“Como está nosso paciente?”
Como uma médica especializada em radiologia, ouço essa pergunta o tempo todo. No caso das minhas pacientes grávidas, geralmente vem depois que a mulher, cheia de vida e com muitos filhos, sai da sala de exames e eu reviso as imagens de ultrassom. É o seu obstetra ligando, e fico muito feliz quando posso dizer: "Simplesmente maravilhoso. Bem adequado para a idade e muito ativo!”
Esta notícia muito bem-vinda não se refere à mãe, mas ao nosso outro paciente: seu pequeno filho ou filha.
Esta é a realidade de como os médicos se relacionam diariamente com nossos pacientes mais jovens - aqueles que ainda não nasceram. Para nós, uma paciente grávida apresenta duas pessoas reivindicando nosso cuidado protetor e preocupação: mãe e filho. Enquanto a Suprema Corte se prepara para ouvir uma contestação direta a Roe versus Wade, o caso de 1973 que usou a “ciência” para negar proteção ao feto antes da viabilidade, médicos como eu esperam que o Tribunal leve essa realidade em consideração. É por isso que me juntei a duas outras médicas - uma neonatologista e uma obstetra - para pedir à Suprema Corte para derrubar Roe e Planned Parenthood versus Casey, permitindo que o estado do Mississippi proiba abortos eletivos após a 15ª semana de gravidez.
Queremos que os juízes saibam que ocorreram grandes mudanças em nossos campos nas décadas desde Roe. Nós, médicos, sabemos muito mais e podemos fazer muito mais pelos bebês em gestação sob nossos cuidados do que poderíamos em 1973. A relação médico-paciente com nossos pacientes nascituros tem crescido cada vez mais, refletindo os avanços científicos nas áreas de terapêutica fetal, imagem fetal e nossa compreensão da dor fetal. Nosso conhecimento crescente sobre a dor fetal, especialmente, exige o fim de Roe, que consagra a legalidade nacional da brutalidade estonteante do aborto eletivo no segundo e terceiro trimestres. Em suma, se Roe foi baseado na ciência, então deixe-o ficar ou cair com base na na ciência moderna.
Na época de Roe, o consenso científico sustentava que para um feto sentir dor, seu córtex cerebral tinha que ser desenvolvido e conectado aos nervos periféricos através da coluna vertebral, e que essas vias seriam estabelecidas por volta das 24 semanas de gestação. Portanto, o aborto de segundo trimestre (dilatação e extração), no qual o feto é desmembrado vivo com fórceps, não poderia causar sofrimento ao bebê. Considerações éticas e morais que seriam naturalmente despertadas com o pensamento de causar dor até mesmo a qualquer animal ao ser “sacrificado” poderiam ser postas de lado no caso do descarte eletivo de um bebê humano. Isso foi antes. Agora, no entanto, a ciência apresenta um quadro drasticamente diferente, exigindo uma nova resposta judicial de um país compassivo.
No Journal of Medical Ethics no ano passado, os doutores Stuart Derbyshire e John Bockmann escreveram: "As evidências neurocientíficas atuais apoiam a possibilidade de dor fetal antes do corte de 'consenso' de 24 semanas." Na verdade, Derbyshire e Bockmann concluem que fetos podem sentir dor já com doze semanas.
Essa é a ciência dos periódicos. Os médicos, no entanto, não esperaram que os pesquisadores e cientistas chegassem a um consenso sobre as vias neurais e a atividade cortical em relação à dor fetal. Neonatologistas que tratam de bebês prematuros nascidos com 23, 22 ou mesmo 21 semanas (algo impensado em 1973, quando a viabilidade era muito mais tarde) observam seus pequenos pacientes reagirem com angústia a estímulos dolorosos e os protegem com analgesia e anestesia assim como fazem com seus pacientes adultos.
Outros médicos que sabem que bebês antes da 24ª semana de gestação sentem dor são cirurgiões fetais. A primeira cirurgia fetal bem-sucedida ocorreu em 1982 e, desde então, o campo explodiu. Retirar do útero um feto vivo, operá-lo e devolver o bebê para terminar de crescer dentro da mãe também era algo impensado em 1973. Hoje, durante uma cirurgia fetal, um especialista em anestesia fetal está invariavelmente presente para administrar um anestésico para o bebê, bem como um agente paralisante e um opioide. O objetivo? Prevenir um sofrimento desnecessário e horrível para o paciente fetal.
Muita coisa mudou desde que Roe colocou os Estados Unidos na mesma classe que a Coreia do Norte e a China ao legalizar o aborto eletivo no segundo e terceiro trimestres. A humanidade inegável e cada vez mais visível da criança não-nascida aumentou nossa sensibilidade para as reivindicações morais dessas pessoas vulneráveis sobre nossa compaixão e respeito. Os avanços na ciência fetal deixaram claro o quão bárbaros e antiéticos são suas terminações. Para nós como médicos, que estabelecemos laços calorosos e urgentes com nossos pacientes fetais, que os defendemos, cuidamos deles, oramos por eles, é claro que Roe deve morrer e nascer uma América mais humana.
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