Não forme sua opinião sobre políticas públicas nem acerte seu relógio moral pelo mais novo filme de super-heróis. Há algumas falhas. Mas, primeiro, a boa notícia: parabéns para a subsidiária da Disney Corporation, Marvel Studios. Apesar da promessa feita no início do ano pelo presidente da Marvel Studios, Kevin Feige, de que o estúdio (cada vez mais politicamente correto) daria seu Grande Salto Woke, e do cumprimento parcial na forma de uma bomba de bilheteria chamada “Os Eternos”, “Homem-Aranha: Sem Volta para Casa” estreou há algumas semanas e não dá sinais de wokismo. E, com mais de US$ 1,1 bilhão na bilheteria em todo o mundo, definitivamente não vai fracassar.
Isso não quer dizer que não tenham tentado. O Daily Wire informou que Marisa Tomei, que interpretou a tia May na franquia atual, fez lobby para que sua personagem fosse lésbica. Aparentemente, o amor ao dinheiro não é apenas a raiz de todos os males; também pode ser a raiz de ideias idiotas. Tia May não é um guia moral tão bom no filme atual, mas pelo menos não aprendemos nada sobre seus apetites sexuais.
Em vez de pregar ou esfregar na sua cara a típica sinalização de virtude LGBT+, o novo filme permite que o espectador deguste agradavelmente sua pipoca enquanto desfruta do que tornou o Universo Cinematográfico da Marvel ótimo, em primeiro lugar: humor, ação e a sensação de que o estúdio não odeia seus próprios fãs.
Peter Parker/Homem-Aranha de Tom Holland é a figura deliciosamente tonta e desajeitada que todos amamos, interrompendo o Dr. Estranho de Benedict Cumberbatch incessantemente enquanto este tenta tecer um feitiço para que todos esqueçam o que o malvado Mystério (Jake Gyllenhaal) havia revelado no filme anterior, “Homem-Aranha: Longe de Casa”: a identidade secreta do Homem-Aranha.
A cena bem-humorada é o gatilho para um distúrbio no multiverso, trazendo os supervilões adversários do Homem-Aranha de vários universos paralelos (também conhecidos como franquias anteriores do Homem-Aranha). Isso nos dá a oportunidade de experimentar ação e humor, pois o Homem-Aranha precisa caçar e aprisionar essas figuras para que o Dr. Estranho possa enviá-las de volta para seus próprios universos.
É também a oportunidade de recompensar os fãs encantados por encontrar todos os antigos vilões: o Duende Verde de Willem Dafoe, o Electro de Jamie Foxx, o Homem Areia de Thomas Haden Church, o Doutor Octopus de Alfred Molina e o Lagarto de Rhys Ifans. O Homem-Aranha de Tom Holland acaba não sendo páreo para essas figuras, então somos brindados com um combo de fan service: a aparição de Tobey Maguire e Andrew Garfield, Homens-Aranhas desses universos/séries paralelos, para ajudar a combatê-los. É um bom momento divertido com muitas cenas de ação que culminam em uma luta maravilhosa ao redor da Estátua da Liberdade.
Não quero revelar muitos detalhes, mas direi que no final todos se divertem. Exceto, suponho, aqueles rabugentos que se contentam apenas em destruir os universos cinematográficos de outras pessoas. Este não é um grande filme, mas um passatempo que proporciona uma agradável diversão.
Mesmo assim, porém, e correndo o risco de ser um conservador chato e estraga-prazeres, devo registrar os problemas com a bússola moral do filme. É justo, afinal. Há mais formas de se estar errado do que fazer lobby gay e mais maneiras de se desviar do caminho do que se tornar woke. Pode-se objetar que, se é apenas diversão, por que reclamar de um pouco de escapismo? Mas, como Tolkien observou, julgamos o bem do escapismo se ele simplesmente nos ajuda a escapar por alguns momentos do fardo de nossos deveres ou se nos ajuda a escapar para sempre das ideias de nossa época que nos aprisionam.
Os problemas com “Homem-Aranha: Sem Volta para Casa”, como se poderia esperar de um filme sobre heróis e vilões, estão na natureza do combate ao mal e na própria natureza do mal. O primeiro podemos chamar de problema do ativismo perfeccionista progressista, enquanto o segundo é o problema do mal como externalidade.
O primeiro problema podemos considerar menos grave, já que muitos enredos de aventura começam com a estupidez febril da juventude sendo levada à ação pela simpatia dos adultos. Aquele feitiço do Dr. Estranho que, com as hilárias interrupções de Holland/Parker, é feito para fazer todos esquecerem que Peter Parker e Homem-Aranha são a mesma pessoa, mas acaba importando supervilões de universos paralelos para causar estragos na vida do protagonista, foi lançado por causa dos problemas enfrentados por Parker para entrar em uma universidade de primeira linha. Está certo. Embora ele não seja culpado, e os policiais não o acusem, o assassinato que Mysterio tentou atribuir a ele no último filme, todo esse caos de multiversos ocorre porque Holland/Parker, sua namorada MJ (a séria e bela Zendaya) e seu melhor amigo Ned Leeds (o carismático Jacob Batalon) estão sofrendo com a má fama e... Tendo problemas para entrar no MIT.
Se Holland/Parker não é culpado do assassinato, podemos pelo menos dizer que ele deveria passar um pouco de tempo na prisão com Lori Loughlin, Felicity Huffman e outras celebridades indiciadas após a investigação do Varsity Blues? Tudo o que essas pessoas do mundo real fizeram foi falsificar alguns resultados de testes e,r, pagar algumas taxas de admissão, treinadores e reitores para colocar seus filhos na faculdade. Parker/Holland convenceu o Dr. Estranho a tentar um feitiço perigoso que acaba liberando supervilões que causam milhões de dólares de prejuízo e, sem dúvida, derramam um pouco de sangue em sua fúria pela cidade de Nova York.
Como eu disse, não quero dar muita importância para isso. Adolescentes fazem coisas estúpidas e tudo mais. Mas fica pior. Dr. Estranho percebe o quão ridículo foi o acordo com Parker (dado que a crise é por conta de admissões na faculdade e os amigos de Parker nem sequer apelaram da decisão do MIT antes de concordar com uma magia poderosa envolvendo controle da mente) e então descobre o que seu feitiço fez. Com raiva, ele manda Holland/Parker capturar os supervilões para que ele possa despachá-los para seus universos de origem, evitando os problemas usuais dos quadrinhos de alterar a estrutura da realidade.
Depois de capturar esses personagens e colocá-los em prisões de campo de força sob a mansão de Estranho, no entanto, Holland/Parker descobre que os supervilões reunidos foram arrebatados para seu próprio universo antes de estarem prestes a lutar contra seus próprios Homens-Aranha e morrer. Depois de recuperar o problemático Norman Osborne/Duende Verde da instituição de caridade para a qual tia May trabalha, Holland/Parker imagina um plano para, através da química ou da computação, “curar” todos os vilões reunidos. Quando o Dr. Estranho diz a ele, sensatamente, que esta é uma ideia estúpida, Holland/Parker rouba a caixa contendo o feitiço com o qual os supervilões devem ser despachados e leva Estranho em uma perseguição que acaba com mago preso na Dimensão do Espelho. Ele então deixa os vilões reunidos fora de suas celas e os leva para o apartamento de seu amigo para trabalhar nas curas. Como você pode imaginar, isso não dá muito certo e temos muito mais destruição antes do filme terminar.
Que exemplo perfeito de um ativista perfeccionista progressista. Como um dos promotores públicos financiados por Soros, Holland/Parker vai deixar os bandidos soltos para fazer um pouco de trabalho social e neuropsiquiatria neles. Ele vai resolver as causas básicas, veja você. Em outro mundo, especialmente um universo cinematográfico, pode ser diferente, mas esse tipo de ativismo no nosso mundo não apenas leva a muitas batalhas legais feitas no computador, mas a muita miséria. Por aqui, esse tipo de pensamento leva a números recordes de assassinatos, como mais de uma dúzia de cidades nos Estados Unidos – incluindo minha própria St. Paul, Minnesota – alcançaram em 2021, cerca de duas semanas antes da data de lançamento do filme em dezembro.
Esse problema de como lidar com o mal não é, no entanto, o pior problema do filme. Essa honra vai para a noção do que torna as pessoas más, para começar. Holland/Parker, sem saber muito sobre essas figuras de seus universos paralelos, determina com base nas histórias ouvidas que todos eles apenas são supervilões por causa dos acidentes, involuntários ou autoinduzidos, que lhes deram seus poderes em primeiro lugar. Assim, com a ajuda dos outros dois Homens-Aranha, tudo o que ele precisa fazer é encontrar soluções químicas ou tecnológicas para essas figuras e forçá-las a tomar a cura. E aí elas serão boas.
Ah, se fosse tão fácil. Mas tem sido uma tentação particular de nossa época acreditar que o mal não é uma questão de vontade, mas uma peculiaridade da química do cérebro que pode ser gerenciada por tecnologia ou pílulas. John Henry Newman descreveu essa tentação em seus ensaios de 1841 que compõem a série “The Tamworth Reading Room”. Ele observou o erro de “acreditar que nossa verdadeira excelência não vem de dentro, mas de fora; não forjado por meio de lutas e sofrimentos pessoais, mas seguindo uma exposição passiva a influências sobre as quais não temos controle”.
Não tenho dúvidas de que alguns que cometem crimes são insanos, mas o que garante que, libertos, digamos, do poder da eletricidade ou do poder da areia, Max Dillon/Electro ou Flint Marko/Homem de Areia não vão querer exercer poder sobre os outros novamente? A história de Marko era, afinal, a de um criminoso que ganhou superpoderes – sua vontade já era corrupta. E embora Dillon só tenha se voltado para o crime depois de cair em um tonel de enguias elétricas, sua própria rebelião contra a cura de Parker neste filme mostra que a carga que ele recebe do poder sobre os outros não depende da eletricidade.
Não me entenda mal. Gostei da ação tanto quanto qualquer um, mas não pude deixar de sorrir quando minha filha de dez anos me disse: “o Homem-Aranha e sua tia May causaram todos os seus próprios problemas”. Chesterton diz que podemos viver sem literatura, mas não sem histórias. A razão para defender Robin Hood e Homem-Aranha é que eles nos ensinam lições básicas sobre a estrutura moral da vida de maneira divertida e fantástica. “Homem-Aranha: Sem Volta para Casa” evita a mais óbvia de nossas mentiras contemporâneas sobre a realidade, mas também pinta uma compreensão falha do mal, tanto sobre como se deve lutar contra ele de forma prudente quanto na forma como ele está intimamente ligado a nós, humanos.
© 2021 The Imaginative Conservative. Publicado com permissão. Original em inglês.
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