O presidente Jair Bolsonaro fala à imprensa no Palácio da Alvorada| Foto: Marcello Casal JrAgência Brasil
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O ódio é um dentre vários dos sentimentos humanos. Como todos os sentimentos, acomete os homens pelos motivos mais diversos, que muitas vezes não têm nada a ver com a razão. Digamos que duas pessoas tenham a mesmíssima opinião acerca do comunismo, mas uma o tenha conhecido por livros, e outra tenha sofrido muito sob o regime, perdido a propriedade e visto a família ser sequestrada por polícia secreta. Nesse caso, é muito natural que a primeira não odeie um fato histórico que nunca a afetou, enquanto que a segunda se encha de fel a cada menção da ideologia. Nossos sentimentos são privados. Quem quiser julgar moralmente alguém, que o julgue pelas ações.

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Há, no entanto, quem se pretenda acima da natureza humana, desprovido de sentimentos tomados como maus em si mesmos, como o ódio. Olímpicos, dizem que eles mesmos não sentem ódio; que ódio só sentem os outros, a ralé.

Vou transcrever algumas linhas de um autor que escreve nessa toada: “Eu os descobria súbito […] como elementos impossíveis de desprender-se uns dos outros, um grupo unido pelo ódio e, para usar o termo que preferem, a ‘cólera’. Frenéticos, soltando espuma pela boca, num tom que combinava com o gemido e a ameaça, vinham me gritar que os meus trabalhos os irritavam, que minhas conclusões eram falsas, e que tinha que render tributo a sua própria concepção da história.”

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Quem é esse bravo homem do saber que enfrenta a turba?

Robert Faurisson, notório revisionista que nega o Holocausto. O ódio era manifestado por judeus. E ele continua: “Os responsáveis dessas associações [judaicas] amiúde me têm como ‘nazista’, coisa que não sou. Mas bem, sou, com relação a elas, um ‘palestino’”, e em seguida pinta o Estado de Israel como genocida, essas coisas que são feijão com arroz em certos nichos brasileiros.

Encontrei essa citação na página oito de "Caudillo, Ejército, Pueblo: La Venezuela del Comandante Chávez", escrito por Norberto Ceresole, ex-terrorista argentino, peronista de esquerda e guru do chavismo. Ele cita a passagem por ter passado por problemas semelhantes na Venezuela, só por apontar uma conspiração judaica contra o país. Inclui o Mossad na selva amazônica. Passada a citação, defende ele próprio que a maior tragédia da II Guerra foi a morte de alemães por bombardeios dos EUA e que o Holocausto não existiu. O chavista se esforça para jurar que ele não é um neonazista.

Pois é, desviei para o nazismo. Em minha defesa, digo que não é difícil, já que a esquerda latino-americana segue influente, e sua corrente vitoriosa se aproxima mais de caudilhos simpáticos ao nazifascismo -- como Perón, Vargas e Chávez -- do que de Moscou. Saiamos de assunto tão espinhosos.

Onde eu estava? No ódio, sentimento comum a todos os seres humanos. Ao ser humano que se assume comum e não nega seus ódios, eu opunha o iluminado que julga não se afetar por sentimentos de gentinha. Ontem Hélio Schwartsman nos brindou com um artigo peculiar em que afirma, muito sóbrio e altaneiro, desejar a morte de Bolsonaro em nome do bem comum. Humanos banais às vezes querem matar por sentir ódio. Schwartsman, não. Mobilizou um “-ismo” desses de filósofo contemporâneo, uns estudos da prestigiosa UFABC, e concluiu que o bem comum ficaria muito bem servido se Bolsonaro morresse. Logo, ele, boa pessoa que é, racionalíssimo e científico que é, deseja que Bolsonaro morra.

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Se o Sr. Schwartsman não enfrentasse tanta repercussão negativa (uma vez que não conta com a rede de apoio da esquerda), eu proporia outras medidas que se alinham com a sua filosofia consequencialista na edificação do Brasil. O SUS é fundamental para a vida de milhões de brasileiros; logo, sua saúde financeira se traduz em vidas salvas. Vamos baixar então uma lei que pune o consumo de tabaco e embutidos com a morte. Afinal, estudos mostram que fumar e consumir embutidos causa câncer. Se suprimirmos os gastos com pacientes de câncer evitável, haverá mais recurso para salvar vidas dos outros pacientes. De um ponto de vista consequencialista, uma legislação relativa a todo tipo de drogas e alimentação não-saudável que copie a Indonésia servirá para economizar com o sistema de saúde e salvar vidas. Talvez não nesta geração, quem sabe, mas na próxima todos serão muito mais saudáveis e haverão de agradecer à nossa geração.

Se bem que computar as mortes dos fumantes e as vidas salvas pelo SUS talvez dê trabalho demais, ou então o aumento da verba sirva só pra encher uns bolsos corruptos. Então passemos leis que não matam ninguém. Gente com doenças hereditárias poderia, em nome do SUS, ser levada a um Tribunal de Esterilização, que a julgaria e esterilizaria, evitando assim que degenerados nascessem e causassem despesas ao erário.

O heroico Allende já fez um projeto de lei no Chile assim, quando a genética era nada… Que dirá hoje! Podemos então, como bons seres iluminados e racionais, castrar uns cidadãos em nome do bem comum. E eu não vou mencionar que esse projeto de lei de Allende, estudado por Victor Farías em "Allende: Anti-semitismo e eutanásia", era uma imitação de outra lei do III Reich, que aliás tinha financiado a fundação do Partido Socialista chileno em 1933, porque é muito feio ficar falando de nazismo.