Ouça este conteúdo
Um tipo de aprendizado ou formação de memórias que antes se pensava ser exclusivo dos neurônios no cérebro pode ser encontrado em outros órgãos do corpo, afirma um estudo publicado na quinta-feira (7) na revista científica Nature Communications.
“O nosso estudo mostra que outras células do corpo podem aprender e formar memórias, também”, afirmou Nikolay Kukushkin, neurocientista da Universidade de Nova York e principal autor.
A pesquisa partiu de um fenômeno conhecido para o aprendizado neuronal e cerebral: o efeito do espaçamento. Tendemos a reter informações com mais eficiência se elas forem entregues em intervalos espaçados em vez de uma única sessão intensa. É por isso que alunos que estudam para a prova de última hora se lembram menos do conteúdo depois, e quem assiste séries de TV em uma única sentada também tem dificuldades de recontar os detalhes.
Os cientistas aplicaram esse princípio a duas linhagens celulares, uma das quais tem origem nos rins. As células foram expostas a padrões diferentes de sinais químicos em intervalos. Em resposta, as células, que não são neurônios, ligaram um “gene da memória” que é o mesmo utilizado pelos neurônios quando detectam um padrão nos estímulos que recebem e reformulam as conexões entre si — que têm sido consideradas a morada física das memórias.
As células renais foram modificadas para produzir uma molécula que emite um brilho verde quando estimulada, o brilho indicava o momento em que o gene da memória era ligado ou desligado.
Os resultados mostram que essas células conseguiam determinar quando os pulsos químicos eram repetidos em vez de prolongados. Os pulsos são como o aprendizado espaçado, os prolongamentos são como o estudo de última hora. As células em cultura ligavam o gene da memória de uma forma mais intensa quando havia o espaçamento.
“Isso mostra que a capacidade de aprender a partir da repetição espaçada não é exclusiva das células do cérebro”, disse Kukushkin. “Na verdade, essa pode ser uma propriedade fundamental de todas as células”.
“A descoberta abre portas para entender como a memória funciona e poderia levar a formas melhores de estimular o aprendizado e tratar problemas de memória”, afirmou o especialista. “Ao mesmo tempo, sugere que no futuro precisaremos tratar o nosso corpo mais como tratamos o cérebro — por exemplo, considerar as lembranças do nosso pâncreas sobre o padrão das nossas refeições passadas para manter níveis saudáveis de açúcar no sangue, ou considerar as memórias de uma célula cancerosa sobre o padrão da quimioterapia”.