Em entrevista ao Jornal Nacional nesta terça-feira (28), o candidato à presidência Jair Bolsonaro falou sobre um Seminário LGBT infantil que teria acontecido na Câmara dos Deputados em 2012.
Durante a entrevista, a jornalista Renata Vasconcellos havia feito uma pergunta ao candidato sobre declarações homofóbicas e em sua resposta Bolsonaro falou sobre um evento que viu acontecer no Congresso: “Tinha acabado o 9º Seminário LGBT infantil. Repito: 9º Seminário LGBT infantil”.
Esse seminário aconteceu? Um seminário com o nome exato dito pelo candidato, não. Mas aconteceu, sim, o 9º Seminário LGBT no Congresso Nacional, realizado nos dias 15 e 16 de maio de 2012, com o tema “Respeito à Diversidade se Aprende na Infância. Sexualidade, Papéis de Gênero e Educação na Infância e na Adolescência”. O evento é um encontro anual, com tema diferente a cada edição, para debater questões da comunidade LGBT.
Leia também: Mostra 'Queermuseu' derruba classificação proibitiva para 14 anos na Justiça
A 9ª edição foi organizada pelas Comissões de Direitos Humanos e Minorias e Educação e Cultura da Câmara dos Deputados, com apoio e organização de duas Frentes Parlamentares Mistas: pela Cidadania de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais e de Direitos Humanos da Criança e do Adolescente.
O cardápio temático do seminário corresponde ao eixo central do ensino da ideologia de gênero nas escolas, bandeira que tem o deputado federal como único candidato a presidente declaradamente contrário. A ideologia de gênero é uma teoria que trata os gêneros como construção social, não como uma determinação biológica; uma fluidez que permitiria migrar do “masculino” para o “feminino” (e vice-versa) sob livre escolha do indivíduo.
Em novembro de 2017, a Gazeta do Povo publicou, com exclusividade em língua portuguesa, o mais importante estudo sobre ideologia de gênero na medicina: disforia de gênero, condições médicas e protocolos de tratamento, de Michelle Cretella, médica e presidente do American College of Pediatricians (ACPeds). O estudo aponta para os perigos de mudanças bruscas na compreensão médica sobre o fenômeno da disforia de gênero sem pesquisas sólidas que as recomendem. Ou seja, uma discussão clínica, muito mais profunda e com consequências severas que o discurso de construção social.
A programação continha três eixos temáticos: “Subjetividades e papéis de gênero (É possível falar em uma infância e adolescência gay?)”; “Educação, sexualidade e gêneros (O que os papéis de gênero têm a ver com a prática do bullying nas escolas?)”; e “Infância, adolescência e estado de direitos (Como estender as redes de proteção da infância e da adolescência aos meninos e meninas que fogem dos papéis de gênero?)”.
Entre os participantes do evento, estiveram representantes da academia, do governo e de organizações internacionais como Unesco e Unicef. O primeiro homem trans brasileiro, João Nery, falou sobre sua experiência pessoal em relação à educação. Outro relato pessoal foi apresentado por Angélica Ivo, mãe de um jovem homossexual que foi torturado e morto aos 14 anos de idade, em São Gonçalo (RJ), em 2010.
Livro de educação sexual infantil
Jair Bolsonaro também tentou mostrar um livro durante a entrevista ao vivo no Jornal Nacional, mas os apresentadores explicaram a ele que nenhum dos candidatos poderia exibir documentos durante a entrevista. O livro, segundo ele, faria parte do chamado “kit gay”, material de cunho supostamente educacional para crianças que teria sido distribuído em escolas e bibliotecas do país durante o governo petista de Dilma Rousseff.
O livro é Aparelho sexual e Cia - um guia inusitado para crianças descoladas, tradução do livro escrito por Zep (pseudônimo do autor suíço Philippe Chappuis) e ilustrado pela francesa Helene Bruller, lançado no Brasil em 2007 e editada pela Companhia das Letras. O livro foi publicado em mais de 10 idiomas, com 1,5 milhão de exemplares vendidos no mundo.
No catálogo da Companhia das Letras, o livro é sugerido para alunos do 6º, 7º, 8º e 9º anos do Ensino Fundamental, ou seja, para alunos de 11 a 15 anos. Após a entrevista, em seu perfil no Twitter, exibiu a página do livro que não conseguiu mostrar na TV.
Há o desenho de um garoto nu, com um buraco entre as pernas para que ali seja colocado um dedo simulando o pênis. Na página ao lado há o desenho de uma garota nua, também com um buraco entre as pernas para que ali seja colocado um dedo.
Um dos livros que ensinam sexo para crianças nas escolas que a Globo não quis mostrar! pic.twitter.com/DbwCzUhWJN
— Jair Bolsonaro 1ï¸â£7ï¸â£ (@jairbolsonaro) 29 de agosto de 2018
Leia mais: Bolsonaro ressuscita 'kit gay' contra Haddad
Como a PF costurou diferentes tramas para indiciar Bolsonaro
Cid confirma que Bolsonaro sabia do plano de golpe de Estado, diz advogado
Problemas para Alexandre de Moraes na operação contra Bolsonaro e militares; assista ao Sem Rodeios
Deputados da base governista pressionam Lira a arquivar anistia após indiciamento de Bolsonaro
Deixe sua opinião