Três médicos, especialistas em pediatria, biologia e psiquiatria, estão criticando o que dizem ser uma confiança em emoções acima de fatos ao estudar e tratar crianças que pensam ser transgênero.
Em um painel de discussão na The Heritage Foundation, os médicos defenderam que a ideologia transgênero que cerca a sociedade atualmente está prejudicando as crianças e minando a pesquisa científica.
Ryan Anderson, pesquisador sênior em princípios americanos e políticas públicas na The Heritage Foundation, mediou em 11 de outubro o painel de discussão com Michelle Cretella, Paul Hruz e Allan Josephson.
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Cretella, presidente do American College of Pediatricians, com sede na cidade de Gainesville, na Flórida, destacou a sua definição do que determina o sexo de uma criança.
“Sexo biológico não é ‘atribuído’”, disse. “Sexo biológico é determinado pelo nosso DNA no momento da concepção, e está em cada célula do nosso corpo.”
Isso se resume a cromossomos, segundo ela: se uma pessoa tem um cromossomo Y, é um menino; se não tem, é uma menina.
“Pensamentos e sentimentos não são programados antes do nascimento”, disse Cretella. “Eles são desenvolvidos ao longo do tempo.” Ela afirmou que não há exames científicos ou evidências biológicas para afirmar o gênero “escolhido” por uma pessoa.
Há dez anos, segundo Cretella, ela atendeu um paciente, a quem ela se referiu como “Andy”, que dizia ser transgênero.
“Entre os 3 e 5 anos de idade, o pequeno Andy passou a brincar cada vez mais com brinquedos de meninas. Brinquedos tipicamente femininos. Ele realmente fazia amizade com meninas com maior facilidade, e começou a falar para os seus pais ‘Mamãe, papai, eu sou uma menina’”, contou.
Cretella encaminhou os pais de Andy para um terapeuta para observar as dinâmicas familiares por trás das circunstâncias.
“Durante uma sessão, eles tiveram uma revelação”, reconta. “Andy segurava um caminhão e uma boneca Barbie. Ele colocou o caminhão de lado, olhou para os seus pais e disse: ‘Mamãe, papai, vocês não me amam quando eu sou um menino’. A partir daí, o terapeuta tinha algo para trabalhar.”
A irmã de Andy, que era portadora de necessidades especiais, nasceu quando ele tinha três anos de idade. Os seus pais tiveram que dar mais atenção a ela para acomodar a sua condição. Andy pensou que eles tinham preferência pela sua irmã e que ele precisava ser uma menina para os seus pais lhe amarem.
Ao focar a sessão de terapia nas dinâmicas familiares, Andy pode progredir no seu tratamento.
“No ano seguinte, esse trabalho terapêutico foi o que aliviou a disforia de gênero de Andy”, disse Cretella ao The Daily Signal. “Ele não tinha mais a necessidade psicológica de ser do sexo oposto para se sentir amado. Um ano depois daquela sessão ele estava feliz, saudável e se identificava como menino.”
Mas Cretella disse que Andy não teria recebido o mesmo tratamento hoje.
“Hoje, o pediatra teria encaminhado Andy e sua família para especialistas em gênero ou para uma clínica especializada em gênero”, disse. “Os pais escutariam imediatamente que isso é quem ele é.”
Josephson, professor e chefe da divisão de psiquiatria infantil e adolescente na Universidade de Louisville em Kentucky, chamou a atual revolução transgênero de “fenômeno social-cultural-psicológico”, mas acrescentou que também é um “fenômeno negligente, que negligencia as necessidades de desenvolvimento das crianças.”
De acordo com Josephson, crianças pequenas não têm capacidade de tomar decisões sobre identidade sexual, assim como não têm capacidade de dirigir um carro ou escolher dormir no horário certo. Segundo ele, é obrigação dos pais ajudar os seus filhos a aprenderem essas coisas durante o seu desenvolvimento.
Quando os pais não tomam atitudes no processo de tomada de decisões dos filhos, principalmente em se tratando de identidade sexual, o desenvolvimento das crianças é prejudicado, segundo ele.
“Claro que você pode apoiar e amar os seus filhos”, disse. “Mas não apoie uma ideia errada.”
Hruz, professor associado de pediatria, endocrinologia, biologia celular e fisiologia na Universidade Washington em St. Louis, explicou os problemas psicológicos que as pessoas transgênero enfrentam. Esses problemas incluem depressão e ansiedade, e eles podem ter consequências negativas, como abuso de substâncias.
“Essas crianças que têm uma identidade de gênero que não se alinha ao seu sexo realmente estão sofrendo”, disse.
De acordo com Hruz, as diretrizes para o tratamento de pacientes transgênero surgiram nos Países Baixos e foram introduzidas nos EUA há cerca de dez anos. Antes disso, identidade transgênero era considerada uma condição psicológica. Hoje, os médicos consideram usar bloqueadores de puberdade e terapia hormonal em pacientes que sofrem de disforia de gênero.
Havia estudos sobre os efeitos dessas novas diretrizes, mas segundo Hruz, eles não causaram uma mudança drástica na abordagem adotada pelos médicos que tratam problemas de identidade de gênero.
Sem tratamento padrão
“Apesar do fato de que há diretrizes bem estabelecidas para tratamento – não um tratamento padronizado, mas diretrizes”, diz. “As evidências por trás desse novo paradigma de tratamento são quase inexistentes.”
Cretella levantou a questão dos perigos de medicamentos bloqueadores de puberdade, que neutralizam os hormônios que fazem com que as pessoas desenvolvam características da puberdade, como seios ou voz grave. Os bloqueadores não são substâncias aprovadas pela Food and Drug Administration (FDA), e não há estudos de longo prazo sobre as substâncias usadas regularmente por crianças saudáveis.
Terapia hormonal utilizada para substituir o processo normal da puberdade, segundo Cretella, pode causar problemas cardiovasculares, derrame, diabetes e câncer.
Hruz concordou com Cretella sobre os efeitos nocivos dos bloqueadores de puberdade e acrescentou que eles também podem causar outros problemas, como osteoporose e infertilidade.
Quando os médicos começaram a responder perguntas, Zack Ford, editor LGBTQ do site de esquerda ThinkProgress.org, perguntou por que alguém deveria acreditar que eles priorizam o bem das crianças quando os seus pontos de vista sobre a questão estão em “contraste gritante com grandes organizações médicas” e “refletem um preconceito claro contra pessoas trans.”
Ford disse que estudos concluem que quando os pais apoiam o gênero escolhido pela criança, aliviam qualquer estresse emocional que ela pode ter durante a transição.
Ele não citou nenhum estudo específico, mas Cretella apontou falhas em estudos como os a que ele se referiu. Primeiramente, os estudos pressupõem que afirmar uma ideia falsa – nesse caso, as ideias falsas por trás da identidade de gênero – é saudável para um indivíduo. Em segundo lugar, ela disse que os estudos foram pequenos e de curto prazo.
Em terceiro lugar, o grupo de controle de crianças mentalmente saudáveis eram irmãos das crianças transgênero. Em um e-mail ao The Daily Signal, Cretella explicou:
“Irmãos não-trans têm um índice mais alto de distúrbios mentais em comparação à população geral. Um grupo de controle autêntico consistiria de crianças que vivem em estruturas familiares similares sem qualquer indivíduo que se identifica como transgênero.” E em quarto lugar, os pais estavam avaliando a saúde mental das crianças, não cientistas.
Hruz disse a Ford que cientistas objetivos observam as hipóteses de um problema e buscam chegar à melhor conclusão, e não são “tendenciosos” para uma resposta preferida sem analisar as alternativas.
Quando Ford mencionou que crianças transgênero têm alívio de estresse quando os pais apoiam a sua escolha de gênero, Josephson disse que os estudos que Ford mencionou apenas consideram o alívio temporário da criança e não analisam os efeitos de longo prazo do problema.
(*) Ian Snively é membro do Young Leaders Program na The Heritage Foundation.
Conteúdo publicado originalmente em Daily Signal.
Tradução de Andressa Muniz