Simbolo de boa sorte, a suástica foi apropriada pelo nazismo. No Japão, os turistas terão de se acostumar a vê-las em placas e templos.| Foto: Wikimedia Commons
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Quem for visitar o Japão por ocasião dos Jogos Olímpicos deste ano pode acabar se deparando várias vezes com uma imagem que aterroriza os ocidentais: a suástica. O símbolo é tradicionalmente utilizado para indicar a presença de templos budistas e está espalhado em diversas placas e mapas por todo país. Segundo o site da embaixada japonesa no Brasil, existem nada menos do que 85.439 templos budistas no Japão.

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No Ocidente, a suástica está fortemente associada a Hitler e ao nazismo, cujo rastro de opressão, destruição e morte continua presente na memória de todos. Para se ter uma ideia, ao menos sete países proíbem a fabricação e exibição pública de símbolos nazistas, incluindo o Brasil. Os outros são Áustria, República Checa, Eslováquia, Suécia, Suíça e, claro, a Alemanha.

Recentemente, um homem que ostentava, num bar, uma faixa no braço com uma suástica nazista virou réu em Minas Gerais. A acusação do Ministério Público aponta que as pessoas presentes, indignados e incomodados com o fato, advertiram o homem, que se recusou a retirar o adorno.

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Agora ele responderá por ter infringido a Lei 7.716/89, que determina prisão de dois a cinco anos e multa para quem "fabricar, comercializar, distribuir ou veicular símbolos, emblemas, ornamentos, distintivos ou propaganda que utilizem a cruz suástica ou gamada, para fins de divulgação do nazismo".

O que é a suástica?

Não se sabe que povo usou esse símbolo pela primeira vez, mas é certo que ele tem uma origem antiquíssima, de pelo menos 5 mil anos. O termo “suástica” deriva do sânscrito svasti, que significa “fortuna, felicidade”. Tradicionalmente, o símbolo evoca um movimento rotatório da esquerda para direita, ou seja, em sentido horário, é um considerado um símbolo solar. Mas há também suásticas em sentido inverso associadas à noite.

A suástica é encontrada em suas diversas formas nas mais variadas culturas da Europa e também entre maias, bizantinos e índios navajos. Os hindus e budistas a utilizam como sinal de boa fortuna. A própria Força Aérea Britânica a estampava em seus aviões até 1939.

No Japão, a cruz gamada é bastante utilizada pelos budistas, que a chamam de “manji”. Ela é representada no sentido inverso à nazista (que, aliás, tem seu eixo inclinado em relação aos símbolos tradicionais).

A suástica nazista

Em alemão a suástica é chamada hakenkreuz. Ela passou a ser usada pelos nazistas depois que acadêmicos alemães do século 19 notaram semelhanças entre o alemão e o sânscrito, concluindo, a partir daí, que alemães e hindus provinham da “raça ariana”. Hitler teria tomado a suástica (erroneamente) por uma expressão típica da língua e da raça ariana e resolveu adotá-la como o emblema de seu movimento.

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Com a derrota e a revelação dos horrores do nazimo, depois da Segunda Guerra Mundial, a Alemanha proibiu o uso público de símbolos e gestos que remetessem ao regime de Hitler. Mas há exceções à regra. Suásticas e outros símbolos nazistas podem ser usados para “esclarecimento cívico, para defesa contra aspirações inconstitucionais, para arte ou ciência, pesquisa ou ensino, para informação sobre eventos atuais ou históricos ou a propósitos similares”.

As controvérsias sobre seu uso geralmente acabam sendo resolvidas nos tribunais.

Suástica nos Jogos Olímpicos

A possibilidade de confusão entre as suásticas tradicional e nazista preocupa o governo japonês por causa do aumento no fluxo de turistas que devem visitar o país para acompanhar os Jogos Olímpicos. Tanto que o governo cogitou substituir a suástica (ou “manji”) pelo desenho de um pagode (nome dado aos templos budistas), mas a ideia acabou descartada.

Segundo o Consulado Geral do Japão em Curitiba, o país está “pensando em formas de comunicação que possam ser entendidas por todos os visitantes durante as Olimpíadas e Paraolimpíadas, porém nada foi revelado oficialmente”.

No Ocidente, os próprios budistas estão tentando resgatar o sentido original do símbolo. Em 2018, um dos monges budistas mais influentes dos EUA e presidente da Fundação Heiwa pela Paz e a Reconciliação de Nova York, T. K. Nakagaki, escreveu um livro para contribuir com a causa: The Buddhist Swastika and Hitler's Cross: Rescuing a Symbol of Peace from the Forces of Hate [A suástica budista e a cruz de Hitler: resgatando um símbolo de paz das forças do ódio]. A publicação pretende esclarecer a história e o significado milenar da suástica.

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Para o coordenador geral do Museu do Holocausto de Curitiba, Carlos Reiss, a interpretação dos símbolos depende do contexto. “Num local onde o uso da suástica fica evidente que se refere a uma outra fé, outra religião, é até possível que haja algum desconforto para quem o veja, sobretudo se for alguém que sofreu de modo mais próximo com o nazismo, mas mesmo assim a tendência é que esse desconforto seja diminuído por causa do contexto. É algo muito diferente de alguém pichar uma parede com uma suástica no Brasil ou na Alemanha, por exemplo”.

No Brasil, existem templos budistas que exibem a suástica em alguns pontos. Vale lembrar que a lei brasileira impede que a suástica seja usada “para fins de divulgação do nazismo” (como no caso do homem no bar de Minas Gerais) e não para fins religiosos.

“É de conhecimento geral que o símbolo da suástica é muito antigo e que seu uso está espalhado por todo o mundo. Mesmo na Europa o símbolo era utilizado como uma espécie de amuleto de boa sorte até ser confiscado pelo nazismo. De qualquer forma, o Japão deve tratar desse assunto com muita seriedade”, disse Reiss.

A Olimpíada de Tóquio pode, enfim, ser um momento oportuno para que se compreenda a relação entre budismo e a suástica. E quem sabe ter seu significado original positivo resgatado no Ocidente.

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Infográficos Gazeta do Povo[Clique para ampliar]