Um dos principais lançamentos no campo cultural-político do Brasil em 2017, o livro “A Corrupção da Inteligência” (Ed. Record), do doutor em antropologia Flavio Gordon, trata do processo que fez com que o marxismo se entranhasse em todos os aspectos da cultura nacional: da música às universidades.
No livro, Gordon conta como ele mesmo se viu, em seu início na Universidade Federal do Rio de Janeiro, descobrindo aos poucos as engrenagens dessa dominação cultural que hoje ocupa todos os setores da inteligência nacional — muitas vezes sem perceber.
Gordon está em Curitiba nesta quarta-feira para lançar o livro na Livraria da Vila do shopping Pátio Batel, às 18h30, e deu entrevista à Gazeta do Povo sobre os pontos fundamentais de sua obra.
O que é a corrupção da inteligência?
A corrupção da inteligência é o processo pelo qual, movido por paixões político-ideológicas, o intelectual abdica de sua função de compreender e explicar a realidade, notadamente a realidade política e social, e passa a querer transformá-la. O intelectual começa a crer que o seu conhecimento especializado sobre determinado assunto lhe confere o direito de exercer poder sobre a sociedade, compreendida como matéria plástica a ser modelada livremente. Trata-se de uma corrupção que afeta tanto a inteligência individual de cada um, quanto a "classe" dos intelectuais como um todo.
Quando a cultura brasileira iniciou sua guinada à esquerda?
Houve vários momentos de penetração do pensamento de esquerda na cultura, em primeiro lugar com o PCB, nos anos 1920, 30 e 40, quando a cultura política comunista atraiu muitos artistas e intelectuais. Mas foi só a partir do fim dos anos 1960 que a esquerda começou a se tornar hegemônica. A partir daí, a esquerda começou a ocupar os principais espaços produtores de cultura nacional — universidades, redações, editoras, estúdios de cinema, dramaturgia etc. —, banindo para fora do debate quem quer não compactuasse com a visão de mundo esquerdista.
Você conclui seu livro falando de casos absurdos que ocorrem atualmente nas universidades, mas que estão longe de ser raros. A academia brasileira tem salvação?
Eu me concentro mais no terreno das ciências humanas, minha área de formação. Acho que nessa seara a resposta é não. Não há salvação. O radicalismo político tomou conta das faculdades, e os raros estudos que ainda apresentam alguma consistência científica pecam pela hiper-especialização, o que, se é necessário e inevitável no terreno das ciências exatas e biomédicas, é fatal para as humanas. Acho que o destino da academia nesse terreno é, cada vez mais, reduzir-se à condição de centros de formação de militantes políticos e burocratas virtuais. O que de mais interessante surgir no campo do pensamento histórico e social virá, creio, de fora da academia.
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