“Nos subterrâneos da Cheka”, pintura de Ivan Vladimirov, que retratou a violência do Terror Vermelho em várias obras| Foto: Reprodução
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O massacre foi anunciado sem disfarces. Desde os primeiros protestos na Rússia, em 1905, os bolcheviques avisavam que, a partir do momento em que chegassem ao poder, exterminariam seus inimigos. Depois da revolução de 1917, até a consolidação da União Soviética, em 1922, as ameaças se repetiram, com escolhas de palavras muito parecidas.

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Martin Latsis, chefe do serviço secreto bolchevique na Letônia, por exemplo, escreveu: “Não estamos lutando apenas contra indivíduos. Estamos exterminando a burguesia como classe. Não procure nos arquivos por evidências incriminadoras. Pergunte para qual classe ele pertence, qual seu passado, sua educação, sua profissão. Essas são as questões que vão determinar o destino do acusado. Essa é o significado e a essência do Terror Vermelho”.

Por sua vez, o líder bolchevique Grigory Zinoviev afirmou: “Para vencer nossos inimigos, precisamos carregar conosco 90 milhões dos 100 milhões de habitantes da Rússia soviética. Quando ao restante, não temos nada a dizer a eles. Eles precisam ser aniquilados”. Assim, estipulava a meta de 10 milhões de assassinatos.

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O jornal Izvestia declarou que os trabalhadores tinham por missão “esmagar a hidra da contrarrevolução com terror massivo!”. E prosseguia: “Qualquer um que se atreva a espalhar o menor rumor sobre o regime soviético deve ser imediatamente preso”.

Leon Trotsky diria que o terror vermelho era como “uma arma usada contra uma classe condenada a morrer, que não quer morrer”. Vladimir Lênin, para quem a revolução estava acima de qualquer questão moral, concordava: “É preciso promover a energia e o caráter massivo do terror contra os contra-revolucionários”.

Na primeira oportunidade, os bolcheviques cumpriram a palavra. A partir do final de 1917, com a criação oficial da primeira polícia secreta russa, a Comissão Extraordinária de Toda a Rússia para o Combate à Contrarrevolução e a Sabotagem, conhecida pelo apelido Cheka, supostos inimigos do novo regime só precisavam estar vivos para serem perseguidos, sem prisões, processos ou interrogatórios. O plano era claro: o extermínio de uma classe inteira.

Massacre indiscriminado

Num contexto de guerra civil, que se estendeu entre 1917 e 1922, com saldo de 9 a 12 milhões de mortos e até 2 milhões de refugiados, a Cheka se especializou em massacrar seres humanos, sem julgamento prévio nem pretexto. Não havia método: espancamento, tortura, sequestro de familiares podiam ser utilizados, ainda que a técnica preferida, pela capacidade de matar mais pessoas em menos tempos, tenha sido o tradicional uso de armas de fogo.

O comandante da Cheka, Felix Edmundovich Dzerzhinsky, conhecido como “Felix de ferro”, era um aristocrata de origem polonesa que passou os anos de 1897 a 1916 entrando e saindo de diferentes prisões por sua militância pró-comunismo.

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Detido e depois fugitivo, passou meses sem conhecer o próprio filho, cuja mãe, Zofia Muszkat, também era partidária do socialismo e deu à luz na cadeia, em Varsóvia, na Polônia, em 1911.

A partir de 1917, tornou-se uma figura de grande poder entre os bolcheviques.“Representamos o terror organizado, isso precisa ficar bem claro”, dizia Dzerzhinsky, que também declarou ser adepto das “prisões e do extermínio de inimigos da revolução, com base em sua afiliação de classe e em seus papéis antes da revolução”.

Dzerzhinsky  nem sempre concordava com Lênin, mas era considerado por ele um homem de confiança na tarefa de identificar e punir os considerados inimigos. Incluindo os milhares de soldados bolcheviques que deserdavam da guerra.

Era comum que os jovens que abandonavam a batalha recebessem a chance de se render e se submeter a um tribunal militar. Em geral, bastava eles se entregarem para acabar enfileirados e mortos. Enforcamentos em praça pública também eram estimulados, para dar o exemplo para os demais.

Perseguição ao clero

Além de desertores ou soldados adversários, qualquer pessoa ligada ao antigo regime dos czares era alvo preferencial, assim como proprietários de terras ou grevistas que protestassem contra as novas regras de trabalho impostas pelo regime que naquele momento tentava se impor. Os religiosos eram outros alvos preferenciais. Apenas em 1918, pelo menos cinco mil foram assassinados.

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Em geral, antes de matar as vítimas, os bolcheviques roubavam tudo o que pudessem, desde roupas e sapatos até joias e carteiras. Propriedades eram tomadas pelos bolcheviques. Hospitais psiquiátricos eram esvaziados com o assassinato de todos os pacientes, e depois transformados em grandes estruturas administrativas.

As estimativas sobre o saldo de mortes variam de 5 mil a 100 mil — esta última estimativa é resultado da pesquisa do historiador William Bruce Lincoln, autor do livro Red Victory: A History Of The Russian Civil War.

Os bolcheviques não devem ter chegado, portanto, à meta ambiciosa de Grigory Zinoviev, que pedia o assassinato de 10 milhões de pessoas. Mas fizeram um grande esforço em eliminar toda e qualquer pessoa considerada inimiga. Foram muito além, por exemplo, do total de pessoas executadas pelo regime czarista entre 1825 e 1917: 3.923 pessoas.

Infográficos Gazeta do Povo[Clique para ampliar]