Há uma pandemia no mundo ocidental — especialmente, mas não apenas, nos EUA — sobre a qual poucos estão falando, muito menos abordando.
Na verdade, essa pandemia não mata pessoas. Mas destrói pessoas, arruína vidas, esmaga famílias e causa dor permanente e debilitante — muito mais do que a grande maioria dos casos de Covid-19.
Esta pandemia consiste em filhos adultos que decidiram nunca mais falar com um ou ambos os pais. A grande maioria dessas pessoas nunca foi abusada sexual ou fisicamente. Na verdade, quase todos eram amados por seus pais.
Então, por que essas pessoas decidiram ferir a mãe, o pai ou ambos da pior maneira possível?
Existem três razões principais.
A primeira é a ascensão da mentalidade terapêutica. Antes da explosão da psicoterapia, as pessoas eram governadas por “deveria”. A partir da década de 1960, porém, o modelo terapêutico substituiu o modelo moral como guia do comportamento. As pessoas que viveram naquela época se lembrarão da frase “não há deveres”.
Vou usar uma história de família para ilustrar este ponto. Apesar de sua mãe ser uma mulher muito difícil, meu pai ligava para ela todas as noites, e todas as noites ela gritava com ele. Eu ouvi os gritos porque, em vez de colocá-lo no ouvido, meu pai colocava o telefone na mesa da cozinha enquanto ela discursava.
Se meu pai tivesse nascido uma geração depois e ido a um terapeuta onde discutisse sobre sua mãe, se ele dissesse o quanto temia ligar para sua mãe, o terapeuta provavelmente teria levado meu pai a acreditar que não havia razão para ele falar com ela. E uma cultura que declarasse “não há deveres” teria concordado. O terapeuta teria declarado minha avó “tóxica” e, assim, dado a meu pai luz verde para evitar ligar para ela.
Mas meu pai viveu na idade dos deveres e era um judeu religioso que havia aprendido os Dez Mandamentos desde a infância — o quinto dos quais nos ordena: "Honre seu pai e sua mãe" [Nota do Tradutor: enquanto na doutrina católica este é o quarto mandamento, no judaísmo aparece como o quinto]. Além disso, ele acreditava, como a maioria dos americanos, que os Dez Mandamentos foram dados por Deus.
Em nossa era pós-bíblica, não há Dez Mandamentos. Na verdade, não há mandamentos, ponto final. Era disso que se tratava o “não deveria” — nada de mandamentos. Em vez disso, você faz o que acha certo. Se você não tem vontade de falar com sua mãe ou pai, não fale. Meu pai, regido pelos Dez Mandamentos e muitos outros deveres, telefonava para a mãe todas as noites, embora raramente sentisse vontade de fazê-lo.
Embora a Bíblia nos ordene a amar nosso próximo, amar o estrangeiro e amar a Deus, não há nenhum mandamento para amar nossos pais. Por outro lado, não há mandamento de honrar ninguém, exceto nossos pais.
Uma segunda razão para a pandemia de pais ignorados (PI) é a alienação parental. Isso geralmente é causado por um dos pais contra o outro durante e/ou após o divórcio — frequentemente, embora nem sempre, pela mãe contra o pai.
Ela está com tanta raiva do marido ou do futuro ex-marido que decidiu machucá-lo da pior maneira possível — convencendo um ou mais filhos de que o pai é um ser humano terrível, indigno de seu amor, respeito e tempo. Os filhos devem, portanto, não apenas deixar de amá-lo, mas não ter nada a ver com ele.
Uma terceira razão para a pandemia de PI é ideológica. Nesses casos, o cônjuge pode estar envolvido, mas muitas vezes a decisão é do filho. Esta é a mais nova razão para ignorar os pais.
Suspeito que poucos de nós já encontramos pais cujos filhos não falavam com eles por causa de como os pais votaram. Por mais que os democratas e outros progressistas odiassem Richard Nixon, é difícil imaginar um homem ou uma mulher adulta no final dos anos 60 ou início dos anos 70 se recusando a falar com um pai porque o pai votou em Nixon.
Mas provavelmente existem centenas de milhares de pais que votaram em Donald Trump que têm um filho que não fala com eles por causa desse voto — ou porque o pai tem algum valor conservador, como o de que o casamento deve ser definido como a união de um homem e uma mulher.
Só para constar, não estou falando de mim. Meus dois filhos, meus dois enteados e eu conversamos regularmente, nos amamos e compartilhamos valores. Mas eu sei o quão sortudo eu sou. Escrevi esta coluna porque conversei com um número excessivo de pessoas maravilhosas que têm um filho ou mesmo filhos que não falam com eles.
Sim, há momentos em que um pai é tão patológico ou mau — ou quando é o pai que escolheu ignorar um filho — que a comunicação é essencialmente impossível. Mas, em geral, infligir tal dor a um dos pais é um ato de crueldade tão grande quanto a maioria das pessoas jamais infligirá a outro ser humano.
Se existe um Deus que deu os Dez Mandamentos, essas pessoas serão julgadas de acordo.
© 2023 Daily Signal. Publicado com permissão. Original em inglês: What’s Causing Pandemic of Adult Children Who Won’t Ever Again Speak to Their Parents?
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