“Cobre mais impostos dos ricos”, lê-se no vestido usado pela deputada socialista num baile de gala de Nova York cujo ingresso custava US$ 35 mil. O agora infame vestido usado pela deputada Alexandria Ocasio-Cortez, que parece não entender nem a ironia nem a própria definição de ironia, foi confeccionado por uma empresa com dívidas tributárias em três estados (dívidas resultantes, em parte, do calote a indenizações de funcionários).
Alinhar-se com os socialistas de 2021 aparentemente significa se parecer com a elite decadente de “Jogos Vorazes”, cobrando impostos altos e ignorando deliberadamente os trabalhadores.
Em resposta às críticas, Ocasio-Cortez disse que os políticos têm de ir a esses evento “devido à nossa responsabilidade de supervisionar as instituições culturais que atendem o público”. Ela acrescentou que as críticas são um exemplo de como o corpo dela é “policiado por todas as facções políticas”.
Temos de acreditar que Ocasio-Cortez esteve presente ao Met Gala só por causa de você, o povo. E, por sinal, todos os que a criticam por isso são sexistas.
Por mais absurdos que os comentários delas pareçam e por mais hipócritas que se revelem, há certa lógica neles quando você distingue o que os “novos socialistas” dizem defender e o que eles realmente defendem.
Você não entende por que alguém que se apresenta como uma socialista “serva das massas” exige os mesmos privilégios aviltantes de um membro do Politburo? Bem-vindo ao socialismo caviar. O socialismo caviar ilustra perfeitamente as tendências culturais e políticas da sociedade norte-americana.
Os slogans esquerdistas e lacradores são o capital social da elite cultural. É a moeda que eles usam para manter seu prestígio e se proteger das críticas. “Cobre impostos dos ricos” é perfeitamente aceitável e até uma mensagem aprovada por essa esquerda, ao contrário do que veríamos com uma mensagem como “proteja a vida dos fetos”.
John Gibson, executivo da Tripwire Interactive, uma empresa de vídeo game, pediu demissão depois de escrever um tuíte de apoio à lei texana que proíbe o aborto de bebês com batimentos cardíacos. Ele foi exposto pela própria empresa na qual trabalhava. A solidariedade à causa é hoje a única coisa que importa na nossa “meritocracia” cada vez mais medíocre.
Junte-se à causa e nada lhe acontecerá. Vá contra a causa e você será desumanizado. Ao demonstrar seu compromisso diante de várias causas esquerdistas – sobretudo diversidade, igualdade e inclusão – nenhum sinal de hipocrisia, incompetência ou fracasso é capaz de obstruir o acesso dessa elite ao poder.
Você se lembra de quando o governador da Virgínia, o democrata Ralph Northam, basicamente endossou o infanticídio e depois admitiu ter pintado o rosto de preto – ou talvez tivesse usado um capuz da Ku Klux Klan hood — no anuário da faculdade?
Alguém poderia pensar que esse seria o fim da carreira do político democrata, mas ele foi exonerado das críticas depois de reafirmar seu compromisso à causa e derrubar estátuas de vultos históricos. Não há nada de mau no racismo, desde que você se junte à cruzada antirracista.
A prefeita de San Francisco, London Breed, tem sido elogiada pro toda a esquerda por estar na linha de frente da criação das novas cidades igualitárias dos Estados Unidos. Como ela demonstrou esse compromisso?
Breed foi surpreendida jantando no luxuoso restaurante French Laundry — um lugar muito frequentado por políticos democratas californianos — em novembro, quando ela e muitos outros políticos insistiam em dizer que tínhamos de manter a distância social e evitar as aglomerações.
Na época, ela disse que as críticas eram “justas”. Um ano mais tarde e hoje entendemos o que significa uma crítica justa para a prefeita de San Francisco. Ela foi novamente surpreendida numa casa noturna da cidade, dessa vez dançando e cantando sem máscara e numa festa de gente sem máscara, violando as regras que ela mesma impôs na cidade.
A primeira desculpa de Breed foi a de que tinha sido vacinada, mas as regras de San Francisco não fazem distinção entre vacinados e não-vacinados quando se trata de usar máscaras. Daí ela veio com a segunda desculpa. “Eu estava curtindo e não pensei em usar máscara”, disse ela, rindo durante uma entrevista.
Tirar e pôr a máscara é mesmo uma regra ridícula. Mas essa desculpa da prefeita é o equivalente a dizer “que se dane, sou prefeita, me deixe curtir quebrando minhas regras que você tem que seguir senão pagará multa”. Outra grande vitória para a igualdade e a ciência.
Se Breed sofrerá consequências por causa disso? Claro que não. Ela está comprometida com a revolução. A lição a se tirar disso é a de que, na nossa nova hierarquia cultural, a hipocrisia explícita das elites é dada como certa.
Você faz parte desse grupo e cai nas graças do regime prestando homenagem constante às preferências culturais desse regime e deixando claro que, nesse novo mundo de tolerância e inclusão, os que discordam são excluídos sem qualquer misericórdia.
A única falha desse sistema é que ele ruirá se as pessoas se revoltarem contra ele. Se as pessoas chegarem à conclusão de que se cansaram da hipocrisia e dos slogans e começarem a exigir competência e responsabilidade de seus líderes, talvez haja consequências para essa baboseira toda. Até lá, espere por mais absurdos.
Jarrett Stepman é colaborador do Daily Signal e coapresentador do podcast The Right Side of History.