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Os perigos de se buscar a segurança acima de tudo

Dennis Prager: viver é assumir riscos. (Foto: Pixabay)

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Numa edição recente do “Fireside Chat”, meu talk show semanal na plataforma PragerU, falei da obsessão cada vez maior da sociedade com a sensação de segurança. O texto a seguir é uma versão condensada do que eu disse. Temos um meme na PragerU: “Até que seja seguro significa ‘nunca’”.

A busca pela segurança em praticamente todos os assuntos humanos é desanimadora. Isso se aplica à sua vida individual e também à vida da sociedade.

Sempre cito o mesmo exemplo: recebo visitantes israelenses há décadas e durante todo esse tempo as pessoas ligam para meu programa de rádio e dizem “Dennis, eu adoraria visitar Israel, mas vou esperar até ficar mais seguro”. E eu sempre digo a essas pessoas: “Então você nuca vai visitar Israel”.

E a verdade é que eu já visitei Israel mais de 20 vezes e elas nunca foram para lá.

Nunca vivi minha vida com base no “até ficar mais seguro”. Não assumo riscos ridículos. Uso cinto de segurança sempre que estou num carro porque há uma grande chance de, num acidente, o cinto salvar minha vida. Mas ando de carro, o que não é 100% seguro.

Você não está neste mundo para ficar seguro. Você está neste mundo para viver uma vida plena. Não quero que meu epitáfio seja “Ele viveu em segurança”. É como outro epitáfio que tampouco quero: “Ele sofreu o mínimo possível”.

Neste mundo, se você busca estar 100% seguro e não sofrer, você não vive.

Já visitei 130 países e alguns não são muito seguros. A segurança, no sentido de “sem riscos” não existe.

A aceitação de que há graus de segurança e de que é preciso avaliar riscos e recompensas explicar por que vivo uma vida exuberante.

Dou outro exemplo pessoal. Eu aprendi sozinho a conduzir uma orquestra na adolescência. Conduzi orquestras periodicamente ao longo de boa parte da minha vida adulta. Como maestro convidado, arrecadei dinheiro para orquestras e trabalhei dois anos no Disney Concert Hall, onde conduzi uma sinfonia de Haydn com a Orquestra Sinfônica de Santa Mônica.

Hoje raramente fico nervoso. Mas na primeira vez em que conduzi uma orquestra fiquei tão nervoso que molhei a partitura de suor – e no ensaio.

O que eu fiz foi abdicar da sensação de segurança. Sentir-me seguro significaria não aceitar o convite para conduzir a orquestra.

Toda a vida lhe impõe uma pergunta: você vai assumir riscos ou ficar em segurança? Se você preferir ficar em segurança, não vai se casar. Se você preferir ficar em segurança, não terá filhos. Há riscos de verdade envolvidos num casamento. Há riscos de verdade em torno dos filhos.

Pegue, por exemplo, a questão da palavra “segurança” nos campi. “Segurança” é uma palavra usada para suprimir a liberdade de expressão. Como no caso da frase “Se teremos um palestrante conservador no campus, precisamos de um “local seguro” onde podemos evitar a sensação incômoda de sermos expostos a ideias das quais não gostamos”.

Um palestrante conservador vai ao campus e alguns alunos vão a um “local seguro” onde podem brincar com massinha, ganham chocolate quente e têm animais de pelúcia à sua disposição. Não estou brincando. É o que eles fazem em algumas faculdades — para pessoas maiores de idade.

Foi por isso que eu e Adam Caroll batizamos nosso filmes sobre liberdade de expressão de “No Safe Spaces” [Sem locais seguros].

“Segurança” se tornou uma palavra suja. Eu raramente a uso quando falo sobre viver a vida. É por isso que sou feliz e vivo uma vida plena.

Estou pensando num exemplo trivial, mas a vida é cheia de exemplos triviais. A maior parte da vida não é composta por acontecimentos importantes. Se estou num restaurante e minha faca ou garfo caem no chão, pego e os uso. Eles correm para trocar meus utensílios como se eu estivesse flertando com a morte por pegar o garfo do chão.

Minha opinião é a de que as pessoas não têm razão para trocar meu talher. O garfo caiu no chão. Com o que ele está contaminado — difteria? Vou ter câncer no pâncreas por causa de um garfo que caiu no chão? Não me importo com essas coisas.

A “segurança” vai acabar com sua alegria de viver.

Aos 21 anos, fui enviado à União Soviética para levar itens religiosos contrabandeados para judeus soviéticos e para voltar de lá com o nome de judeus que queriam fugir do país.

Não era seguro. Eu estava num Estado totalitário e fazendo contrabando. Mas foi uma das coisas mais importantes que fiz na vida. Sem falar no fato de ter sido algo que me mudou.

Antes da viagem, contei meus planos ao meu pai. Nós dois sabíamos que não era seguro. Jamais me esquecerei do que o meu pai disse: “Dennis, passei dois anos e meio num navio durante a Segunda Guerra Mundial, lutando no Pacífico. Então você vai conseguir correr riscos durante um mês”.

Sim, ele estava preocupado. Mas meu pai era um homem que, apesar de ter esposa e filhos, se alistou na Marinha para lutar na Segunda Guerra Mundial. Ele era oficial num navio de transporte de tropas, alvo preferencial dos japoneses. Ele não estava seguro.

A geração da Segunda Guerra Mundial é chamada de “a maior geração de todos os tempos”. Em parte, o que os torna grandes era o fato de eles jamais se perguntarem se uma coisa é ou não segura o bastante.

Se você pretende viver uma vida plena e boa, não pode ficar se perguntando se algo é ou não seguro o bastante. As pessoas nas faculdades que promovem “locais seguros” têm medo da vida, e querem que você também tenha medo da vida.

Estamos enlouquecendo com essa coisa de segurança. A segurança está orientando as políticas de Estado. O que me preocupa é que, em nome da segurança, muitos norte-americanos estão ignorando outras questões.

A questão da segurança não deveria ser um elemento tão amplo da sua vida. Pegue o garfo do chão. Limpe-o e o use.

PS: A imprensa esquerdista citou minha fala sobre o garfo (fielmente transcrita acima) para me humilhar e macular minha mensagem.

O Daily Beast escreveu uma manchete maliciosa: “Dennis Prager lambe garfos sujos para mostrar à Covid-19 quem é que manda”. E o Daily Mail me atacou com essa manchete: “O radialista de direita Dennis Prager se orgulha de usar garfos sujos em sua mais recente mensagem menosprezando o coronavírus que já matou 88 mil americanos”.

Dennis Prager é colunista do Daily Signal, radialista e criador da PragerU.

© 2020 Daily Signal. Publicado com permissão. Original em inglês

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