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Quinze dias atrás coloquei no Facebook uma foto minha usando uma camiseta de repúdio a Che Guevara, com a intenção de mostrar aos meus amigos que sei quem são meus heróis. Em menos de 24 horas minha caixa de entrada foi inundada por mensagens de jovens africanos condenando minha escolha de indumentária.

Essa foto e as discussões que ela desencadeou me conscientizaram de uma realidade que há muito tempo eu vinha evitando encarar de frente: que a situação da África é mais precária que o sofrimento gerado pela fome e as guerras, e que a próxima geração, vista por muitos como seu caminho para a prosperidade, pode, na realidade, constituir-se no maior obstáculo a ela. 

A maioria das mensagens questionava minha falta de apreço por um homem que ajudou a mobilizar a condenação internacional do regime do apartheid na África do Sul e que combateu os colonialistas durante a guerra de independência do Congo. 

A seguir, uma amostra das respostas, que foram resumidas mas praticamente não editadas: 

“Não renegue seus ancestrais, meu irmão. Nós africanos jamais voltaremos a entregar nosso futuro aos imperialistas brancos. VIVA ALUTA”, escreveu um ex-colega meu da Nigéria que se diplomou em filosofia. 

“Sr. Ibrahim, sempre acompanhei suas opiniões, mas estou honestamente decepcionado com essa reação. Se você acha que lutar por nosso nacionalismo é uma ‘prioridade errada’, só posso dizer que você está perdido”, escreveu um estudante de direito da Libéria. 

“O Importante É que Ele (Che) Defendeu Seu Povo Quando Isso Foi Mais Necessário”, escreveu um ex-colega diplomado em ciência política. “Nenhum Ser Humano é Perfeito! ... e vocês outros são todos iludidos, reacionários e hipócritas. Especialmente você, Ibrahim Anoba. Vocês querem mudar o status quo. Não importa o que vocês pensavam dele. Isso não muda um átimo da essência e natureza heroica dele. Che defendia a ESQUERDA. Está MUITO evidente que vocês todos são Demônios Capitalistas e Direitistas. O 1% dominando os 99%.” 

“Vá viver sua própria vida, cara. A LIBERDADE vem vindo e a burguesia será expulsa, como MARX disse, e você pode se juntar a ela”, escreveu um amigo. “O socialismo verdadeiro vem por aí, e Sowore (um candidato presidencial esquerdista nigeriano) vai liderar nossa revolução. UHURU (liberdade)!” 

Essas são as mensagens sensatas. As outras são ou incoerentes demais ou racistas demais para serem reproduzidas (todas dirigidas contra os “imperialistas brancos”). Como eu respondi? 

Falei a eles que a finalidade da camiseta não é negar os muitos atos de rebelião de Che Guevara, mas lembrar às pessoas o legado perverso que esses atos deixaram para a vida de muitas pessoas hoje. Mas isso é secundário. O fato de esses jovens africanos enxergarem como herói um dos líderes mais brutais da história moderna revela muito sobre o tipo de liderança que o continente pode prever que terá nos próximos anos. Os libertários africanos precisam se preparar para encarar uma batalha filosófica, agora. 

A África de seus ideais 

Esses jovens africanos são inteligentes e empreendedores, mas essas qualidade não ajudaram muitos deles a entender o que é melhor para sua prosperidade. Eles estão evidentemente fartos de viver em um sistema que sufocou seus potenciais e suas liberdades, mas, mesmo assim, escolheram se orientar pela filosofia errada. 

Eles rejeitam amargamente seu passado colonial e pensam que a única maneira de fazer a África prosperar é repudiar o capitalismo ocidental e abraçar o marxismo. Pelo fato de suas mentes estarem tão obstruídas pela ira, eles sem querer apoiam o próprio sistema que os tornou tão miseráveis. 

Para eles, o capitalismo empobreceu a África. O continente só poderia ser salvo pela instituição da ordem marxista ideal da distribuição igual de recursos, realizada por um governo centralizado. Eles acreditam que, se esse sistema for praticado de sua maneira mais verdadeira e sincera, os resultados não vão falhar. 

Na realidade deles, o imperialismo é o inimigo, o capitalismo é seu instrumento e os políticos africanos são os intermediários. Logo, todos devem ser rejeitados furiosamente e substituídos por bons homens em uma ordem socialista africana consciente que garanta a prosperidade de empreendedores e a proteção das liberdades civis. 

Onde eles se equivocam 

A psicologia prova que as pessoas frequentemente são um reflexo de sua experiência de vida e do ambiente em que cresceram. Por isso não podemos criticar completamente esses jovens africanos e seu pensamento confuso. 

Eles são de uma geração que nasceu em meio a sistemas falidos devido a anos de ditadura militar e um romance com o capitalismo clientelista. A maioria deles sobrevive a duras penas, desafiando as muitas dificuldades que são capazes de derrotar a determinação das pessoas. Mas a chave da sobrevivência da África está em seu passado. 

Antes do colonialismo e do evangelismo estrangeiro, poucas sociedades africanas tradicionais abraçavam governos poderosos ou lhes atribuíam primazia sobre as liberdades individuais. Nossos antepassados hesitavam em conferir autoridade excessiva ao Estado, especialmente no que tangia ao comércio e à vida pessoal. 

Os africanos sempre se distanciaram da má liderança, chegando a desterrar ou executar líderes que deixassem a desejar. Para evitar isso, geralmente compartilhavam o poder entre conselhos e clãs. 

Assim, se os jovens marxistas africanos de hoje pensam que nacionalistas que escravizaram e empobreceram seu próprio povo são heróis dignos de serem festejados e emulados, estão ignorando milhares de anos de história. Outra coisa: o comércio e o empreendedorismo não são invenções ou imposições ocidentais. São valores africanos originais. Os africanos sempre exemplificaram os princípios liberais clássicos do livre mercado e das vantagens comparativas, desde os tempos da tribo Khoe-San da Namíbia. A história nos ensina que essa era a chave de sua sobrevivência. 

Mas há um vislumbre de esperança de que a África possa encontrar a salvação em seus libertários dedicados. 

O desafio é real para a Geração do Guepardo 

Quando o professor George Ayittey, o maior economista liberal clássico africano, popularizou a analogia dos guepardos versus os hipopótamos em sua célebre palestra TED de 2007, ele abriu os olhos do mundo para uma nova geração de jovens empreendedores africanos dispostos a fazer o continente avançar com o empreendedorismo. Mas o que ele não identificou foi a crescente tendência marxista entre esses empreendedores africanos “velozes”, que criaram obstáculos a esse processo. 

Essa ideologia marxista é avassaladora, e a maioria das instituições africanas de ensino superior a difunde. Alguns libertários africanos entendem esse dilema e estão trabalhando para levar prosperidade ao continente. Mas eles são poucos. 

Para esses libertários, a luta de ideias é muito real. E eles precisam levar em conta o fato de que a luta africana pelo progresso e a prosperidade não é travada apenas contra as brigadas do passado – é também uma batalha filosófica de ideias contra a esquerda ascendente.

Ibrahim B. Anoba é um Young Voices Advocate e vive em Lagos, Nigéria. Ele é comentarista de economia e relações internacionais africanas

Tradução por Clara Allain

©2018 Foundation for Economic Education. Publicado com permissão. Original em inglês

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