Lembram-se de quando a ideia de que um sistema de saúde gerido pelo governo poderia levar a "painéis de morte" era rejeitada como absurda? [Trata-se de uma das várias polêmicas suscitadas nos EUA pela criação do Obamacare, que ampliou o subsídio estatal a planos de saúde privados com o fito de colocar toda a população sob a cobertura de algum plano. Os EUA não têm nada parecido com o NHS britânico, que inspirou o SUS brasileiro, então a ideia foi considerada um estatismo arrojado para os padrões de lá. (N. t.)]
Bem, o absurdo está chegando mais perto da realidade na medida em que o Canadá — que tem um sistema de saúde universal com financiamento público — estende as leis de Assistência Médica para Morrer (MAiD, na sigla em inglês) a fim de incluir uma variedade mais ampla de doenças.
Desde quando o Canadá passou a sua lei, em 2016, mais de trinta mil pessoas morreram como resultado, e esse número está em crescimento acelerado.
O MAiD está pronto para se expandir em março, e então irá permitir que pessoas com doenças mentais também busquem a morte assistida. Não serão eliminados apenas os doentes e os pobres, mas ainda os deprimidos. Que progressista!
Na Alemanha Nazista, essas pessoas poderiam ser chamadas de "indesejáveis", ou de algum outro nome perverso e nojento, antes de serem exterminadas. Mas no liberal, tolerante e moderno Canadá, as pessoas estão acima dessa terminologia sórdida.
Sob a lei atual, só canadenses acima de 18 anos podem entrar no MAiD. No entanto, o governo canadense criou uma comissão para averiguar se a lei não deveria ser estendida aos "menores maduros", que poderiam buscar eutanásia sem consentimento dos pais.
Não há nenhuma definição estabelecida do que é exatamente um "menor maduro", mas é de se presumir que seria o melhor para os canadenses abaixo do limite da idade.
Dada a velocidade com que a lei se expande, é difícil imaginar que a opção para menores não esteja no leque dentro de um futuro próximo. A esta altura, não se trata mais de um declive escorregadio, e sim de uma queda livre na previsão. Decerto não seria a primeira vez que um programa de morte assistida num país "avançado" se expandiu a um ponto que muitos consideravam inimaginável no começo.
O que torna a sanção societal das leis de suicídio assistido tão preocupantes é como elas se casam com os incentivos governamentais e coletivos.
Embora as leis de suicídio assistido sejam vendidas, em geral, como meio de empoderar a escolha individual, na verdade é quase impossível separar essa escolha dos interesses da sociedade. É o que acontece quando há um envolvimento massivo do governo em cuidados e custos médicos.
Eis umas poucas histórias do Canadá nos últimos que mostram bem o problema.
Em 2017, o Canadian Medical Association Journal estimou que o suicídio assistido poderia economizar entre US$ 34,7 milhões e US$ 136,8 milhões dos cofres públicos por ano. É de se presumir que expandir a lei poderia dar ainda mais "economias" dessa natureza.
A Canadian Broadcasting Corporation fez uma matéria sobre essa estimativa de uma maneira que parecia discutir-se o custo de uma nova estrada ou de um projeto de infraestrutura, não algo com imensas implicações éticas.
De alguma maneira, ainda deu para piorar.
Em 2020, o Ottawa Citizen noticiou que o suicídio assistido foi uma "bênção" para a doação de órgãos.
"Nos primeiros onze meses de 2019, os pacientes do MAiD na província foram 18 doadores de órgãos e 95 de tecidos, um aumento [de 14%] em relação a 2018 e [de 109%] em relação a 2017", informou o Ottawa Citizen.
Parece que, na classe gerencial de especialistas da saúde, são muitos os que tentam desesperadamente normalizar a ideia de que talvez a sociedade devesse dar um jeito de se livrar dos velhos e dos doentes (e usar os seus órgãos para os saudáveis e úteis). Olham para os números financeiros e veem que um sistema de saúde esgarçado (onde as sociedades envelhecidas com taxas de natalidade em queda só pioram o problema) seria beneficiado se algumas pessoas fossem cortadas fora.
Bem agora, o sistema canadense está na fase de promoção agressiva, na qual "desligar" ["off"] os velhos, os doentes, os pobres e os doentes mentais é propagandeado como atitude humana e de compaixão. Mas a coisa já está progredindo para a próxima fase, na qual o suicídio é a primeira opção dada aos pacientes por médicos e hospitais que querem economizar.
É como passar do "não causar dano ou mal" ao "tome esta pílula e tchau".
Por exemplo: uma militar reformada de 52 anos, que competiu pelo Canadá nas Paralimpíadas de 2016, ganhou um kit de suicídio assistido ao pedir um elevador de cadeira de rodas para a sua casa. O incidente fez o governo canadense revisar e mudar os protocolos, mas há alguma dúvida de que isso será uma ocorrência mais frequente?
E, dada a tendência, não parece de todo impensável que no futuro — especialmente se os governos cobrirem a maior parte do custo de saúde e o suicídio assistido for normalizado — as agências do governo ofereçam suicídio como a única opção para pacientes com vários problemas.
Isto expõe um dos maiores problemas da medicina "socializada" e por que muitos nos Estados Unidos a temem, sobretudo numa época de agências governamentais radicalizadas. Não só as agências governamentais trabalham incansavelmente para cortar custos, promovendo políticas que até a Alemanha Nazista trabalhou para esconder do seu povo, como também poderiam tomar decisões financeiras baseadas em ideologia.
Quem é digno de cuidado, e quem merece vida ou morte? Tais decisões serão cada vez mais tomadas por instituições progressistas [woke].
Tudo isso para dizer que o aumento da aprovação do governo do suicídio assistido está levando as sociedades ocidentais a um território perigoso e moralmente repugnante. O envolvimento massivo do governo torna a questão ainda mais espinhosa.
O caminho rápido do Canadá rumo à eutanásia é um alerta para os Estados Unidos, onde o suicídio com assistência médica ainda está limitado a 10 estados e ao Distrito de Colúmbia. Devemos ser gratos ao federalismo.
Enquanto isso, porém, devemos fazer o que pudermos para promover uma cultura de vida.
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