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Ainda que não seja de bom tom dizer isso diante da desordem social recente, o verdadeiro drama dos negros tem pouco ou nada a ver com a polícia ou com o chamado “racismo sistêmico”. Ele tem a ver com a responsabilidade daqueles que administram as grandes cidades.
Algumas das mais perigosas cidades dos Estados Unidos são St. Louis, Detroit, Baltimore, Oakland, Chicago, Memphis, Atlanta, Birmingham, Newark, Buffalo e Filadélfia. A característica em comum dessas cidades é que elas são há décadas administradas por democratas progressistas.
Algumas cidades — como Detroit, Buffalo, Newark e Filadélfia — não elegem prefeitos republicanos há mais de meio século. Além disso, em muitas dessas cidades os negros são prefeitos, dominam as câmaras de vereadores e ocupam os cargos de chefes de polícia e superintendentes educacionais.
Em 1965, não havia senadores negros nos Estados Unidos, assim como não havia governadores negros. E apenas seis membros da Câmara de Deputados eram negros.
Já em 2019, os negros têm uma representação muito maior em algumas áreas — 52 deputados federais são negros. Nove negros atuaram no senado, entre eles Edward W. Brooke, de Massachusetts, Carol Moseley Braun e Barack Obama, de Illinois, Tim Scott, da Carolina do Sul, Cory Booker, de Nova Jersey, e Kamala Harris, da Califórnia. Recentemente, foram eleitos três governadores negros.
A questão é que os negros norte-americanos de hoje têm um poder político significativo em todos os níveis da administração. Mas o que isso significa para a população negra?
As cidades controladas pelos democratas têm os piores níveis de educação, apesar dos orçamentos cada vez maiores para as escolas.
Veja o caso de Baltimore, em Maryland. Em 2016, em 13 das 39 escolas de ensino médio de Baltimore, nenhum aluno obteve nota máxima no exame estadual de matemática. Em seis outras dessas escolas, apenas 1% dos alunos foram considerados proficientes em matemática. Apenas 15% dos estudantes de Baltimore foram aprovados no exame estadual de inglês.
Naquele mesmo ano, na Filadélfia, apenas 19% dos alunos do oitavo ano foram considerados proficientes em matemática e 16% em leitura. Em Detroit, apenas 4% dos alunos do oitavo ano foram considerados proficientes em matemática e 7% em leitura. A mesma história de desastre acadêmico se repete em outras cidades administradas por democratas.
A criminalidade e a educação de baixa qualidade não são os únicos problemas das cidades administradas por democratas. Por causa da criminalidade, da educação ruim e do ambiente desagradável, as cidades estão perdendo sua base econômica e sua população mais produtiva.
No fim da Segunda Guerra Mundial, a população de Washington, D.C., era de cerca de 800 mil pessoas. Hoje é de cerca de 700 mil. Em 1950, a população de Baltimore era de 950 mil habitantes. Hoje é de 590 mil. A população de Detroit no mesmo ano chegava perto de 1,85 milhão. Hoje caiu para 673 mil. Ainda em 1950, a população de Camden, Nova Jersey, era de 125 mil habitantes. Hoje caiu para 74 mil. Em St. Louis, a população era de 856 mil habitantes e hoje não passa dos 294 mil.
Uma história semelhante de declínio populacional pode ser encontrada na maioria das nossas antes prósperas cidades. Em algumas delas, a população caiu pela metade em relação a 1950, como em Detroit, St. Louis, Cleveland e Pittsburgh.
Os progressistas acadêmicos, defensores dos direitos civis e outros culpam o racismo pelo êxodo – a “fuga dos brancos” dos subúrbios para evitar os negros. Mas os negros saem dessas cidades em taxas mais altas do que os brancos. As cinco cidades cujas populações negras crescem mais rápido são Miami, Dallas, Washington, Houston e Atlanta.
O fato é que os negros, assim como os brancos, querem escolas melhores e mais seguras para seus filhos, e não querem ser roubados nem ter sua propriedade vandalizada. E, assim como os brancos, os negros que têm condições mal podem esperar para abandonar as cidades problemáticas.
Os progressistas brancos e os políticos negros se atêm basicamente ao que a polícia faz, mas quão relevante é isso para a tragédia como um todo?
De acordo com o portal Statista, neste ano 172 brancos e 88 negros morreram nas mãos da polícia. Para se ter um pouco de perspectiva quanto à ação policial, só em Chicago, em 2020, houve 1.260 tiroteios e 256 homicídios com vítimas negras. Isso significa uma pessoa alvejada a cada 3 horas e uma vítima de homicídio a cada 15 horas. Três pessoas foram mortas pela polícia de Chicago.
Quem está realmente preocupado com a morte de negros sabe que a ação policial deveria figurar no final da lista — o que não justifica o mau comportamento de alguns policiais.
Walter E. Williams é colunista do Daily Signal e professor de economia na George Mason University.