Vladimir Lênin e Leon Trotsky, que ele descreveu como a maior influência sobre sua visão de mundo. O próprio Corbyn é um admirador do ex-presidente venezuelano Hugo Chávez.
Em resumo, o manifesto do Partido Trabalhista promete aumentar o poder dos sindicatos, aumentar o imposto de renda para todos que ganham mais de $100 mil por ano, aumentar o imposto de pessoa jurídica em mais de um terço (para 26%) e obrigar empresas com mais de 250 funcionários a distribuir 10% do faturamento entre os empregados – o que na verdade é outro imposto cobrado das empresas. O Partido Trabalhista vive num mundo onde, quando você aumenta impostos, sua arrecadação cresce na exata proporção do aumento da alíquota: e os contribuintes não mudam seu comportamento em consequência disso.
Os trabalhistas querem gastar o dinheiro em coisas como 150 mil funcionários a mais para o tratamento de crianças com baixa inteligência e outros problemas, incluindo necessidades especiais de educação, avaliações mentais de rotina para lactantes (queiram elas ou não), um Ministério dos Direitos Trabalhistas, uma Lei do Bem-Estar das Gerações Futuras, a nacionalização das ferrovias e serviços públicos e de parte da indústria de telecomunicação, mais gasto em programas assistenciais e no Serviço Nacional de Saúde – com aumento de 5% nos salários dos funcionários públicos – e aumentos de salários garantidos posteriormente, acima da inflação, independentemente das condições econômicas.
Neste cenário, os aumentos de salário propostos serão proporcionalmente maiores do que os aumentos de gastos propostos para o NHS (cujos salários respondem por 45% dos custos totais), fazendo jorrar dinheiro dos contribuintes nos bolsos de indivíduos, sob o disfarce de melhorar a saúde pública. Isso é um meio de aumentar a quantidade de funcionários trabalhando para o NHS. É um clientelismo disfarçado: não é de se admirar que no manifesto se lê: “Nossos ativos mais valiosos são nosso povo dedicado que trabalha no serviço público”. Isso é verdade – para o Partido Trabalhista.
Ainda que a arrecadação seja duvidosa, os gastos, depois de iniciados, são garantidos. Não é muito difícil prever o que aconteceria se os trabalhistas fossem eleitos e tentassem pôr as propostas em prática: a fuga de capitais se segue ao controle de capital, e depois vem a perda de confiança e a ausência total de investimento, seguidos pelo investimento obrigatório (o que exigirá impostos ainda maiores) e o controle governamental sobre a economia — criando uma espiral descendente que levará à emigração de todos os que podem ganhar a vida em outro lugar.
O caos e a degradação seriam maiores do que qualquer coisa já vista no Reino Unido. O prospecto de um golpe militar, com o apoio de boa parte da população, não seria um exagero; tampouco seria exagerado imaginar, enquanto o governo tentasse subornar ou dissolver as forças armadas, um mergulho nas condições semelhantes à venezuelana, nas quais o papel-higiênico seria um privilégio, tudo em nome da política social. Mesmo que Corbyn não ganhe, milhões de pessoas votarão nisso.
Theodore Dalrymple é editor colaborador do City Journal, ocupa a cadeira Dietrich Weismann no Instituto Manhattan e é autor de vários livros.
© 2019 City Journal. Publicado com permissão. Original em inglês
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