Os emigrantes russos no Reino Unido parecem particularmente vulneráveis a possíveis ataques da inteligência russa| Foto: MLADEN ANTONOVAFP

Neste fim de semana, Sergei Skripal, de 66 anos, desmaiou em um centro comercial da cidade britânica de Salisbury. Ele está agora na unidade de terapia intensiva do hospital da cidade, sendo tratado por "exposição suspeita a um agente neurotóxico", um químico altamente tóxico que para o sistema nervoso e faz com que as funções corporais deixem de funcionar. Em outras palavras: as autoridades acham que ele pode ter sido envenenado.  

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Skripal, ex-espião russo, foi preso em Moscou por compartilhar os nomes de agentes secretos de inteligência russos que trabalham no exterior com autoridades europeias. Depois de um acordo de troca entre prisioneiros, ele foi libertado para o Reino Unido. Investigadores acreditam que Skripal pode ter sido atacado por agentes russos. 

Dmitry Peskov, porta-voz do presidente russo Vladimir Putin, negou qualquer envolvimento no ataque. "Sabemos que essa situação trágica aconteceu, mas não temos informações sobre suas causas prováveis, o que esse homem tem feito e sobre o que se trata", disse Dmitry Peskov a jornalistas. 

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Se a investigação, de fato, revelar que Skripal foi envenenado por seus colegas russos, não seria a primeira vez que tal incidente ocorre. 

Agentes de inteligência russos transformaram intoxicações por motivações políticas em uma espécie de arte macabra. Especialistas trabalharam por muitos anos para desenvolver venenos incolores e inodoros. Alguns testes chegaram a ser feitos em prisioneiros vivos, segundo contou um desertor da KGB (organização de serviços secretos da antiga União Soviética) em uma entrevista em 1954. 

Alguns venenos escolhidos, como o gás sarin, são fatais se inalados, mesmo em doses pequenas. Outros, como o cádmio, são letais ao toque. Um banqueiro russo, Ivan Kivelidi, morreu de intoxicação por cádmio em 1995. De acordo com as autoridades, a droga foi colocada no telefone do escritório dele. 

Em 2008, um advogado russo de direitos humanos foi morto com mercúrio, substância esta encontrada em seu carro. Em um episódio famoso, de 1978, um dissidente búlgaro foi morto depois de ser “esfaqueado” com um guarda-chuva contaminado com ricina na Ponte de Waterloo, em Londres. Outras substâncias fazem com que as vítimas sofram um ataque cardíaco. 

Conforme o New York Times, "nenhuma outra grande potência lança mão de assassinatos da forma sistemática e implacável quanto a Rússia o faz contra aqueles vistos como traidores de seus interesses no exterior. Os assassinatos que ocorrem fora das fronteiras do país receberam até mesmo a sanção legal do Parlamento russo em 2006". 

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Ataques como este ocorrem na Rússia e no exterior. Em outro caso memorável, o chá da jornalista Anna Politkovskaya foi envenenado durante um vôo para o Cáucaso. Ela sobreviveu, mas depois foi baleada e morta em Moscou. 

Os emigrantes russos no Reino Unido parecem particularmente vulneráveis. A Rússia é suspeita de ter organizado os assassinatos de pelo menos outras 14 pessoas em solo britânico nas últimas duas décadas, de acordo com uma extensa investigação do site BuzzFeed. Isso se deve, em parte, pela geografia: Londres é uma sede da diáspora russa. 

Mas há outros motivos também. Até recentemente, a Grã Bretanha se esquivava a investigar mortes suspeitas como assassinatos. O BuzzFeed explica que "os motivos da reticência da Grã-Bretanha incluem medo de retaliação, incompetência da polícia e desejo de preservar os bilhões de libras de dinheiro russo que chegam aos bancos e propriedades britânicas todos os anos. Assim, a Rússia está fazendo, cada vez mais, ‘movimentos audaciosos’ no Reino Unido sem medo de represálias". 

Casos famosos de russos mortos no Reino Unido sob circunstâncias misteriosas

Boris Berezovsky: encontrado aparentemente enforcado em um banheiro em 2013. Para a polícia se tratava de um suicídio, mas agentes da inteligência dos Estados Unidos suspeitaram de um assassinato. 

Muitos de seus associados também foram alvo ao longo dos anos, incluindo:  

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Scot Young: um multimilionário que por anos se preocupou com a hipótese de ser alvo de uma equipe de assassinos russos. Em 2014 ele foi encontrado morto, com o corpo atravessado por uma cerca de ferro depois de ter caído de uma janela em sua casa. Na época, a polícia apontou a morte como suicídio e não prosseguiu com uma investigação criminal. Mas especialistas, incluindo fontes de inteligência dos EUA, suspeitam que ele tenha sido assassinado. 

Um trio de parceiros comerciais de Young - Paul Castle, Robbie Curtis e Johnny Elichaoff - morreram em aparentes suicídios quatro anos antes da morte de Young. De acordo com o BuzzFeed, as agências de inteligência dos EUA consideraram as mortes suspeitas. 

Badri Patarkatsishvili: Um magnata da Geórgia e parceiro de negócios de Berezovsky morreu por um aparente ataque cardíaco em 2008, provavelmente causado por um veneno. 

Yuri Golubev: Outro sócio de Berezovsky, Golubev foi encontrado morto em 2007 em Londres. Magnata do petróleo e crítico aberto de Putin, ele era um conhecido inimigo do Kremlin.  

Outras mortes suspeitas incluem Stephen Moss, um homem de 46 anos que morreu de um ataque cardíaco repentino em 2003, e Stephen Curtis, morto em um acidente de helicóptero em 2004. Como BuzzFeed explicou, os dois eram suspeitom de ajudar magnatas russos a mandar dinheiro para a Grã-Bretanha. 

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"A história deste círculo de morte deixa claro uma das tendências geopolíticas mais perturbadoras do nosso tempo (o uso de assassinatos por serviços secretos da Rússia e poderosos grupos mafiosos para acabar com seus oponentes em todo o mundo) e a falha das autoridades britânicas para enfrentá-la", concluiu a investigação feita pelo BuzzFeed.  

Alexander Litvinenko: crítico de Putin,Litvinenko morreu em 2006, três semanas depois de beber um chá com algum tipo de substância radioativa. Um inquérito britânico de 2016 descobriu que Putin "provavelmente" ordenou o assassinato do ex-agente da KGB. Os dois homens acusados do ataque, Andrey Lugovoy e Dmitry Kovtun, negaram o envolvimento no assassinato e sugeriram que a Grã-Bretanha estava tentando suscitar oposição ao governo em Moscou antes das eleições.  

Alexander Perepilichny: Em 2009, Perepilichny fugiu da Rússia para Londres, onde forneceu evidências de corrupção às autoridades suíças, sob a forma de registros de transferência bancária. Em 2012, aos 44 anos, sofreu um ataque cardíaco enquanto se exercitava. De acordo com os registros, ele estava em excelente estado de saúde. Em 2015 sua morte foi ligada ao gelsemium, uma planta rara e venenosa cultivada no Himalaia e conhecida por ter sido usada em assassinatos de chineses.