No debate entre os presidenciáveis produzido pela RedeTV!, na última sexta-feira (17), o candidato Cabo Daciolo (Patriota) defendeu a volta das cédulas de papel nas eleições, porque, segundo ele, existem fraudes nas urnas eletrônicas que ajudariam a eleger o “candidato da nova ordem mundial”, sem identificar quem seria.
A nova ordem mundial é um tema que aparece com frequência em teorias de conspiração, para descrever um governo autoritário que se sobrepõe à soberania das nações, formado por uma elite secreta, que também controlaria os meios de comunicação. A expressão também já foi usada em diversos momentos da história para descrever uma ruptura na maneira como acontecem as relações internacionais e as mudanças de equilíbrio de poder, especialmente após períodos de guerra.
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Políticos e pensadores também já usaram o termo para descrever a possibilidade de cooperação global. Em 1991, o então presidente dos Estados Unidos George Bush fez um discurso ao Congresso após o fim da Guerra do Golfo, em que ele anunciou o começo de uma “nova ordem mundial”.
“Essa é uma vitória para todos os países da coalizão, para as Nações Unidas. Uma vitória para diplomacia e cooperação internacional inéditas”. Para o ex-presidente, o desafio era claro: Saddam Hussein era o vilão, o Kuwait, a vítima, e várias nações se uniram para encerrar a agressão. Assim, Bush anunciou o surgimento de um mundo com “um prospecto muito real de uma nova ordem mundial”.
Conspiração
O historiador escocês Niall Ferguson diz que sempre houve suspeitas sobre redes poderosas que comandariam o planeta em segredo, e as suspeitas crescem enquanto o mundo se torna mais conectado. O Sistema, os Judeus, os Maçons, os Illuminati, para citar alguns. “Quase tudo o que se escreve nesse sentido é uma besteira”, diz Ferguson em seu livro “The Square and the Tower: Networks, Hierarchies and the Struggle for Global Power” (A Praça e a Torre: Redes, Hierarquias e a Batalha por Poder Global).
A Ordem dos Illuminati é uma das favoritas nos fóruns de discussões para ser acusada de tentar dominar o mundo.
Essa Ordem realmente existiu. A Illuminatenorden foi fundada quase dois séculos e meio atrás, na Bavária, e era uma fraternidade que operava secretamente. O objetivo final da organização era promover o entendimento pela razão, para dispersar as nuvens de superstição e preconceito, relata Ferguson. A Ordem buscava diminuir a interferência da Igreja na vida pública.
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É mais difícil explicar como surgiu o mito moderno de que uma ordem formada na Bavária do século 18 continua conspirando para impor um governo totalitário mundial, e que seus membros estariam infiltrados até na indústria do entretenimento.
“O problema com os teóricos da conspiração é que, como descontentes pessoas de fora, eles invariavelmente não compreendem ou deturpam a maneira como as redes operam”. Para o historiador, esses adeptos presumem que as redes da elite conseguem controlar facilmente as estruturas de poder. “A minha pesquisa, e também a minha própria experiência, sugerem que esse não é o caso”.
No Brasil, o filósofo Olavo de Carvalho defende que a Nova Ordem Mundial é real, e diz que organismos e superpotências internacionais influenciam o país com planos e operações.
Cooperação
Alguns autores e especialistas defendem formas de governo global. O escritor e historiador Yuval Noah Harari, autor do best seller Sapiens, acredita que a divisão esquerda-direita tornou-se irrelevante e foi substituída pela divisão entre global e nacional. Para Harari, as políticas nacionais não podem funcionar em um mundo em que a economia e o meio ambiente são globais.
“Todos os problemas do mundo hoje são essencialmente globais, e não podem ser resolvidos a não ser através de algum tipo de cooperação global”, disse o escritor em entrevista ao TED Dialogues em fevereiro de 2017.
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"Não apenas a mudança climática, que é o exemplo mais óbvio que as pessoas dão. Eu penso mais em termos de ruptura tecnológica. Se você pensar, por exemplo, em inteligência artificial, ao longo dos próximos 20, 30 anos, excluindo centenas de milhões de pessoas do mercado de trabalho, esse é um problema em escala global. Ele vai afetar a economia de todos os países. E igualmente, se você pensar sobre, digamos, bioengenharia e as pessoas terem medo de conduzir pesquisa de engenharia genética em seres humanos, não vai ajudar se apenas um único país, digamos que os EUA, banir todas as experiências genéticas em seres humanos, mas a China ou a Coreia do Norte continuarem a fazê-lo. Assim, os EUA não podem resolver a questão sozinhos, e logo a pressão sobre os EUA para fazerem o mesmo será imensa porque estamos falando de tecnologias de alto risco e de alto ganho. Se alguém está fazendo isso, não posso me permitir ficar para trás. A única maneira de ter regulamentos eficazes, em coisas como a engenharia genética, é ter regulamentos globais. Se você só tiver regulamentos nacionais, ninguém gostaria de ficar para trás."
No entanto, os movimentos de globalização - e de globalismo - têm sofrido ataques contrários. O voto em favor do Brexit, a vitória de Donald Trump e o crescimento do nacionalismo na Europa Central são parte dessas reações.
O professor John Rennie Short, da Universidade de Maryland, por exemplo, é um dos pesquisadores que relaciona, em artigo no site The Conversation, diversas manifestações mundiais como sinais da existência de um caminho contrário à globalização econômica, política e cultural. “O apoio ao Brexit veio em grande parte daqueles preocupados com os seus empregos e a chegada de imigrantes. Da mesma forma, o Meio-Oeste dos EUA - o coração industrial afetado pela competição global - foi o elemento chave para a vitória de Trump”.
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