Donald Trump é uma mistura incoerente de boas e más políticas econômicas.
Alguns de seus prováveis oponentes em 2020, contudo, são coerentes, mas loucos.
E loucuras econômicas existem também em outros países.
O socialismo arruinou a Alemanha Oriental
Numa coluna para o New York Times, Jochen Bittner fala sobre como uma figura em ascensão no Partido Social-Democrata da Alemanha quer o mesmo socialismo que fracassou na antiga Alemanha Oriental.
O socialismo, a ideia de que as necessidades dos trabalhadores são satisfeitas pela coletivização dos meios de produção (...) Um sistema no qual as fábricas, bancos e até mesmo as habitações são nacionalizadas exigia uma economia planejada como substituta da concorrência capitalista. O planejamento central, contudo, provou ser incapaz de satisfazer as demandas individuais das pessoas (...) Por fim, todo o sistema entrou em colapso; como em todos os outros lugares, o socialismo na Alemanha fracassou. E por isso é estranho, em 2019, ver o socialismo voltando à política alemã.
Mas estas provas do mundo real não importam para alguns alemães.
Kevin Kühnert, líder da juventude social-democrata e um dos maiores jovens talentos do partido, fez do socialismo seu cartão de visitas. Esqueça o socialismo de boutique de democratas norte-americanos como Bernie Sanders ou Alexandria Ocasio-Cortez. O sr. Kühnert, de 29, que o socialismo de verdade. Socialismo, diz ele, significa o controle democrático da economia. Ele quer substituir o capitalismo (...) O neossocialismo alemão é bem diferente do capitalismo (...) O sr. Kühnert tem como alvo específico o sonho americano como modelo de realização individual. (...) “Sem algum tipo de coletivização, é impensável vencer o capitalismo”, diz ele.
Em outras palavras, ele quer o socialismo real (isto é, o governo como proprietário de tudo). E isso supostamente quer dizer que ele também apoia o planejamento central e o controle de preços.
Leia também: Como “capitalismo” virou um palavrão
O que torna a ideia de Kühnert tão absurda é que ele obviamente não sabe nada sobre a história de seu próprio país.
Para o caso de ele ler este texto, vamos dar uma olhada nas provas históricas.
Comparando a Alemanha Oriental e Ocidental
O livro Planning Ahead and Falling Behind [Planejando e fracassando], de Jaap Sleifer, fala que a porção oriental da Alemanha era na verdade mais rica do que a porção ocidental antes da Segunda Guerra Mundial.
Toda a economia do país foi destruída pela guerra.
O que aconteceu posteriormente, porém, mostra a diferença entre o socialismo e a iniciativa privada.
Antes do Terceiro Reich a economia da Alemanha Oriental tinha uma renda per capita 103% maior do que a da Alemanha Ocidental, em comparação com apenas 31% em 1991. (...) Eis o caso de uma economia que era relativamente rica, mas empobreceu num período relativamente curto (...) Com base nas estatísticas oficiais, as taxas de crescimento do produto interno da Alemanha eram impressionantes. Mas o desempenho real não era nada impressionante.
Sleifer apresenta duas tabelas que merecem ser compartilhadas.
Primeiro, ninguém deveria ficar surpreso ao descobrir que as autoridades comunistas divulgavam números inúteis que exibiam um crescimento mais rápido.
O deprimente é que havia uns poucos norte-americanos ingênuos – incluindo economistas – que acreditavam cegamente nesses dados sem sentido.
Em segundo lugar, gosto desta tabela porque ela confirma que o nazismo e o comunismo são muito semelhantes em termos econômicos.
Embora eu ache que devamos dar aos alemães algum crédito pela qualidade dos produtos sob os dois tipos de socialismo.
Quem quiser ler mais sobre o desempenho econômico na Alemanha Oriental pode encontrar outros artigos aqui, aqui e aqui.
O capitalismo gera prosperidade
Mas quero chamar atenção sobretudo para uma coluna de um economista indiano. Escrita em 1960, muito antes do Muro de Berlim, ele comparava as duas metades da cidade.
Eis a situação na parte capitalista.
O contraste entre as duas Berlins não pode ser ignorada nem por uma criança em idade escolas. Berlim Ocidental, embora uma ilha dentro da Alemanha Oriental, faz parte da economia da Alemanha Ocidental e compartilha de sua prosperidade. A destruição pelos bombardeios afetou as duas partes da cidade. A reconstrução é praticamente completa em Berlim Ocidental.
As principais vias de Berlim Ocidental estão quase sempre engarrafadas com carros aparentemente prósperos e a indústria automobolística alemã, com seus carros grandes e pequenos, estão em evidência. (...) As lojas de departamento em Berlim Ocidental estão cheias de itens de vestuário e outros itens pessoais, e vários aparelhos para a casa tentadoramente exibidos.
Eis o que ele viu na parte comunista:
(...) Em Berlim Ocidental boa parte da destruição ainda é visível: ferro retorcido, paredes desmoronadas e pilhas de entulho são comuns na paisagem. As novas estruturas, sobretudo as habitações pré-fabricadas dos trabalhadores, parecem lugares sem vida, (...) os carros, geralmente velhos e pequenos, existem em quantidade muito menor do que em Berlim Ocidental. (...) As lojas em Berlim Oriental exibem artigos baratos em embalagens todas iguais e os preços de itens semelhantes, a despeito da baixa qualidade, são maiores do que em Berlim Ocidental. (...) Visitar Berlim Oriental dá a impressão de que se está visitando um campo de prisioneiros.
As lições, explicava ele, deveriam ser óbvias.
(…) o contraste entre as duas Berlins (...) a explicação está nos sistemas políticos divergentes. Sendo o povo o mesmo, não há diferença em talento, habilidade tecnológica e aspirações dos moradores das duas partes da cidade.
Em Berlim Ocidental, o trabalho é espontâneo e autodirecionado pelos homens livres que ambicionam o progresso. Em Berlim Oriental o trabalho é diretamente centralizado pelos planejadores comunistas. (...) O contraste na prosperidade é uma prova convincente da superioridade das forças da liberdade em relação ao planejamento central.
Milagre econômico pós-guerra
Samuel Gregg, escrevendo para a FEE, explica as causas mercadológicas do milagre econômico alemão no pós-guerra.
O mérito não foi apenas de Ludwig Erhard.
Há setenta anos, um grupo reduzido de economistas e juristas ajudaram a criar o que hoje é conhecido como Wirtschaftswunder, o “milagre econômico alemão”. Até mesmo entre alemães, nomes como Walter Eucken, Wilhelm Röpke e Franz Böhm não são muito conhecidos.
Mas é graças a esses incansáveis defensores da liberalização dos mercados em 1948 que o que era então a Alemanha Ocidental escapou do abismo econômico. (...) Foi um caso raro de intelectuais liberais exercendo um papel decisivo para libertar uma economia de décadas de políticas intervencionistas e coletivistas.
As forças norte-americanas que ocupavam a região não estavam do lado certo.
Na verdade, eles exacerbaram os problemas econômicos da Alemanha Ocidental.
(…) a reforma seria fácil: em 1945, uns poucos alemães eram simpáticos ao livre mercado. O Partido Social Democrata surgiu das catacumbas querendo mais planejamento econômico de cima para baixo, não menos. (...) Mais complicado ainda foi o fato de que as autoridades militares nas zonas ocupadas na Alemanha Ocidental, com muitos keynesianos em seus contingentes, admiravam as políticas econômicas do governo trabalhista de Clement Atlee no Reino Unido.
Na verdade, entre 1945 e 1947, os administradores aliados mantiveram boa parte da economia estatista e coletivizada criada pelos nazistas. Entre essas diretrizes estavam o controle de preços, o racionamento (...). O resultado foi a escassez de alimentos e altos índices de desnutrição.
A economia alemã cresceu quando eles acabaram com a inflação
Mas ao menos houve um final feliz.
As reformas de junho de 1948 promovidas por Erhard (...) abolição do controle de preços e substituição do marco nazista por quantidades menores de uma nova moeda, o marco alemão. Essas medidas acabaram com a inflação. Em seis meses, a produção industrial aumentou incríveis 50 por cento. A renda real começou a aumentar.
E a Alemanha nunca mais olhou para trás. Ainda hoje é um país razoavelmente voltada para o livre mercado.
Encerrarei com minha modesta contribuição para o debate. Com base em dados da OCDE, eis uma análise comparativa da produção econômica nas Alemanha Ocidental e Oriental.
Você notará que acrescentei linhas pontilhadas para mostrar que as duas nações supostamente começaram no mesmo nível depois do fim da Segunda Guerra Mundial.
Afirmo, ainda, que a linha azul provavelmente exagera a produção econômica da Alemanha Oriental. Se você duvida, leia este texto de 1990 do New York Times.
O fato é que as condições econômicas na Alemanha Ocidental e Oriental divergiam drasticamente porque um país tinha uma boa política econômica (a Alemanha Ocidental sempre esteve entre os 10 países de maior liberdade econômica entre 1950 e 1975) e o outro sofreu com o socialismo.
Esses números também deveriam ser muito convincentes, uma vez que a teoria econômica tradicional diz que as rendas nos países deveriam convergir. No mundo real, contudo, isso só acontece se os governos não geram muitos obstáculos à prosperidade.
Daniel J. Mitchell é um economista de Washington especializado em política fiscal, sobretudo reforma tributária, concorrência internacional e o peso econômico dos gastos governamentais. Ele também faz parte do conselho editorial do Cayman Financial Review.