Cobra Kai está de volta. A 4ª temporada começa na sexta-feira, e minha família assistirá o que talvez seja o sucesso mais surpreendente da década – e, pessoalmente, nosso favorito.
O spinoff de Karatê Kid tinha tudo para dar errado. Depois de várias sequências e reboots, a franquia parecia esgotada. Além disso, foi lançado como parte do plano malfadado do YouTube para competir com a Amazon e Netflix na produção de conteúdo original.
No entanto, Cobra Kai provou ser um sucesso. Depois de ser adquirido pela Netflix em junho de 2020, o show dominou as paradas de streaming da Nielsen [empresa que faz medição de audiência], acumulando rapidamente mais de 2 bilhões de minutos de streaming. A aquisição, como a Forbes colocou, transformou Cobra Kai de um sucesso obscuro no show número 1 na América.
O programa funciona por várias razões e tem alcançado os jovens (meus filhos não se cansam dele), em grande parte por ir contra as vacas sagradas da pós-modernidade e abraçar algumas ideias radicais: ser dono de si mesmo, responsabilidade pessoal e individualismo (no melhor estilo casca grossa dos anos 80).
Cobra Kai faz tudo isso com humor e um toque diferente. Os temas de individualismo e autoaperfeiçoamento são canalizados não através de um sábio sensei como o Miyagi, mas através do “degenerado” Johnny Lawrence, o vilão do Karatê Kid que notoriamente levou um chute no rosto no quinto ato.
O vilão que se tornou anti-herói
Lawrence (William Zabka) não é um protagonista provável. Se houvesse um Monte Rushmore de vilões pop dos anos 80, Johnny Lawrence estaria nele, preso em algum lugar entre Ed Rooney (Curtindo a Vida Adoidado), o juiz Smails (Clube dos Pilantras) e Biff Tannen (De Volta para o Futuro).
No Karatê Kid original, Johnny era o valentão aparentemente privilegiado que atormentava o novo garoto da classe trabalhadora de Jersey, impulsionando a transformação de Daniel Larusso de saco de pancadas em aluno de caratê e campeão de All Valley. (Larusso leva o título de Johnny, que até então era o campeão.)
Em Cobra Kai, as coisas mudaram.
Johnny é um faz-tudo sem sorte e bebedor de cerveja que assiste American Eagle sozinho em seu apartamento sujo. De seu Firebird vermelho, ele vê outdoors das concessionárias de automóveis de seu antigo inimigo, Larusso Motors, aparecendo em todo lugar. Ele é divorciado, afastado do filho e é preso logo no primeiro episódio. No entanto, sua vida muda quando um jovem em seu prédio chamado Miguel pede ajuda para lidar com alguns valentões da escola. Soa familiar?
Johnny concorda em treinar Miguel, mas ele não é nenhum Sr. Miyagi. Ele é rude, uma personificação ambulante da "masculinidade tóxica" e intolerante. Ele chama Miguel de “Menudo” (banda porto-riquenha que fez sucesso nos anos 80), faz piada sobre imigrantes, generaliza e, ocasionalmente, usa uma palavra depreciativa que se refere a uma parte do corpo feminino. Em determinado momento, Miguel pergunta por que ele não deixava as mulheres entrarem no Cobra Kai.
“Pela mesma razão de haver mulheres no Exército. Não faz sentido”, diz Johnny. “Não me venha com essa baboseira de machismo. Só estou dizendo que as mulheres não foram feitas para lutar. Eles têm ossos pequenos e ocos”.
Johnny rapidamente cede em deixar meninas entrarem para o Cobra Kai, no entanto, isso é apenas um passo em seu caminho para o crescimento. E é esse crescimento que torna a série tão interessante. Os pontos fracos de Johnny seriam aterrorizantes para o público moderno se não fossem equilibrados com o arco mais amplo da história: a transformação de Johnny de degenerado em um verdadeiro sensei.
Construindo força, aprendendo disciplina
Os espectadores veem que Cobra Kai - o dojo que atormentou Daniel Larusso em Karate Kid - não é de todo ruim. Sob a tutela de Johnny, uma safra de alunos desajustados aprendem algo importante: eles não precisam ser vítimas.
“Vou te ensinar o estilo de caratê que me foi ensinado. Um método de lutar que a sua geração necessita desesperadamente”, diz Johnny. “Você vai ganhar força. Você aprenderá disciplina. E quando chegar a hora certa, você vai contra-atacar”.
Essa mensagem é um pouco controversa, mas os escritores mostram de forma eficaz que não é apenas a força física que está sendo ensinada. Johnny ensina a seus alunos que eles têm poder e arbítrio. Um aluno, Eli, é zombado impiedosamente na escola por ter fenda palatina. Até Johnny zomba de Eli, chamando-o de "lip" (lábio). Ele se refere a outros alunos como “cara de cratera” e “piercing”.
Se a história terminasse aí, veríamos Johnny como um pouco mais do que um valentão cruel que não mudou nada desde que Daniel Larusso deu um chute em sua cara no torneio de 30 anos atrás. Em vez disso, no entanto, depois de sair brevemente do Cobra Kai por causa das piadas maldosas de Johnny, Eli volta mudado (de maneiras que são boas e más).
Esse é apenas um dos muitos exemplos de Johnny mostrando a seus alunos que eles têm o poder de moldar seus próprios destinos se puderem encontrar sua força interior, coragem e identidade. Tão importante quanto, vemos como essa filosofia é transformadora no próprio crescimento de Johnny.
Moral: assuma o controle de sua vida
Sem dúvida, alguns acharão as atitudes de Johnny terríveis; outros as acharão engraçadas. O importante é que Cobra Kai está essencialmente oferecendo uma filosofia de vida ensinada por Jordan Peterson — use seu poder e influência como indivíduo para assumir o controle de sua vida.
Johnny não continua sendo um azarado, um homem sem emprego fixo que assiste TV sozinho e é confundido com um sem-teto. Depois de ser demitido, ele ajeita sua vida. Ele inicia um dojo, assume Miguel como aluno, bebe menos, aprende a ensinar lições valiosas a seus alunos e a não rebaixá-los. Ele limpa seu apartamento.
Esse último item pode parecer sem sentido. Não é. Ele se encaixa perfeitamente na filosofia de ser dono de si mesmo, ensinada por Peterson como um caminho para o crescimento pessoal.
"Se você não consegue nem limpar seu próprio quarto, quem diabos é você para dar conselhos ao mundo?" Peterson diz: “Meu pensamento é que se você quiser mudar o mundo, comece por você mesmo e trabalhe externamente, porque você constrói sua competência dessa forma.”
Em essência, Johnny decide que é hora de assumir a responsabilidade por sua vida - a regra mais importante para Peterson - e esse é apenas um exemplo da exploração mais ampla do individualismo e da autocapacitação do Cobra Kai, temas que são explorados nas três primeiras temporadas.
Autossuficiência: um credo americano
A autossuficiência já foi um credo americano. Considerada a chave para uma vida plena - o grande ensaísta Ralph Waldo Emerson observou que “nada pode trazer paz a você, exceto você mesmo” - a filosofia saiu de moda. Mas é um tema que permeia Cobra Kai.
Ao longo das três primeiras temporadas do programa, vemos Miguel e seus amigos superarem os desafios da vida não por fofocar para professores ou fugir de ameaças, mas aprendendo a enfrentar seus medos e as externalidades que os encaram. Eles cometem erros ao longo do caminho. Amizades são rompidas. Pessoas se machucam. Mas eles ficam mais fortes em corpo, alma e mente, e aprendem que seu poder recém-descoberto deve ser equilibrado com outras virtudes, incluindo misericórdia.
Para as gerações que cresceram no que Jonathan Haidt e Greg Lukianoff chamam de culture of "safetyism", um tipo de fetiche por segurança e vitimização, Cobra Kai pode ser a tônica de que precisam para mostrar que a verdadeira força e o crescimento não são alcançados "consertando" a sociedade ou apelando para a autoridade resolver conflitos. Isso se faz mudando a si mesmo.
*Jonathan Miltimore é o editor-chefe da FEE - Foundation for Economic Education (FEE.org)