Eles querem redesenhar as fronteiras, cobrar seus próprios impostos, montar exércitos e, em suma, funcionar como países diferentes daqueles que são hoje. Em todos os continentes, movimentos separatistas operam com táticas diversas, mas um mesmo objetivo: mais autonomia e, se possível, independência.
Depois da ousadia da Catalunha, que chegou a declarar sua secessão da Espanha no fim de outubro antes de sofrer uma intervenção do governo central, outras partes do mundo parecem dispostas a seguir o exemplo.
Em alguns casos, como no improvável Principado de Saborga, na Itália, tudo parece uma simples jogada de marketing. Há as demandas quase impossíveis, como a do Sul do Brasil ou a da Cascádia (que quer separar o oeste dos EUA e do Canadá), mas existem também aqueles grupos que até em armas pegaram para garantir um autogoverno – regiões como a Abkhazia (na Geórgia) ou a Transnístria (na Moldávia), por exemplo, já operam na prática como nações independentes, embora sem reconhecimento internacional.
E existem aqueles que, diferentemente da Catalunha, já estão com data marcada para realizar referendos com reconhecimento do governo – foi dessa forma, por exemplo, que o Timor Leste se tornou um país. Nos próximos anos, nomes como Bougainville ou Nova Caledônia estão entre os prováveis estreantes nas aulas de geografia.
Abaixo, listamos 26 regiões separatistas do mundo, seus objetivos, e as chances de alcançarem a independência.
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1. Abkhazia e Ossétia do Sul (Geórgia)
As duas principais regiões separatistas dentro da Geórgia, no Cáucaso, têm histórias de conflitos que se estendem até hoje. As duas mantêm laços culturais mais fortes com a Rússia do que a Geórgia e estiveram no centro da guerra que, em 2008, opôs os dois países. A Ossétia do Sul declarou sua independência em 1991 e foi reprimida duramente pelo governo georgiano.
A Abkhazia, por sua vez, tinha o plano de se separar da Geórgia e seguir compondo a União Soviética – antes de a própria URSS desabar. Somando cerca de 300 mil habitantes, as duas regiões se declaram repúblicas independentes, mas só são reconhecidas por Nauru, Nicarágua, Venezuela e Rússia – país que, desde 2008, garante apoio militar para garantir o funcionamento do governo local e impedir uma ocupação da Geórgia.
2. Bougainville (Papua Nova Guiné)
Com uma população de 250 mil habitantes, a pouca fama internacional de Bougainville é inversamente proporcional às possibilidades de se tornar independente – ao contrário de outros locais que buscam a autonomia, esse arquipélago a oeste de Papua Nova Guiné já tem a promessa de um referendo reconhecido pelo governo central e até mesmo uma data para realizá-lo.
Rica em cobre e ouro, a ilha principal de Bougainville passou a ser explorada pelo governo papuano nos anos 70, revoltando a população local, que dizia não receber um retorno à altura do impacto social e ambiental da mineração. Uma guerra civil estourou na região e se estendeu por dez anos, deixando mais de 20 mil mortos até o cessar-fogo de 1998. Desde então, os dois lados têm negociado uma saída pacífica para o impasse, e a expectativa é que o plebiscito pela independência ocorra em 15 de junho de 2019.
3. Cascádia (EUA e Canadá)
Califórnia, Texas, Havaí, Alasca... a lista de movimentos separatistas dentro dos Estados Unidos é longa, e inclui até mesmo um saudosismo dos Confederados, derrotados na Guerra Civil do século 19. Atualmente, um dos grupos independentistas mais organizados quer a soberania de grande parte da Costa Oeste da América do Norte – mais precisamente, a separação dos estados de Oregon e Washington (EUA) e Colúmbia Britânica (Canadá). Chamada de Cascádia, a nova nação teria mais de 16 milhões de habitantes e uma área similar ao Peru – além de um PIB próximo ao da Argentina.
Uma das reclamações do movimento é a “indiferença das capitais”, que nos dois países se localizam próximas da Costa Leste. Em 2011, a revista Time colocou a Cascádia em 8º lugar entre as 10 principais “nações aspirantes” do mundo, mas admitia que quase não havia chances de o país proposto se tornar real.
4. Caxemira (Índia e Paquistão)
Em 1947, quando a Grã-Bretanha cedeu às pressões locais e abriu mão de seu domínio na península indiana, o Paquistão foi separado da Índia para formar uma nação independente governada pela maioria muçulmana daquela área. Uma região, porém, permaneceu no mapa indiano: a Caxemira, onde hoje quase 70% da população segue o Islã, tornou-se o grande foco de disputas entre duas nações que hoje contam com poderio nuclear – três guerras já foram travadas pela posse da Caxemira, e o impasse segue sem resolução.
Alguns analistas defendem que a melhor solução seria conceder a independência pelo menos à parte central do Vale da Caxemira, onde a proporção de muçulmanos é ainda maior – uma medida que conta com o apoio inclusive de grupos locais, mas é apontada como economicamente inviável por alguns analistas.
5. Chechênia (Rússia)
Uma das várias localidades a tentar se separar no momento do colapso da União Soviética, a Chechênia – região de maioria muçulmana no sudoeste da Rússia – até hoje luta por reconhecimento internacional para a sua causa autonomista. A declaração da independência em 1991 e a subsequente proclamação da República Chechena da Ichkeria foram reprimidas pelo governo russo, levando a duas guerras que devastaram a região – a primeira entre 1994 e 1996, a segunda entre 1999 e 2000.
Desde então, os nacionalistas chechenos têm se valido de táticas terroristas para levar adiante sua mensagem.
Em um dos ataques mais brutais, quase 400 pessoas foram mortas, incluindo centenas de crianças, após a tomada de uma escola na cidade russa de Beslan, em 2004. Com 1,3 milhão de habitantes e ricas jazidas de gás natural e petróleo, a região é hoje controlada com mão de ferro e considerada uma das mais repressivas do mundo.
6. Chipre do Norte (Chipre)
Disputada há séculos por gregos e turcos, a ilha do Chipre vive seu impasse atual desde meados dos anos 70. Em 15 de julho de 1974, um grupo de nacionalistas gregos tentou promover um golpe de Estado para derrubar o governo independente da ilha e garantir a sua anexação pela Grécia. Temendo que isso levasse à perseguição da minoria muçulmana, a Turquia respondeu invadindo a ilha cinco dias depois.
O que se seguiu foi a expulsão dos habitantes de etnia grega da parte norte do Chipre, que na prática se tornou uma ilha dividida: ao sul, a República do Chipre, considerada pela comunidade internacional o único país ali existente, mas que na realidade controla apenas 59% do território; ao norte, a chamada República Turca do Chipre do Norte, cuja soberania é aceita apenas pela Turquia, mas que funciona como um estado autônomo buscando ser reconhecido pelo resto do mundo.
O reconhecimento é praticamente impossível: como o Chipre faz parte da União Europeia, o bloco considera a presença turca uma ocupação ilegal de território europeu.
7. Córsega (França)
Berço de Napoleão, a Córsega só se tornou parte da França graças a uma dívida: em 1768, a então República de Gênova entregou a ilha ao rei Luís XV para pagar as contas. A ilha tem grande proximidade cultural com a vizinha Sardenha, que pertence à Itália, e historicamente cobra mais atenção do governo central francês às suas dificuldades econômicas. Considerando-se ignorada em sua petição, a Córsega viu florescerem movimentos nacionalistas buscando a independência pelas armas ou pela diplomacia.
A hoje pacificada Frente de Libertação Nacional da Córsega ficou famosa por seus atentados a bomba nos anos 70 e 80, além do assassinato de Claude Érignac, que governava a ilha, em 1998. Há dois anos, o grande partido nacionalista da atualidade, o Pè a Corsica (“Pela Córsega”, em língua corsa), tornou-se o maior grupo do parlamento local, com 24 dos 51 assentos possíveis. O resultado, beirando a maioria absoluta, reacendeu a esperança de independência.
8. Curdistão (Irã, Iraque, Síria e Turquia)
Em termos étnicos e culturais, os curdos são considerados a maior nação do mundo sem um estado próprio. Quando os antigos impérios se fragmentaram e novos países foram pipocando pelo mapa do Leste Europeu e do Oriente Médio, o território historicamente habitado pelos curdos (e por muito tempo parte do Império Otomano) passou a ser dividido por quatro países diferentes. Irã, Iraque, Síria e Turquia convivem com cerca de 30 milhões de curdos espalhados por seus territórios e desejando a formação de um governo independente.
Os recentes conflitos para expulsar o Estado Islâmico da região contaram com grande participação de tropas curdas, e a renovada organização militar vem sendo utilizada para barganhar um acordo com os governos. No Iraque, onde vivem cerca de 8 milhões de curdos, o grupo étnico realizou dois referendos pela independência – em 2005 e em setembro deste ano – e em ambos o apoio pela secessão foi massivo. Os resultados, porém, não foram reconhecidos por Bagdá.
Na prática, o norte do Iraque já funciona como um governo autônomo curdo desde o fim da Guerra do Golfo, em 1991.
9. Escócia (Reino Unido)
Inglaterra e Escócia se uniram pela primeira vez, na prática, em 1603. Na ocasião, o rei escocês James Stuart herdou o trono inglês da sua prima, Elizabeth I, unindo as coroas. Mais de cem anos depois, em 1707, o casamento foi oficializado: com a concordância dos dois lados, a assinatura do Tratado de União fundiu os reinos sob o nome de Grã-Bretanha – oficialmente, não existe mais uma “rainha da Escócia” e nem uma “rainha da Inglaterra”.
Mas a paz dos últimos séculos ignora a história de conflitos preservada nos hinos regionais: “Flower of Scotland”, considerado o hino informal da Escócia e cantado nos eventos esportivos, recorda quando as tropas locais “mandaram para casa” o exército do rei inglês Edward II no século 14. Já um antigo verso de “God Save the Queen”, não mais cantado, fala em “esmagar os rebeldes escoceses” – resquício das revoltas jacobitas de meados do século 18, quando os Stuart haviam sido derrubados do trono e tentavam voltar pela via armada.
Mais recentemente, o nacionalismo escocês foi rejeitado em um referendo celebrado em 2014, quando 55% da população votou pela permanência no Reino Unido. O principal argumento contra a secessão, porém, era a permanência na União Europeia, pois uma Escócia independente teria que começar do zero o processo de admissão – o “Brexit” ameaça renovar o debate, já que a maioria dos escoceses foi contrária à saída do bloco continental, mas acabou derrotada pelos ingleses.
10. Flandres e Valônia (Bélgica)
Aquilo que hoje conhecemos como Bélgica só começou a existir em 1830. Antes disso, a região pertencia aos Países Baixos, e era habitada tanto por holandeses quanto por franceses.
As diferenças linguísticas e culturais fizeram com que o país fosse tradicionalmente – e, mais tarde, oficialmente – dividido em duas grandes regiões: Flandres, ao norte, onde predomina a população de língua holandesa (idioma falado por 60% dos belgas); e a Valônia, ao sul, de maioria francófona.
As dificuldades de formar coalizões governistas – cada região tem seus próprios partidos – e o aumento das dificuldades econômicas desde 2007 fez com que o projeto de separação começasse a ser discutido com mais força, especialmente na área flamenca, mais rica. Embora a Bélgica tenha procurado soluções controladas para a crise, usando o argumento de que os países divididos perderiam relevância na Europa, muitos nacionalistas flamencos consideram uma eventual separação inevitável no futuro.
11. Groenlândia (Dinamarca)
Com 2,16 milhões de quilômetros quadrados, uma Groenlândia independente seria o 12º maior país do mundo. Por outro lado, seus pouco mais de 56 mil habitantes a colocariam apenas no 187º lugar no ranking de população.
Essa disparidade ajuda a entender por que a separação da Groenlândia continua a ser algo difícil de obter, apesar de alguns movimentos nacionalistas na ilha que, ainda hoje, é parte da Dinamarca – um país 50 vezes menor, mas cem vezes mais populoso.
Apesar disso, uma soberania negociada vem sendo obtida gradativamente desde os anos 70. Em 2008, um plebiscito garantiu à ilha o direito de se autogovernar. Na prática, a última década viu a Groenlândia funcionar cada vez mais como um país independente em quase todos os aspectos da vida cotidiana, com exceção da emissão de moeda própria, da política externa e das forças armadas.
12. Iêmen do Sul (Iêmen)
Formada em 1967 como um estado-satélite da União Soviética, a República Democrática Popular do Iêmen existiu até o início dos anos 90, quando a crise do mundo socialista também derrubou a nação do Oriente Médio. Conhecido como Iêmen do Sul, o antigo país foi anexado pelo chamado Iêmen do Norte, formando a atual República do Iêmen, no extremo-sul da Península Arábica.
Desde então, várias insurgências têm acontecido de tempos em tempos na região. A mais recente começou em 2009, tornando-se uma das várias frentes de crise enfrentadas pelo governo iemenita hoje: lutando contra o terrorismo, a falta de alimentos e uma epidemia de cólera, o Iêmen também tem como rival o chamado Movimento Sulista, que sonha com a volta do antigo Iêmen do Sul.
13. Irlanda Unida (Reino Unido)
Quando a atual República da Irlanda (também chamada de Eire) obteve sua independência em relação à Grã-Bretanha, em 1922, o norte da ilha continuou a ser parte do Reino Unido.
Ao contrário dos nacionalistas católicos que haviam lutado pela separação, a Irlanda do Norte possuía maioria protestante e traços culturais mais próximos dos britânicos. A divisão da ilha gerou conflitos que se estenderam ao longo do século 20, com grupos como o IRA (o Exército Republicano Irlandês, na sigla em inglês) protagonizando atentados terroristas buscando chamar a atenção para a causa da reunificação da Irlanda.
A paz foi alcançada em 1998, com a abertura da fronteira e um cessar-fogo, mas o “Brexit” pode fazer os fantasmas do passado voltarem: o governo britânico teme que a saída da União Europeia e uma volta dos controles fronteiriços reacendam o nacionalismo na Irlanda do Norte, que poderia pleitear a separação do Reino Unido e uma fusão com o Eire.
14. Nagorno-Karabakh (Azerbaijão)
Oficialmente parte do Azerbaijão, a região de Nagorno-Karabakh não é controlada por aquele país há 26 anos: em dezembro de 1991, às vésperas da queda da URSS (da qual o Azerbaijão fazia parte), a população local realizou um referendo de independência em que 99,98% dos eleitores apoiaram a separação.
Nenhum membro da ONU reconheceu a votação, mas o resultado serviu de argumento para um governo local ser formado. O motivo? Embora parte do Azerbaijão, a grande maioria da população de Nagorno-Karabakh era originária da vizinha Armênia.
Uma guerra eclodiu entre os dois países e, em 1994, um tratado de paz deixou a zona na situação atual: oficialmente, Nagorno-Karabakh ainda é uma província do Azerbaijão. Na prática, opera como uma nação independente, com 150 mil habitantes e sem reconhecimento internacional. Também mudou de nome: passou a se chamar República de Artsakh, após um referendo interno em fevereiro deste ano.
15. Nova Caledônia (França)
Situada no Pacífico, muito mais próxima da Austrália do que da França (que fica a mais de 20 mil quilômetros de distância), a Nova Caledônia conta cerca de 270 mil habitantes e busca alcançar sua autonomia sem uma ruptura violenta em relação à metrópole. As duas partes têm discutido uma solução há décadas, e o desfecho pode estar próximo: segundo o Acordo de Nouméa, assinado em 1998, um referendo pela independência do arquipélago deveria ocorrer em no máximo vinte anos.
Com o reconhecimento da França, o governo local caledoniano já se mobiliza para organizar a votação, que deve ocorrer no máximo até novembro de 2018. O maior grupo residente na ilha, da etnia nativa kanak, compõe cerca de 45% dos habitantes e é tradicionalmente favorável à independência.
16. Padânia (Itália)
A ideia da Itália enquanto uma nação unificada é recente: por mais que a tradição queira ligar o país atual ao passado do Império Romano, a Itália que conhecemos hoje é uma amálgama de regiões que se mantiveram separadas até a segunda metade do século 19.
Proposta nos anos 1990 pelo partido federalista Lega Nord, a Padânia seria um país reunindo as ricas regiões do norte italiano, como a Lombardia e o Piemonte – sua independência chegou a ser declarada em 1996, embora o ato não tenha tido qualquer resultado prático.
A Padânia é adepta da “diplomacia do esporte” e utiliza o futebol para levar adiante sua mensagem separatista: a seleção local de futebol venceu três vezes a extinta Copa do Mundo Viva, que reunia equipes de nações não reconhecidas pela Fifa, como o Curdistão e o Chipre do Norte.
17. País Basco (Espanha)
Se o processo de independência catalão acabar bem-sucedido, a região com potencial de viver o efeito mais imediato é o País Basco.
Assim como a Catalunha, o povo basco também apresenta argumentos como a presença de uma língua e uma cultura distintas daquela que a Espanha tenta promover, bem como um passado de repressão sobre a população local. O nacionalismo basco já tomou rumos violentos: o ETA (sigla em basco para “País Basco e Liberdade”) manteve-se ativo por mais de cinquenta anos querendo separar a região.
Um País Basco independente afetaria não só a Espanha, mas também a França: quase 15% do território habitado pelos bascos fica do outro lado da fronteira. O ETA entregou suas armas em 2011, enfraquecido pela maior autonomia que os bascos ganharam durante a democracia espanhola, mas a recente crise econômica e o furor nacionalista na Catalunha podem reavivar o sentimento pró-independência local.
18. Principado de Seborga (Itália)
No início da década de 60, um florista de Seborga, pequena cidade próxima à fronteira da Itália com a França, embarcou em uma empreitada quixotesca: Giorgio Carbone insistia que a região deveria ser independente, conquistou o apoio da pequena população local e foi aclamado Príncipe Giorgio I de Seborga pelos outros moradores.
Giorgio I teve seu cargo reafirmado em 1995, quando 304 habitantes votaram pela independência de Seborga e apenas 4 se opuseram em um plebiscito local. O “príncipe”, que não foi reconhecido por nenhum outro país, continuou seu reinado até morrer, em 2009, e chegou a emitir moedas com a sua efígie.
Seborga utiliza o separatismo como atração turística – segue pagando impostos e utilizando os serviços oferecidos pelo governo italiano. O que não impediu que um novo príncipe fosse coroado após eleições gerais: desde 2010, o empresário Marcello Menegatto ostenta o título de Sua Alteza Serena Marcello I de Seborga. A peculiar “monarquia” de Seborga tem que passar por eleições periódicas a cada sete anos – Marcello I superou o teste e foi reeleito em abril deste ano.
19. Québec (Canadá)
Região de língua francesa situada no extremo-oriente do Canadá, o Québec representa 15% da área e 23% da população do país norte-americano. Um movimento separatista pacífico vem buscando a independência da região e já conquistou o direito de realizar referendos em 1980 e 1995 – sendo derrotado em ambas, a segunda delas por uma margem de apenas 1,2% dos votos.
O sentimento de identidade distinta do Québec levou a região a ser conhecida como uma “nação dentro do Canadá” pelo Parlamento canadense em 2006, mas a soberania absoluta segue dividindo opiniões. Nos últimos anos, o principal partido separatista perdeu força e as pressões por um terceiro referendo diminuíram.
20. Republika Srpska (Bósnia)
Com a maioria da população identificada com a Sérvia, a Republika Srpska (literalmente “República Sérvia”) é um legado das antigas fronteiras da Iugoslávia. Quando a Bósnia-Herzegovina declarou sua soberania, em 1991, levou consigo uma região que preferia não ter se separado. Dos 3,5 milhões de habitantes da Bósnia, cerca de 1,3 milhão vivem na Srpska, 82% dos quais são etnicamente sérvios.
Governada de forma autônoma, a Republika Srpska é vista como uma entidade ilegítima pela maioria dos bósnios, que desejam sua dissolução. O mais provável, porém, é a sua separação: após a independência de Montenegro e do Kosovo, a vontade de separar a Srpska da Bósnia e uni-la à Sérvia voltou com força – a questão, agora, é se esse processo será sangrento como as guerras balcânicas da década de 90, ou diplomático como as últimas secessões, ocorridas na região desde a virada do século. Diante das ameaças de perder autonomia, a Srpska já prometeu organizar um referendo separatista unilateral em 2018.
21. Saara Ocidental (Marrocos e Mauritânia)
No mapa-múndi e nas listas estatísticas, a cor do Saara Ocidental costuma ser cinza, o que indica a inexistência de dados. Mais de meio milhão de pessoas vivem naquela que é, hoje, a maior área do mundo sem uma definição clara sobre seu governo. A Espanha colonizou a região até 1975 e abriu mão do seu domínio em troca de uma administração compartilhada com o Marrocos e a Mauritânia, os dois países ao redor – mas, quatro anos mais tarde, tropas marroquinas já haviam ocupado a zona inteiramente, assegurando o controle de fato da região.
Desde então, o status do Saara Ocidental é disputado no cenário internacional e, oficialmente, ninguém tem o direito de governá-lo sozinho. A situação se agravou ainda mais após um movimento separatista proclamar a República Árabe Democrática Sahrawi, que governa uma parte do território. A ONU negociou um cessar-fogo em 1991, com a promessa de um referendo pela independência e pelo controle da região, mas até hoje nenhuma medida foi tomada pelo governo marroquino.
22. Tamil Eelam (Sri Lanka)
Independente da Grã-Bretanha desde 1948, o Sri Lanka é uma ilha localizada a 32 quilômetros da Índia e com uma área menor que a do estado da Paraíba. Desde os anos 70, operou por lá um dos grupos terroristas mais violentos do mundo – os chamados Tigres Tâmeis, que lutavam pela separação do norte e do leste da ilha, formando a nação do Tamil Eelam.
Pioneiros no uso de homens-bomba, os Tigres foram responsáveis por cerca de 40% dos atentados suicidas registrados no mundo até 2001, causando mais de 60 mil mortes, inclusive a de Ranasinghe Premadasa, então presidente do Sri Lanka, em 1993.
Embora o grupo extremista tenha sido derrotado há oito anos, as tensões étnicas entre o povo tâmil e a maioria cingalesa permanecem. Os tâmeis são a principal minoria do Sri Lanka, compondo cerca de 15% da população atualmente, e se sentem discriminados.
23. Tibete (China)
A nação soberana do Tibete foi formada em 1912, após a queda do último imperador da China, e existiu por apenas 39 anos. Em 1951, com o argumento de que o domínio chinês sobre a região existia desde séculos, as tropas de Mao Tsé-Tung ocuparam o país definitivamente. Um levante dos tibetanos em 1959 foi respondido por brutal repressão chinesa, o que levou ao exílio do Dalai Lama (líder espiritual e político tibetano), que vive na Índia até hoje.
Atualmente, duas correntes distintas lutam por uma redução do poderio chinês na região: o Dalai Lama defende uma maior autonomia do Tibete, mas não a separação, enquanto os movimentos nacionalistas mais radicais querem uma independência total.
O governo tibetano no exílio acusa a China de estar promovendo a assimilação cultural dos tibetanos, além de incentivar a imigração de outros grupos étnicos para destruir a identidade regional – em 2008, data da estimativa mais recente, cerca de 93% da população local ainda era etnicamente tibetana.
24. Transnístria (Moldávia)
A Transnístria não é reconhecida pela ONU, mas funciona como um governo autônomo desde 1990 – é, também, uma espécie de última província soviética. Quando a URSS se fragmentou, essa região localizada em uma estreita faixa de terra no lado leste da atual Moldávia se recusou a seguir o rumo da história: com um forte sentimento pró-russo, os habitantes locais não quiseram ser parte do novo país e resolveram formar um governo independente utilizando a bandeira da antiga República Socialista Soviética da Moldávia.
Como resultado, a Transnístria é, hoje, o único “país” do mundo a ainda exibir a foice e o martelo em sua bandeira. Apesar de não ser reconhecida como uma nação soberana, a Transnístria funciona em todos os aspectos como uma república independente: sustentada pelo poderio militar russo, a região mantém um governo, uma constituição e um exército próprios, além de emitir moeda e passaportes.
25. União Sul Brasileira (Brasil)
Concentrando cerca de 16% do PIB e 14% da população brasileira em menos de 7% do território, a Região Sul do Brasil tem atualmente o mais ativo grupo separatista do país. Sem previsão legal para secessões, a Constituição brasileira atualmente impede qualquer iniciativa do tipo. O suposto país também não tem nome, embora os ativistas se refiram a ele como “União Sul Brasileira”. Também foi sugerida a cidade de Laguna, em Santa Catarina, como capital do “Sul” – por sua centralidade geográfica em relação aos três estados.
Sem qualquer controle por parte das autoridades eleitorais, o movimento “O Sul É o Meu País” realizou seu plebiscito separatista mais recente em outubro deste ano – mais de 96% dos votantes foram favoráveis à independência da região, mas o comparecimento às urnas foi de apenas 1,7% dos eleitores registrados nos estados. O grupo alega que a Região Sul possui uma cultura distinta, além de advogar contra a corrupção e o que diz ser uma distribuição injusta da taxação no Brasil.
26. Zanzibar (Tanzânia)
O Sultanato de Zanzibar existiu desde meados do século 19 e, após a deposição da monarquia, como uma república socialista que durou três meses, entre janeiro e abril de 1964. Arquipélago localizado na Costa Leste da África, Zanzibar decidiu abrir mão de um relativo grau de autonomia para se juntar à mais próspera região de Tanganica, localizada no continente, que havia obtido sua independência frente à Grã-Bretanha três anos antes – juntos, os dois países formaram a atual Tanzânia.
Desde então, muita coisa mudou. A população da Tanzânia explodiu e hoje ultrapassa os 55 milhões de habitantes, mas apenas cerca de 1,5 milhão vivem em Zanzibar. Enquanto a maioria da população do continente é cristã, no arquipélago o Islã predomina.
As diferenças culturais e a disparidade econômica – por exemplo, a expectativa de vida ao nascer na Tanzânia é uma das mais baixas do mundo, apenas 61 anos de idade, mas em Zanzibar é ainda menor (57) – fizeram alguns grupos promoverem ideais separatistas nos últimos anos.
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