Os movimentos pelos direitos de transgêneros e gays são com frequência tratados como uma coisa só — inclusive na própria sigla LGBT. Por isso muitos observadores presumem que a causa transgênero seguirá uma trajetória similar. Mas há um motivo pelo qual os ativistas transgêneros não obterão o mesmo nível de sucesso rápido do qual os ativistas dos direitos de gays desfrutaram durante as últimas décadas.
A aceitação ampla do casamento gay representou uma das mudanças mais extraordinárias da opinião pública em uma grande questão social na história americana. Em 1996, o Ato de Defesa do Casamento [que proibiu o casamento gay] passou com tranquilidade por ambas as casas do Congresso e foi sancionado em lei por Bill Clinton. Em 2004, o ano em que onze estados baniram o casamento gay por referendo, os americanos se opunham ao casamento gay com uma margem de dois para um (ou 60% contra 31%), de acordo com o Pew Research Center. Em 2008, o mesmo eleitorado californiano que votou em Barack Obama com vantagem de 24 pontos percentuais também aprovou um referendo banindo o casamento gay.
Contudo, em 2014, ano anterior à decisão da Suprema Corte que o casamento gay era um direito constitucional, a maioria dos americanos passaram a apoiar o casamento gay. Em 2019, 61% dos americanos o apoiavam, contra 31%. Ou seja, durante um período de 15 anos na política americana caracterizado por divisões partidárias ferrenhas, o país foi de dois contra o casamento gay para cada apoiador a dois a favor para cada contrário.
Muitas pessoas presumiram que a mudança rápida na opinião pública com relação ao casamento gay indicaria para onde iria o movimento pelos direitos dos transgêneros. Os democratas aderiram à moda de falar em “pessoas grávidas” e “pessoas que menstruam” [em vez de mulheres] e muitos republicanos (até recentemente) ficavam acanhados ao abordar a questão. Além disso, muitos dos pessimistas do “colapso da América” na direita presumiram que as opiniões sobre a identidade de gênero seguiriam o mesmo caminho das tendências quanto à orientação sexual.
Mas há uma diferença fundamental entre os dois movimentos por mudanças sociais. Embora haja muitas razões para a mudança rápida na opinião sobre o casamento gay, um componente forte dela foi o cerne libertário. Os proponentes defendiam que se homens se apaixonassem e decidissem que queriam viver a vida juntos pudessem oficializar tudo isso. O problema era deles e de ninguém mais. Os argumentos dos conservadores sociais a respeito de uma deterioração do casamento tradicional não convenceram sobretudo geração mais jovem, pois as pessoas concluíram que o casamento de um casal do mesmo sexo não representa uma ameaça à capacidade de outrem de ter um casamento heterossexual feliz. O argumento libertário foi o que ajudou a convencer muitos republicanos que defendem um governo reduzido, além dos eleitores independentes. Em 2004, só 19% dos republicanos apoiavam o casamento gay, de acordo com a Gallup, mas em 2021 eram uma maioria de 55%.
O que é substancialmente diferente no debate atual no fronte transgênero é que ele se afastou da estratégia bem-sucedida dos proponentes do casamento gay. Enquanto o público aceita de forma ampla a ideia de que adultos que se identificam com um gênero diferente e se submetem a tratamento hormonal para viver suas vidas devem ter espaço para fazê-lo, os ativistas transgêneros estão fazendo pressão por mudanças que têm ramificações diretas para outras pessoas. Dois homens se apaixonando e se casando podem não afetar diretamente nenhuma outra pessoa, mas quando um atleta que passou pela puberdade masculina começa a dominar um esporte feminino, afeta.
É notório que no debate dos direitos dos gays, quando chegou a questão de se confeiteiros e fotógrafos devem ser forçados a fazer serviços para casamentos gays, o público se dividiu muito mais que no casamento gay, com os republicanos na maior parte dizendo que essas empresas devem ser livres para recusar o serviço. As pesquisas indicam que o movimento transgênero também está em terreno menos estável no que se refere a ganhar o apoio para políticas que se afastam de uma atitude de “viva e deixe viver”.
Em uma pesquisa da Gallup do ano passado, por exemplo, dois terços dos americanos foram a favor de permitir que as pessoas transgêneros sirvam abertamente nas forças armadas. Mas a mesma pesquisa descobriu que 62% acreditavam que homens e mulheres transgêneros devem competir em equipes que refletem o seu gênero de nascença.
Uma pesquisa YouGov sobre diferentes questões de transgêneros descobriu que uma maioria dos adultos dizem que uma pessoa deve poder se autoidentificar legalmente com um gênero diferente de seu sexo biológico, mas as maiorias se opuseram a permitir que mulheres transgêneros participem em eventos esportivos femininos ou que homens biológicos que não fizeram a cirurgia de transição usem o vestiário ou banheiro feminino meramente pela autoidentificação como mulher.
A questão dos esportes femininos provavelmente se revelará como um tiro que saiu pela culatra para o movimento transgênero à medida que mais pessoas testemunham o que isso significa na prática. Isso pode ser visto de forma dramática no caso da nadadora Lia Thomas, da Universidade da Pensilvânia, que estava na 462ª posição no ranking da natação masculina, mas saltou para o primeiro lugar do país depois de fazer a transição de gênero e ganhar permissão para competir na divisão feminina.
As colegas de time, que falaram anonimamente por medo de repercussões, reclamaram da injustiça fundamental de permitir que alguém com vantagens biológicas inerentes compita contra mulheres que trabalharam duro para chegar aonde estão, mas agora não têm nenhuma chance de sucesso. Em uma entrevista recente, uma colega falou da sua “frustração” com a decisão “insana” e a recusa da universidade e da NCAA [Associação Atlética Universitária Nacional] de apoiar as mulheres cisgêneros [ou seja, não trans]. Ela contou que as colegas de equipe ficavam desconfortáveis vendo a genitália masculina de Lia no vestiário, mas ouviram do treinador que devem só “engolir o choro”.
Nota-se que a nadadora fez uma distinção entre a ideia de ser aberto e tolerante com atletas transgêneros e adotar uma política que é injusta para com os outros.
“Não é como se as pessoas estivessem discriminando a Lia e não permitindo que ela nade”, disse a nadadora da Universidade da Pensilvânia. “Ela se identificou como mulher e competiu na equipe masculina. Era a escolha que ela estava fazendo. Depois, decidiu competir com a equipe feminina. Isso não é algo que as mulheres cisgêneros estão escolhendo. Há categorias por uma boa razão. Elas fazem sentido e asseguram a competição justa. A NCAA não disse nada, e ao não dizer nada, estão discriminando as mulheres cisgêneros.”
Os ativistas transgêneros provavelmente encontrarão um público receptivo até o ponto em que estiverem dando foco a defender mais tolerância e compaixão. Se continuarem no caminho atual, porém, irão de encontro ao entendimento de biologia humana dos americanos e também à sua apreciação do que é justo.
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