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Nature Medicine

Origens da Covid: a história dos cientistas que tentaram livrar a cara da China e o brasileiro que os ajudou

Kristian Andersen
Kristian Andersen, cientista coautor de artigo que tentou afastar prematuramente a hipótese da origem laboratorial da Covid-19, depõe ao Congresso americano em 11 de julho de 2023. (Foto: C-SPAN)

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Uma carta aberta publicada na quarta-feira (26) e assinada por 34 cientistas pede que a revista científica Nature Medicine “remova ou faça retratação” de um artigo publicado em março de 2020 que tentou estabelecer que o vírus da Covid-19 veio de animais silvestres, sem passagem por laboratório.

O artigo, com primeira autoria do virologista Kristian Andersen, do Instituto Scripps, afirmou que “nossas análises mostram claramente que o SARS-CoV-2 não é um constructo de laboratório ou um vírus manipulado propositalmente” e que “não acreditamos que qualquer tipo de cenário baseado em laboratório seja plausível” para a origem da doença que causou uma pandemia com até 20 milhões de vítimas.

Como foi revelado por e-mails e mensagens privadas obtidas por uma comissão do Congresso americano, um mês após a publicação Andersen ainda acreditava que era possível que o vírus pudesse ter sido cultivado em laboratório ou submetido a técnicas de engenharia genética. Duplicidades similares entre o que foi dito em público e discutido em particular foram reveladas para outros autores do artigo.

Proteger a China também foi uma das motivações dos cientistas. Andrew Rambaut, cientista da Universidade de Edimburgo, um dos autores, disse em fevereiro de 2020 que “dado o pandemônio que aconteceria se alguém acusasse seriamente os chineses só de vazamento acidental, sinto que devemos dizer que não há evidência de um vírus que passou por engenharia especificamente, não conseguimos distinguir entre a evolução natural e o vazamento, então nos contentamos em atribui-lo a um processo natural”. “Concordo plenamente”, respondeu Andersen, “embora eu odeie quando a política é injetada na ciência, mas é impossível não injetar, dadas as circunstâncias”.

“O artigo teve um papel influente — de fato, um papel central — em comunicar a narrativa falsa de que a ciência havia estabelecido que o SARS-CoV-2 entrou em humanos através de um transbordamento natural” a partir de animais, diz a carta, cujos signatários são afiliados a 33 instituições em oito países, a maioria universidades e centros de pesquisa. “Os autores não acreditavam nas principais conclusões do artigo quando ele foi escrito”, afirmam. “As declarações [privadas] dos autores mostram que o artigo foi, e é, um produto de má conduta científica”.

Além da postura dúbia dos autores do artigo, a carta usa como argumento uma manifestação pública do editor-chefe da revista, o médico brasileiro João Monteiro, doutor em imunologia pela Universidade Federal do Rio de Janeiro, residente em Nova York. Quando o artigo foi publicado, Monteiro comentou no Twitter que era um “trabalho excelente” que “dará um fim às teorias da conspiração sobre a origem” do vírus.

Nos e-mails revelados, Monteiro concorda quando Andersen pede uma edição de última hora no artigo para “deixar as nossas conclusões menos abertas (para deixar claro que o vírus tem mesmo origem natural)”. O cientista brasileiro não respondeu ao contato da Gazeta do Povo antes do fechamento da reportagem.

Os signatários incluem Alina Chan, jovem pesquisadora e coautora do livro “Viral” (2021, sem edição no Brasil) junto ao escritor científico britânico Matt Ridley, em que ambos arrolam as evidências para a hipótese do vazamento laboratorial; Richard Ebright, bioquímico especialista em segurança laboratorial que denunciou as condições precárias dos laboratórios de Wuhan de onde o vírus pode ter escapado; Jamie Metzl, influente intelectual que foi membro da equipe do governo Bill Clinton e é conselheiro da Organização Mundial da Saúde sobre a governança e controle de edição do genoma humano; e Alex Washburne, jovem cientista que propôs que o vírus tem sinais de manipulação por moléculas que cortam o material genético.

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