Nesta terça-feira (16) David Duke, ex-líder da Ku Klux Klan, grupo que prega a supremacia branca, declarou que Jair Bolsonaro (PSL) é um candidato muito forte e que ele soa como os membros da organização. A declaração evidentemente não favorece o candidato, já que a KKK é conhecida por atos de violência atrozes contra negros e outros grupos, como judeus e católicos. É importante frisar, no entanto, que o candidato do PSL se apressou em afastar qualquer tipo de apoio de Duke. Em sua conta no Twitter, afirmou em inglês que “rejeita qualquer tipo de apoio vindo de grupos supremacistas”.
Entenda o que é a Ku Klux Klan e qual é sua influência atual.
O que é e como surgiu a KKK
A organização surgiu ao final da Guerra Civil nos Estados Unidos, em 1865. Com a abolição oficial da escravatura, em 1863, a Ku Klux Klan começou a se reunir no Sul do país para perseguir e intimidar negros libertados. Conhecidos pela túnica branca com um capuz que cobre todo o rosto, os membros da KKK agrediam, matavam e estupravam pessoas negras e brancas que ajudavam ex-escravos.
A Ku Klux Klan chegou a arregimentar cerca de 6 milhões de membros em seu auge, em 1920. “Isso aconteceu porque, nessa época, a organização expandiu seus inimigos para outros grupos, como judeus e católicos”, diz a historiadora Linda Gordon, professora da Universidade de Nova York. Estima-se que o grupo tenha assassinado brutalmente cerca de quatro mil pessoas no sul dos EUA, entre 1870 e 1920.
A atuação do grupo era notória pela crueldade. Muitas vítimas eram enforcadas ou espancadas até ficarem desconfiguradas e alguns homens eram castrados. Em 1963, membros da KKK explodiram com dinamite uma igreja Batista em Birmingham, Alabama, matando quatro meninas negras de 11 a 14 anos e ferindo pelo menos mais 14 pessoas. Uma das meninas foi decapitada com o impacto da explosão e os corpos ficaram mutilados a ponto de dificultar seu reconhecimento.
De acordo com Linda Gordon, a KKK teve quatro momentos importantes na História: sua criação, logo após a abolição da escravatura, depois uma ascensão e queda durante os anos 1920, um novo fortalecimento entre os anos 1950 e 1960, durante os movimentos pelos direitos civis, e o período contemporâneo, quando coexiste com outros grupos de supremacia branca.
Qual é a conexão da KKK com o partido Democrata?
Após a emancipação dos escravos, o partido Democrata tornou-se o partido político dos sulistas interessados em manter a “supremacia branca”. Segundo Linda Gordon, nos anos 1920 a Ku Klux Klan chegou a ter 11 governadores e 45 congressistas eleitos.
Foi nos anos 1930 que o presidente Franklin Roosevelt, que era mais progressista do que seus colegas do partido Democrata, começou a mudar a cara do partido, ao implementar medidas de bem-estar social para combater a recessão econômica. “A Grande Depressão foi um desastre, o país chegou a um índice de 50% de desemprego”, diz Gordon. Roosevelt lançou o “New Deal”, plano de recuperação econômica e de desenvolvimento, iniciou programas para ajudar os desempregados, incentivou sindicatos trabalhistas e regulamentou o mercado financeiro e os bancos.
Com essas medidas, os democratas começaram a atrair gente mais progressista, pessoas da classe trabalhadora e de origem não europeia, como os latinos. Ao mesmo tempo, os membros das classes mais altas e os defensores da supremacia branca foram migrando para o partido Republicano. Segundo o professor de sociologia David Cunningham, da Universidade de Washington, desde os anos 1960 os democratas vêm apoiando consistentemente os direitos civis e a igualdade racial e, atualmente, a KKK e outros grupos brancos nacionalistas enxergam o Partido Republicano como o mais alinhado aos seus interesses.
Quem é David Duke?
De acordo com Cunningham, David Duke é um dos mais proeminentes membros da KKK que surgiram depois da década de 1970, após os movimentos pelos direitos civis nos Estados Unidos. Duke é controverso mesmo dentro do círculo da KKK, já que foi acusado de roubar dinheiro da organização nos anos 1970.
Duke tentou em diferentes ocasiões migrar para a política, concorrendo a diversos cargos públicos, como senador e até presidente, em 1988 e 1992. O mais longe que chegou foi a um cargo equivalente a deputado estadual pela Louisiana, em uma eleição especial realizada em 1989 para substituir um congressista que havia renunciado.
Como está a organização hoje?
Hoje em dia, a KKK é muito menor do que era antes. Segundo a organização americana Southern Poverty Law Center (SPLC), especializada em direitos civis, a Klu Klux Klan agrega de 5 a 8 mil membros, divididos entre dezenas de subgrupos que usam essa denominação.
Porém, existem várias outras organizações que propagam o “nacionalismo branco” nos Estados Unidos, como os neonazistas. “Apesar de a KKK ser pequena hoje, o movimento do qual ela faz parte não é insignificante”, diz Linda Gordon. O sociólogo David Cunningham concorda. “Ainda que falte coordenação a esses subgrupos da KKK, seu perigo reside em contribuir para coalizões com outros grupos de supremacia branca e incentivar a violência de membros que são fracamente controlados por uma liderança organizacional”, diz. Para a historiadora, o fato de esses grupos serem pequenos e diversos é bom e ruim. “É bom porque dificulta que eles criem uma ação unificada, mas é ruim por que é mais difícil de controlá-los e identificar seus membros”, diz.
De acordo com o SPLC, são 954 “grupos de ódio” espalhados pelo país, que têm como alvo não só os negros, mas também latinos, asiáticos e judeus. Segundo Linda Gordon, hoje em dia esses grupos não agem de maneira tão violenta como fazia a KKK no passado. Mas sua existência encoraja atos de sexismo, racismo e discriminação contra grupos como imigrantes. O denominador comum entre todos esses grupos extremistas é o incitamento do ódio contra pessoas que estão em desvantagem na sociedade.