O pior do Brasil são os brasileiros? Não nos Estados Unidos. Quando se mudam para a América do Norte, os estrangeiros de origem verde-amarela têm renda superior aos próprios americanos. O escritório de advocacia especializado em migração Hayman-Woodward PLLC fez as contas e concluiu: os brasileiros que vivem no exterior ganham, em média, US$ 55.000,00, contra US$ 54.460,00 dos cidadãos norte-americanos.
A renda dos brasileiros que vivem por lá é 7,2 vezes superior do que a média anual dos trabalhadores que vivem no Brasil, que fica próxima de US$ 7.600,00. Mesmo quando se compara os brasileiros que vivem em terras americanas, em relação aos que vivem no país e têm ensino superior completo, a diferença ainda é muito grande: US$ 55.000,00 anuais fora, contra US$ 10.600,00 dentro do Brasil.
Os Estados Unidos são o lugar mais procurado pelos cidadãos brasileiros que vivem fora do país: são 3,1 milhões de pessoas no exterior; destes, 1,3 milhão moram em terras americanas. É o equivalente à cidade de Guarulhos. Dentre as pessoas que escolheram os EUA, 95% estão empregados e 39% tem entre 30 e 44 anos. Entre todos os imigrantes que vivem em terras americanas, 71% falam inglês bem ou muito bem. Entre os brasileiros, o índice é consideravelmente maior: 83%. Aliás, 89% deles têm pelo menos graduação incompleta – sendo que 30% concluíram, pelo menos, uma faculdade, quase o dobro da média nacional.
“Nos EUA, muitos brasileiros encontram melhores oportunidades profissionais”, afirma Leonardo Freitas, sócio-fundador da Hayman-Woodward e especialista em imigração. “No Brasil, muita gente qualificada não consegue trabalhar na sua área de formação, e acaba trabalhando em funções de menor remuneração. Já para quem vem empreender nos EUA, os lucros também são maiores, uma vez existem menos impostos e burocracia, se comparado ao Brasil”.
Profissionais qualificados
Os brasileiros vivendo legalmente nos Estados Unidos têm portanto, índices educacionais muito superiores. E o desempenho deles é muito melhor, na média, do que seria se eles vivessem no Brasil – basta pensar que apenas 5% estão desempregados. É um indicador muito melhor do que os 12,7% registrados dentro do país ao fim de 2017. Mas também superior à taxa média de desemprego nos próprios Estados Unidos, que está em 7,4%. Por que isso acontece? Porque o brasileiro se mostra muito bem adaptado à vida no país.
Diferentemente de outras nações que enviam migrantes, os brasileiros que seguem para terras americanas são, em geral, urbanos e bem instruídos, o que facilita a adaptação. Além disso, os migrantes nacionais parecem ter grande capacidade de abrir negócios próprios: 25% trabalham por conta própria, contra 12% de todos os imigrantes e 9% dos próprios americanos. Desses 25%, 18% têm empresas informais e 7%, empresas formalizadas.
Esses profissionais, que no Brasil viviam principalmente em Minas Gerais, Rio de Janeiro, Goiás, São Paulo e Paraná, se distribuem basicamente por quatro setores: Serviços Profissionais, Científicos e Técnicos, Construção, Outros Serviços e Artes, Entretenimento e Lazer, Serviços de Alojamento e Alimentação. É comum que eles tenham mais de um emprego.
Por que mudar?
Dado esse bom desempenho, fica fácil de entender as motivações que levam os brasileiros para o exterior. Uma pesquisa de 2007, realizada entre pessoas que migraram para os Estados Unidos e mencionada no livro “Brasileiros nos Estados Unidos: Meio Século Refazendo a América (1960-2010)”, cita as principais causas: 55% buscam uma vida melhor, 12% querem recomeçar a vida, 11% querem um salário melhor e 10%, um emprego.
“A maior parte da imigração para os Estados Unidos parte do México e da América Central. São muitas pessoas que vêm de zonas rurais, têm baixa instrução e não estão adaptadas a uma rotina urbana”, diz Álvaro de Castro e Lima, coautor do livro e coordenador de uma plataforma online para conectar brasileiros que vivem em terras americanas.
“Os brasileiros sabem lidar melhor com situações de desemprego em cidades grandes, eles se viram muito bem. Se necessário, trabalham em dois ou três empregos”.
É o que os locais chamam de mort-time, na comparação com os empregos part-time (tempo parcial) e full-time (tempo integral).
A procura pelo país vem aumentando: em 2014, os brasileiros formavam a 19ª maior comunidade de estrangeiros vivendo nos Estados Unidos. Em 2000, formavam apenas a 28º. As regiões preferidas são, pela ordem, Flórida, Massachusetts, Nova York-Nova Jersey e Califórnia.
“Houve uma mudança significativa no perfil dos brasileiros que vieram morar nos EUA, principalmente nos últimos dois anos”, afirma Leonardo Freitas, da Hayman-Woodward.
“Para fugirem da crise política e econômica e da falta de segurança do país, muitos brasileiros extremamente qualificados vieram para os EUA em busca de qualidade de vida e de boas oportunidades de trabalho, o que resultou em um movimento de êxodo intelectual”.
Os momentos de crise, de fato, estimulam as pessoas a deixar o país. “Ao longo dos mais de 50 anos da emigração brasileira para os EUA, o Brasil passou por diferentes períodos de dificuldade econômica, e assim houve picos de emigração brasileira”, afirma a coautora do livro, Alanni Barbosa de Castro. “O novo aumento no fluxo emigratório brasileiro coincide com momento em que o país vivencia severa crise econômica, política e social”.
Quatro dicas para se mudar
Segundo o sócio da consultoria Drummond Advisors, Bruno Drummond, é importante tomar alguns cuidados para fazer carreira em terras americanas:
1. Tenha paciência com a burocracia: Existem diferentes tipos de vistos e as permissões são tão complexas que, muitas vezes, é recomendável pedir suporte de um especialista – principalmente no caso de pessoas que querem abrir empresas nos Estados Unidos.
2. Melhore o inglês: O nível de proficiência do idioma local vai fazer toda a diferença na hora de procurar por emprego ou estabelecer relacionamentos com os locais. “Uma maneira de melhorar no idioma, conhecer a cultura local e melhorar sua capacitação profissional é fazer um curso de pós-graduação no país”, afirma Bruno Drummond, sócio da consultoria Drummond Advisors.
3. Declare imposto: Quem vive no exterior precisa encarar a Receita Federal dos Estados Unidos e continua precisando prestar contas para a Receita Federal brasileira. É importante tomar cuidado com essas documentações.
4. Ajuste sua postura profissional: Pontualidade, profissionalismo e produtividade são fundamentais. É preciso aprender a dizer “não” e evitar ao máximo o “vamos ver”. Nas reuniões de negócio, não é grosseria ir direto ao ponto.
Cidadãos de destaque
Os brasileiros que vivem nos Estados Unidos são muito bem-sucedidos:
- US$ 55.000,00 é a renda média anual dos brasileiros que vivem nos EUA, contra US$ 54.460,00 dos cidadãos americanos.
- No Brasil, a renda anual média é 7,2 vezes menor.
- 30% dos brasileiros que vivem nos EUA têm pelo menos ensino superior completo, contra 16% entre os brasileiros que residem em seu país de origem.
- 1,3 milhão de brasileiros vivem legalmente nos EUA.
- 5% estão desempregados, contra 6,4% da média dos imigrantes e 7,4% entre os cidadãos americanos.
- 39% tem de 30 a 44 anos e 57% é casada.
- 39 anos, em média, têm os brasileiros que vivem no exterior, 4 anos a mais do que a média de quem mora no Brasil.
- 42% do total de brasileiros morando no exterior estão nos Estados Unidos.
- 43% dos brasileiros morando nos EUA vêm de Minas Gerais; 31% do Rio de Janeiro, 23% de Goiás, 20% São Paulo e 17% do Paraná.
- 37% dos brasileiros obtiveram cidadania americana, menos do que os 47% de todos os imigrantes que vivem nos Estados Unidos.
- 83% dos brasileiros falam inglês bem ou muito bem, comparado a 71% de todos os imigrantes.
- 18% dos brasileiros trabalha com Serviços Profissionais, Científicos e Técnicos, 13% com Construção, 12% com Outros Serviços e 11% com Artes, Entretenimento e Lazer, Serviços de Alojamento e Alimentação.
- 25% dos brasileiros trabalham por conta própria, contra 12% de todos os imigrantes e 9% dos próprios americanos.
- 20.000 empreendimentos de pequeno porte são mantidos por brasileiros no exterior.
Fontes: IBGE; Hayman-Woodward PLLC; Departamento Consular e de Brasileiros no Exterior; “Brasileiros nos Estados Unidos: Meio Século Refazendo a América (1960-2010)”