Um ano atrás, com os ânimos acirrados pelo período eleitoral, uma série de incidentes deu a entender que haveria em curso no Brasil uma onda de ações violentas, inclusive de teor nazifascista. Com o fim do segundo turno, o número de casos relatados começou a diminuir. O que aconteceu?
Em outubro de 2018, diferentes estimativas apontaram para o aumento vertiginoso da violência: a plataforma Violência Política no Brasil, que coletou denúncias de vítimas e casos veiculados pela imprensa, registrou aproximadamente 200 casos de agressões desde o início de outubro do ano passado, enquanto que o Ministério dos Direitos Humanos recebeu 38 denúncias.
Em 2019, as denúncias despencaram. Por quê? Basicamente porque as eleições passaram, explica o criminologista Luigi Giuseppe Barbieri Ferrarini, coordenador do Boletim do Instituto Brasileiro de Ciências Criminais (IBCCRIM). “Para a maior parte dos eleitores, a política acaba junto com a votação”.
O período eleitoral é tradicionalmente propenso à agressividade nas ruas, explica o especialista. No caso específico de 2018, a violência foi resultado de uma disputa entre duas polaridades. “Passadas as eleições, a violência por motivação política deixou as ruas. A violência continua institucionalizada, basta ver os índices de homicídio do país, mas não se manifesta mais por questões eleitorais”.
Muitos casos, no entanto, ganharam notoriedade por serem falsos, motivados por uma série de razões — desde problemas psicológicos até a mera tentativa de desqualificar adversários políticos. Casos assim fizeram com que a polícia gastasse recursos, como tempo e dinheiro do pagador de impostos, inutilmente.
A reportagem elencou os sete relatos mais notórios de violência supostamente motivada por questões políticas e registrados no ano passado. Confira, caso a caso, em ordem cronológica, o que aconteceu com os envolvidos e a que conclusões as investigações chegaram.
1. Suástica na barriga
Quando: 10 de outubro de 2018
Onde: Porto Alegre (RS)
Vítima: Uma jovem de 19 anos.
Agressor: Inexistente, segundo a polícia.
O que aconteceu: Uma jovem de 19 anos divulgou em sua rede social uma foto de uma suástica que teria sido marcada a força com um canivete em sua barriga. Diante da repercussão, foi até a polícia, onde alegou que havia sido atacada por um grupo de seguidores de Jair Bolsonaro. Dias depois, retirou a denúncia.
Investigações: No dia 24 de outubro, a polícia concluiu o inquérito que concluiu que a jovem havia mutilado a si mesma. Agora ela está respondendo na Justiça por falsa comunicação de crime. A advogada de defesa nega a acusação e insiste que ela foi atacada, ainda que os agentes policiais não tenham encontrado nenhuma imagem ou testemunha do incidente.
2. Atropelamento proposital
Quando: 7 de outubro de 2018.
Onde: Curitiba (PR).
Vítima: Guilherme Daldin.
Agressor: Desconhecido.
O que aconteceu: O jornalista e produtor audiovisual estava em frente a um bar com uma camiseta vermelha com a imagem de Lula quando um carro avançou em sua direção, passou por cima do seu pé e atingiu sua perna. O automóvel prosseguiu viagem e o motorista ameaçou os amigos de Guilherme.
Investigações: Nenhum suspeito foi identificado ou interrogado.
3. Tiros contra a caravana
Quando: 27 de março de 2018.
Onde: Rodovia PR-473, entre Quedas do Iguaçu e Laranjeiras do Sul (PR).
Vítima: Caravana de militantes do PT.
Agressor: Desconhecido.
O que aconteceu: Atiradores atacaram uma caravana de ônibus da qual participava Luís Inácio Lula da Silva. Um ônibus que transportava convidados (mas não o ex-presidente) foi atingido por um tiro e outro, por uma pedra.
O que dizem as investigações: O laudo aponta que o tiro, calibre .32, partiu de uma altura de 4,36 metro, possivelmente um barranco, e que o atirador tinha 1,70 m e estava atrás dos veículos, a 19 metros da caravana. Mas nenhum suspeito foi identificado (a polícia apenas localizou o dono da fazenda de onde partiu o ataque) e ninguém foi preso.
4. Chutes e socos
Quando: 7 de outubro de 2018.
Onde: Teresina (PI).
Vítima: Lenilson Bezerra.
Agressores: Desconhecidos.
O que aconteceu: Arquiteto, Lenilson vestia uma camiseta vermelha quando reagiu a provocações de um grupo de apoiadores de Bolsonaro. Acabou agredido com chutes e socos.
Investigações: A polícia não conseguiu identificar os agressores.
5. Facadas no bar
Quando: 8 de outubro de 2018.
Onde: Salvador (BA).
Vítima: Romualdo Rosário da Costa, conhecido como Moa do Katendê.
Agressor: Paulo Sérgio Ferreira de Santana.
O que aconteceu: Uma discussão sobre política num bar que o mestre capoeirista Moa do Katendê, de 63 anos, frequentava com familiares terminou com o barbeiro Paulo Sérgio Ferreira de Santana seguindo para casa, pegando uma faca, retornando ao local e desferindo 12 golpes na vítima.
Investigações: Preso em flagrante e réu confesso, Paulo será julgado em júri popular, anteriormente marcado para setembro e depois adiado para o dia 21 de novembro. A depender do julgamento, o agressor pode ser condenado a 24 a 60 anos de reclusão. Paulo Sérgio confirmou que a motivação para o ataque foi um desentendimento sobre o candidato Jair Bolsonaro, de quem ele é eleitor.
6. Acusação contra policiais
Quando: 9 de outubro de 2018.
Onde: São Paulo (SP).
Vítima: Luisa Alencar.
Agressor: Policiais civis, segundo a vítima.
O que aconteceu: A cozinheira Luisa Alencar afirma que pichava um muro com o escrito “Ele Não” quando foi abordada por um policial, que a teria agredido e levado até a 64ª Delegacia de Polícia. Ali, ela teria sido mantida nua numa cela, até concordar em dizer “ele sim” a um dos agentes.
Investigações: A Secretaria de Segurança Pública de São Paulo nega a acusação e afirma que a acusada foi encaminhada por ter cometido crime ambiental e por portar uma pequena quantidade de maconha.
7. Ameaças na rua
Quando: 9 de outubro de 2018.
Onde: Rio de Janeiro (RJ).
Vítima: Juliana Sathler.
Agressor: Desconhecido.
O que aconteceu: Ela andava na zona sul do Rio de Janeiro, na hora do almoço, com um adesivo escrito “Ele Não” colado à roupa quando foi empurrada e ameaçada. Quando começou a gritar pedindo socorro, o agressor fugiu.
Investigações: Sem testemunhas e sem detalhes sobre a identidade do agressor, o inquérito não avançou.
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